Planeta em risco

Há três meses, o mundo ficou em choque com as notícias de que a Volkswagen tinha instalado nos seus carros um software que falsificava os níveis de emissões ilegais. Em vez de investir num sistema menos poluente, pagou por uma tecnologia que enganava os inspetores quando testassem os gases poluentes emitidos pelos carros. 

Quando o esquema foi descoberto, o presidente da construtora demitiu-se, dizendo-se chocado com a revelação - acabando por assumir mais tarde que sabia de tudo. O escândalo escalou e alastrou-se dos Estados Unidos para o Brasil e para a Europa, com vários países a proibir as vendas durante semanas. E depois da Volkswagen para outras marcas do grupo, chegando à Seat, à Audi, atingindo milhões de carros. Foi anunciado o período mais difícil da história da marca, escreveu-se sobre as décadas que seriam necessárias para recuperar do escândalo mundial - se isso fosse de facto possível. A confiança no grupo caiu a pique e as vendas acompanharam a descida: no mês passado, foram menos 25% de carros vendidos. Curiosamente, este efeito limitou-se aos Estados Unidos e ao Reino Unido. 

Em Portugal, Espanha, França ou Itália, a Volkswagen continuou a crescer em vendas - com a ajuda das condições extraordinárias que a marca tem oferecido a quem compre os seus carros. Se o problema fosse nos travões, a história talvez fosse diferente, mas um pouco de poluição a mais não é competição para um bom desconto ou um motor potente. O que este caso revela é que os problemas ambientais não são ainda um assunto realmente relevante para a maioria de nós. Os líderes mundiais podem discutir sobre alterações climáticas e lutar contra o aquecimento global, as empresas podem tentar reduzir a sua pegada no mundo, mas enquanto o ambiente não for uma preocupação real, enquanto não nos apercebermos todos do que está aqui em causa, o planeta vai continuar em risco.

Editorial
07 DE DEZEMBRO DE 2015
00:01
Joana Petiz
Diário de Notícias