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Mensagem por Admin Dom Jan 03, 2016 12:05 pm

Têm sido publicados muitos artigos de opinião sobre os jornais e o tormento que atravessamos. A crise financeira que todos os dias asfixia um pouco mais a imprensa, mas que também afeta outras áreas da economia, tem destas coisas: o que falta em leitores dispostos a pagar é compensado por um exército de especialistas cheios de certezas e muitas opiniões, algumas delas certas, outras revelando desconhecimento. Mas estando os jornais no negócio da crítica, isto é, fazendo também da análise o seu modo de vida, seria ridículo confundir a árvore com a floresta. 

O problema dos jornais não resulta certamente do diagnóstico errado. Resulta, como já foi dito um milhão de vezes, do modelo de negócio - oferecer em vez de cobrar -, do rombo das receitas que isto provoca todos os anos com a inevitável erosão da qualidade (menos jornalistas, menos meios, menos capacidade para procurar informação em primeira mão) e da distorção/confusão/medo que tudo isto provoca. Como é possível manter e atrair talento para uma indústria em emagrecimento acelerado? Portugal lidera este processo destrutivo por vários motivos. 

Comparando com outros países desenvolvidos, por questões culturais sempre se leu pouco e, por isso, o fim sempre esteve mais perto. Não sendo este o espaço para tentar explicar o que estamos a fazer para evitar esse desfecho - e os leitores terão notado algumas diferenças, para melhor, no Diário de Notícias -, sobra um ponto que poucas vezes tem sido referido, apesar da sua magna importância. O desaparecimento dos jornais e as dificuldades crescentes refletem-se numa fiscalização cada vez pior dos poderes públicos e privados. No caso das empresas, que pouco investem em publicidade, a questão coloca-se de forma muito prática: elas encontram cada vez menos jornalistas conhecedores do seu trabalho e dos seus mercados. Por exemplo, jornalistas de banca em Portugal há, na verdade, apenas dois (dois!) com saber acumulado para perceber e aprofundar os assuntos como eles exigem; e na energia serão apenas uns quatro os repórteres preparados. 

A incerteza informativa que temos vivido nos últimos anos também se explica por isto. As empresas ainda não perceberam que pior do que ter sempre um bom jornalista à perna todos os dias é ter umas dezenas deles impreparados quando surge um problema grave que tem mesmo de ser esclarecido - sob pena de danos irrecuperáveis na reputação. O papel dos media é, entre outros, o de criar um campo de jogo equilibrado (level playing field), que ofereça aos melhores mais oportunidades de triunfar, expondo os que são piores ou maus através do método jornalístico. É isto que está em perigo de acabar, sem que haja alternativa. Aqui, no DN, não nos resignamos. Estamos (jornalistas, administradores e acionistas) à procura do caminho possível no meio da tempestade perfeita.

Editorial
03 DE JANEIRO DE 2016
00:01
André Macedo
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