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Combater o brexit com o medo é um tiro que vai sair pela culatra
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Combater o brexit com o medo é um tiro que vai sair pela culatra
Até há pouco tempo havia um argumento semirracional a favor de uma saída britânica da União Europeia. Era o seguinte: já tinha havido, há muito tempo, uma versão do brexit, quando o Reino Unido decidiu não aderir ao euro e ao espaço Schengen, as áreas mais avançadas da integração europeia. A saída formal do Reino Unido da UE seria simplesmente o finalizar de algo que começou há muito. Este argumento deixou de ser válido, não porque esteja errado, mas porque os factos mudaram.
O afluxo de refugiados para a Alemanha e os ataques terroristas em França puseram um fim efetivo ao espaço Schengen. Os controlos fronteiriços nacionais foram restabelecidos em muitos sítios.
É também mais claro agora do que era há 12 meses que a zona euro não se vai transformar numa união federal. Ela irá atingir o máximo da sua integração política e económica num ponto não muito diferente do atual.
Os procedimentos de supervisão e de resolução para os bancos são mais rigorosos, mas não haverá uma união bancária. Também não haverá uma união orçamental. O euro, na verdade, degenerou num sistema de taxa de câmbio fixa. David Cameron, primeiro-ministro britânico, tem razão em insistir na ideia de uma união multimoedas como uma descrição precisa para o sistema monetário da UE.
Assim, num ambiente onde os dois principais projetos de integração se estão a desmoronar, não há simplesmente nenhum argumento racional para o brexit.
Infelizmente, isso não vai necessariamente aumentar a probabilidade de o Reino Unido votar pela permanência na UE. Mesmo se considerarmos o fracasso da zona euro e de Schengen, tem havido, nos últimos 20 anos, um processo de separação e de alienação mútuas entre a Grã-Bretanha e os outros países europeus.
Esse facto foi-me recordado recentemente num debate no Kings College, em Londres. A agenda oficial era o futuro da Itália na União Europeia. Mas o público conseguiu rapidamente transformar isso numa discussão sobre o brexit. Cerca de metade da sala parecia estar a favor de deixar a UE. E essas pessoas eram visivelmente mais veementes e emocionais do que as que defendiam a permanência.
Algumas semanas antes, eu tinha assistido a uma outra conferência num ambiente muito mais rarefeito, onde não havia um único apoiante do brexit à vista. Todos pareciam concordar que a única maneira de a campanha pela permanência ganhar seria a utilização de argumentos económicos utilitaristas sobre o comércio e o mercado único europeu e, até mesmo, assustar os eleitores.
Ao analisar conjuntamente estas duas reuniões vejo que a campanha pela permanência corre o risco de perder o referendo, por utilizar as táticas erradas. Uma campanha baseada puramente no medo é um tiro que vai sair pela culatra.
Os referendos pertencem à categoria de riscos políticos difíceis de calcular. O meu conselho seria o de desconfiar de qualquer pessoa que faça uma previsão baseada nas sondagens ou nalguma análise supostamente profunda do carácter nacional.
Há uma previsão mais limitada que estou disposto a fazer: o processo não vai vacilar em Bruxelas. O desacordo substancial entre a Grã--Bretanha e os seus parceiros da UE não é, pela bitola dos conflitos europeus, tecnicamente complicado. O Sr. Cameron quer restringir o fluxo de refugiados através de uma regra que passa por reter durante quatro anos os benefícios de trabalho para as pessoas recém-chegadas da UE. As instituições europeias e um grande número de Estados membros consideram essa regra como uma violação das leis da União.
Há, felizmente, várias formas tecnicamente viáveis de contornar isto. Se Bruxelas é boa em alguma coisa é a resolver disputas legalmente incómodas. Os Estados membros podem, por exemplo, utilizar a residência como um fator de discriminação, ligar os pagamentos de benefícios às contribuições passadas ou invocar circunstâncias excecionais. Se se quiser manter alguém do lado de fora, há maneiras de o fazer. Enquanto o Sr. Cameron quiser um acordo, ele vai garantir que o acordo a obter seja mais do que satisfatório.
Mas, mesmo assim, está longe de ser um dado adquirido que um acordo favorável à Grã-Bretanha seja capaz de persuadir a mudar de ideias qualquer um dos apoiantes altamente empenhados do brexit que eu encontrei. Eles não parecem importar-se muito com benefícios sociais ligados ao trabalho. Eles sentem-se desiludidos com a UE num sentido muito mais amplo - principalmente em termos da sua própria segurança económica pessoal.
Na sua perspetiva individual, pode muito bem ser racional votar pela saída. Mas eu já não consigo ver uma argumentação racional pró-brexit para o Reino Unido como um todo.
A globalização e a integração europeia deram origem a perdedores, incluindo no Reino Unido. No entanto, no geral, o país não perdeu - ou, se perdeu, deixar a UE não iria corrigir o problema. Se a Grã-Bretanha votar pela saída, não se pode excluir o risco de instabilidade macroeconómica: uma crise da libra, uma queda nos preços da habitação ou outro referendo escocês.
É verdade que isto é também um pouco de argumentação pelo medo. Mas qualquer eleitor racional vai querer entender tanto os riscos como as oportunidades. Um argumento potencialmente atrativo é o de que uma votação decisiva pela permanência pode permitir ao país preencher um vácuo político que foi aberto por uma zona euro disfuncional e pelo desaparecimento de Schengen.
O Reino Unido pode tornar-se um líder na Europa. Pode vir a ser a oportunidade diplomática de uma geração.
21 DE DEZEMBRO DE 2015
00:45
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
O afluxo de refugiados para a Alemanha e os ataques terroristas em França puseram um fim efetivo ao espaço Schengen. Os controlos fronteiriços nacionais foram restabelecidos em muitos sítios.
É também mais claro agora do que era há 12 meses que a zona euro não se vai transformar numa união federal. Ela irá atingir o máximo da sua integração política e económica num ponto não muito diferente do atual.
Os procedimentos de supervisão e de resolução para os bancos são mais rigorosos, mas não haverá uma união bancária. Também não haverá uma união orçamental. O euro, na verdade, degenerou num sistema de taxa de câmbio fixa. David Cameron, primeiro-ministro britânico, tem razão em insistir na ideia de uma união multimoedas como uma descrição precisa para o sistema monetário da UE.
Assim, num ambiente onde os dois principais projetos de integração se estão a desmoronar, não há simplesmente nenhum argumento racional para o brexit.
Infelizmente, isso não vai necessariamente aumentar a probabilidade de o Reino Unido votar pela permanência na UE. Mesmo se considerarmos o fracasso da zona euro e de Schengen, tem havido, nos últimos 20 anos, um processo de separação e de alienação mútuas entre a Grã-Bretanha e os outros países europeus.
Esse facto foi-me recordado recentemente num debate no Kings College, em Londres. A agenda oficial era o futuro da Itália na União Europeia. Mas o público conseguiu rapidamente transformar isso numa discussão sobre o brexit. Cerca de metade da sala parecia estar a favor de deixar a UE. E essas pessoas eram visivelmente mais veementes e emocionais do que as que defendiam a permanência.
Algumas semanas antes, eu tinha assistido a uma outra conferência num ambiente muito mais rarefeito, onde não havia um único apoiante do brexit à vista. Todos pareciam concordar que a única maneira de a campanha pela permanência ganhar seria a utilização de argumentos económicos utilitaristas sobre o comércio e o mercado único europeu e, até mesmo, assustar os eleitores.
Ao analisar conjuntamente estas duas reuniões vejo que a campanha pela permanência corre o risco de perder o referendo, por utilizar as táticas erradas. Uma campanha baseada puramente no medo é um tiro que vai sair pela culatra.
Os referendos pertencem à categoria de riscos políticos difíceis de calcular. O meu conselho seria o de desconfiar de qualquer pessoa que faça uma previsão baseada nas sondagens ou nalguma análise supostamente profunda do carácter nacional.
Há uma previsão mais limitada que estou disposto a fazer: o processo não vai vacilar em Bruxelas. O desacordo substancial entre a Grã--Bretanha e os seus parceiros da UE não é, pela bitola dos conflitos europeus, tecnicamente complicado. O Sr. Cameron quer restringir o fluxo de refugiados através de uma regra que passa por reter durante quatro anos os benefícios de trabalho para as pessoas recém-chegadas da UE. As instituições europeias e um grande número de Estados membros consideram essa regra como uma violação das leis da União.
Há, felizmente, várias formas tecnicamente viáveis de contornar isto. Se Bruxelas é boa em alguma coisa é a resolver disputas legalmente incómodas. Os Estados membros podem, por exemplo, utilizar a residência como um fator de discriminação, ligar os pagamentos de benefícios às contribuições passadas ou invocar circunstâncias excecionais. Se se quiser manter alguém do lado de fora, há maneiras de o fazer. Enquanto o Sr. Cameron quiser um acordo, ele vai garantir que o acordo a obter seja mais do que satisfatório.
Mas, mesmo assim, está longe de ser um dado adquirido que um acordo favorável à Grã-Bretanha seja capaz de persuadir a mudar de ideias qualquer um dos apoiantes altamente empenhados do brexit que eu encontrei. Eles não parecem importar-se muito com benefícios sociais ligados ao trabalho. Eles sentem-se desiludidos com a UE num sentido muito mais amplo - principalmente em termos da sua própria segurança económica pessoal.
Na sua perspetiva individual, pode muito bem ser racional votar pela saída. Mas eu já não consigo ver uma argumentação racional pró-brexit para o Reino Unido como um todo.
A globalização e a integração europeia deram origem a perdedores, incluindo no Reino Unido. No entanto, no geral, o país não perdeu - ou, se perdeu, deixar a UE não iria corrigir o problema. Se a Grã-Bretanha votar pela saída, não se pode excluir o risco de instabilidade macroeconómica: uma crise da libra, uma queda nos preços da habitação ou outro referendo escocês.
É verdade que isto é também um pouco de argumentação pelo medo. Mas qualquer eleitor racional vai querer entender tanto os riscos como as oportunidades. Um argumento potencialmente atrativo é o de que uma votação decisiva pela permanência pode permitir ao país preencher um vácuo político que foi aberto por uma zona euro disfuncional e pelo desaparecimento de Schengen.
O Reino Unido pode tornar-se um líder na Europa. Pode vir a ser a oportunidade diplomática de uma geração.
21 DE DEZEMBRO DE 2015
00:45
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