Clarificação política rumo a mais turbulência

Depois de duas semanas de jogos florentinos, a política portuguesa entra num período que, desejavelmente, levará a uma clarificação sobre quem vai governar Portugal nesta legislatura.

O tempo da política não deve ser submetido de forma acrítica ao calendário económico. Mas, num país que acabou de sair de uma situação de total falta de credibilidade, a política também não deve ignorar os riscos financeiros. Há um Orçamento do Estado para apresentar e há, sobretudo, a necessidade de assentar a poeira e estabilizar expectativas de empresários, famílias e investidores em dívida da República.

A clarificação é um encargo sobretudo para o PS liderado por António Costa. Já se percebeu que não haverá acordo à direita, mas falta saber se o PS consegue um acordo suficientemente estável à sua esquerda para poder derrubar o Governo (atenção às eventuais abstenções de deputados socialistas...) e apresentar uma solução em Belém que caiba dentro das exigências que Cavaco Silva tem margem para fazer cumprir.

A avaliar pelos obstáculos, o cenário central parece apontar para a ausência de um acordo com PCP e Bloco e, assim, para um Governo minoritário da coligação PSD/CDS. As fintas das últimas semanas sugerem que este é um cenário sujeito a alguma incerteza. Mais seguro de prever é isto: seja para que lado pender a clarificação, governo minoritário à esquerda ou à direita, é difícil esperar, no contexto actual, que a legislatura chegue ao fim - e que todas as lideranças partidárias sobrevivam a esse período.

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Diário Económico