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Mensagem por Admin Qua Out 28, 2015 12:14 pm

Há governo e não é mau. Mesmo antes de ser aberto (os governos são como os melões) vê-se e sente-se o pico do sabor. É um governo para o que der e vier, sendo certo que o mais certo é durar pouco. Como governo, mas não como embrião de uma frente para o combate político.

Até ao que vier e tendo em conta as circunstâncias em que foi construído, o segundo governo de Pedro Passos Coelho é um bom governo.

Começa por ser sério na construção. Quem queria sair, saiu. E saíram ministros com competência e valor, Paula Teixeira da Cruz, Paulo Macedo, Miguel Poiares Maduro, António Pires de Lima. Difíceis de substituir numa lógica de capacidade técnica e experiência política adquiridas ao longo de um processo de ajustamento financeiro violento e com uma inquestionável perda de liberdade política.

Teria sido preferível esticar a corda e iludir as aparências mantendo estes ministros no governo? Talvez, numa perspectiva de faz de conta, dando uma ideia falsa de coesão e de destino além do previsível. Fez bem Passos Coelho e os seus ex-ministros ao aceitar e provocar o previsível: a esquerda não resistiu a catalogar negativamente o governo, numa argumentação pobre e inconsistente.

Percebe-se que António Costa continue a falar de tempo perdido para satisfazer a sofreguidão da esquerda. Tem sentido, numa estratégia que começa por envolver o Bloco e PCP numa teia de cumplicidades para, mais tarde, seduzir a direita num plano de chamamento nacional. Costa é um livro aberto, mesmo para aqueles que confessadamente desiludiu: a viagem começa na agitação de um mar chão para desaguar numa onda que enrola a areia num mar chão.

Foi assim no governo mole de Guterres, no espaço conflituoso de Sócrates, na turbulência pacificadora de Lisboa, na provocação à chefia do partido. António Costa é tão competente quanto perverso, numa avaliação política que só pode ser positiva.

Tem sido no exercício destes pressupostos que construiu uma carreira reconhecida e uma expectativa que rompeu o perímetro do seu aquário político de sempre. É assim que vai chegar à chefia do governo, aproveitando-se da fragilidade circunstancial do Partido Comunista contra uma arrogância histriónica do Bloco. Veremos como António Costa prepara uma saída para o que se afigura inconciliável no tempo e na acção.

É provável, pois, que o Presidente se veja obrigado a render-se a um acordo de interesses que legitima um governo de esquerda que arregimenta o PS, o PCP e o Bloco. Mas que também altera (em definitivo?) o desenho político e o compromisso partidário que consolidou quatro décadas de sistema democrático. Será necessariamente mau? Depende da forma como a direita reagir a esta mudança. Para início de conversa, o núcleo duro do governo ameaça estar na primeira linha do combate político.

00:06 h
Raul Vaz
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