Rio fechado

Sonhava com um túnel, mais duas pontes, três, contando com a pedonal, tudo a esventrar o rio Douro, por cima e por baixo. O povo acordou-o, felizmente. O Grande Porto, Gaia, em particular, livrou-se dos delírios urbanísticos de Luís Filipe Menezes, mas sobra sempre alguma coisa, além de uma dívida recordista na Autarquia. 

Percebe-se agora, a marginal gaiense vai levar com uns prédios daqueles que já não se usam, dos que acotovelam a ligação ao rio, mesmo em cima do local que costuma receber o festival de música Marés Vivas. Elton John cantará, em 2016, noutro sítio qualquer, não vem daí mal ao Mundo, triste mesmo é que, quando pensávamos que tínhamos escapado à escavadora de Luís Filipe Menezes, aparece nova erupção de cimento em zona nada recomendável. 

São prédios grandinhos, sete, oito pisos, ao bom jeito do ex-autarca, que mesmo retirado do palco político consegue, com o seu legado, abandalhar a paisagem. Sou dos que acreditam na força do povo e, no caso de Menezes, o povo tratou de o mandar para casa, quando este concorreu à Câmara do Porto. Talvez com medo de, um dia, apenas ser possível ver o rio do alto do teleférico de Gaia, a troco de cinco euros, que nem todos podem pagar.

JORNALISTA

28.11.2015
VÍTOR SANTOS
Jornal de Notícias