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Mensagem por Admin Qua Dez 16, 2015 12:21 am

Antes do acordo ser anunciado na COP-21, os líderes mundiais acotovelavam-se em declarações festivas sobre tudo o que viria ser e sobre os louros pessoais. Espelho das alterações climáticas, Obama salientava a importância da "liderança americana" como o gancho que alfinetou o acordo em trajes históricos e David Cameron assegurava o futuro do planeta pelas suas palavras. A euforia atingia temperaturas altíssimas. É indiscutível que o texto é um belíssimo compromisso teórico sobre o futuro, procurando conter o aquecimento global em 1,5o, abaixo de níveis pré-industriais. Mas o impacto da presença de mais de 150 líderes mundiais comprometidos numa solução não é uma via verde. Há até quem não queira saber ou não emita opinião, limitando-se a ligar o aquecedor. Numa viagem que seria certamente bem mais importante do que aquela que Cavaco Silva fez à Madeira (sem visitar sequer uma dependência do Banif, pasme-se...) em período de reflexão sobre tudo o que já sabia sem ter dúvidas, o presidente preferiu alhear-se de uma causa fundamental dos nossos dias. Talvez porque a dimensão do problema não lhe aqueça nem arrefeça.

Pedro Passos Coelho também não esteve fisicamente em Paris, embora o seu nome constasse de documentos oficiais. O ex-primeiro-ministro teve o cuidado notável de, a seu tempo, não se inscrever para falar durante a cimeira. Mas servindo o seu interesse próprio mais quente do que o interesse do país, tratou de nada tratar, não inscrevendo Portugal no lote dos países que poderiam usar da palavra. E, assim, o recém-chegado António Costa teve de entrar mudo e sair calado. É notável a dimensão do nossos ex e futuro ex-estadista: Cavaco Silva marca a sua falta a vermelho depois de Passos Coelho expulsar António Costa da sala. Claramente, apanhados pelo clima.

Agora que a temperatura desce em Portugal Continental, alguns partidos com assento parlamentar continuam a comportar-se como ilhas. Longe da idade do gelo e mais perto de forjar a ferro e fogo, o nível de agressividade latente da minoria de Direita para com a maioria de Esquerda não se dissipa e, se há acordo, é sobre a total e absoluta ausência de clima. As questões de justiça ambiental estão intrinsecamente ligadas às questões de justiça social, pelo que nenhuma força política deverá ser um obstáculo à colocação das questões ambientais no coração das políticas fiscais das finanças públicas. Convém que as actuais "forças de bloqueio" percebam que há mais mundo para além do microcosmos que ainda aquece a sua ideia de Parlamento.

* MÚSICO E ADVOGADO

O autor escreve segundo a antiga ortografia

16.12.2015
MIGUEL GUEDES
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