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O 2016 económico: optimismo e sete riscos
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O 2016 económico: optimismo e sete riscos
Preço do petróleo afeta resultados
Se me perguntassem há seis meses como iria ser 2016 para a economia portuguesa, a resposta seria optimista.
O programa da troika tinha acabado há um ano, com bastante sucesso. Um novo governo estava a caminho, com novas ideias e mais espaço para pensar e actuar para além do enfoque no défice público. A economia crescia e a taxa de desemprego descia há quase três anos seguidos. A economia está mais aberta, com mais sectores exportadores e mais pessoas expostas aos mercados internacionais e convencidas que é preciso competir no exterior para crescer. Parte deste optimismo, é certo, vinha da esperança em vez dos factos. A economia portuguesa já não cresce desde o início do século. São 15 longos anos. Temos de recuar mais de cem anos para encontrar episódio semelhante na nossa história, entre 1899 e 1921. (Está visto que Portugal dá-se mal com as mudanças de século.)
Dentro dos países da OCDE desde 1970, nenhum teve uma performance económica pior que a portuguesa, empatado no desonroso último lugar com a Itália dos últimos 15 anos. O nosso país tem de começar a crescer de novo, e muito em breve, para ter futuro. Apesar destas razões e desta esperança, é defeito de economista olhar para os riscos que podemos antecipar. São sete os principais, três com origem interna, dois vindos da Europa, e dois do resto do mundo.
1. Recuo da internacionalização da economia. O peso das exportações na nossa economia é hoje mais alto do que nunca, tendo crescido de 30% para 40% do PIB entre 2010 e 2014. Ao mesmo tempo, comparando com outras economias europeias de tamanho semelhante, na Bélgica e na Holanda o peso das exportações está acima de 80%, e na Dinamarca é 54%. Ainda há muito caminho a percorrer. Olhando para a retirada em banda do porto de Lisboa, para a reversão das concessões dos transportes públicos, ou para as ameaças aos novos donos da TAP, o clima nas relações externas da economia arrefeceu. Ainda nada está perdido, mas manter a nossa economia competitiva e aberta à concorrência exige um esforço permanente. Uma reversão neste processo de abertura não viria com um grande estrondo, mas é talvez o risco mais importante para o nosso crescimento económico sustentado.
2. O sistema financeiro português. Já há cinco anos que escrevo que o sistema financeiro em Portugal está fundamentalmente em maus lençóis. Não era preciso ter informação privilegiada para ver que um modelo de negócio baseado em hipotecas a taxas LIBOR mais spreads pequenos, numa vasta rede de balcões, e em empréstimos avultados a empresas protegidas nos sectores não-transaccionáveis não conseguia sobreviver à estagnação económica e ao choque da crise da dívida portuguesa. Preocupante tem sido a resposta inconsistente ao desafio.
As soluções para o BPP, BPN, BES, e Banif foram todas radicalmente diferentes. Em parte, isto justifica-se porque os problemas eram diferentes, e o contexto regulatório mudou muito com a união bancaria. Mas a enorme incerteza sobre como iremos lidar com o próximo problema num banco, ligada à fraqueza de ainda várias instituições financeiras, é uma fonte de grande risco. Sem bancos com balanços limpos dos pecados do passado, o crédito para os novos projectos não vai surgir e a economia não pode arrancar.
3. O controlo dos gastos públicos. Num mundo ideal, Portugal chegava a 2016 com a despesa pública total em ordem.
O novo governo podia substituir os cortes mais cegos ou as opções mais discutíveis do último governo por medidas mais ajuizadas ou eficazes, sempre sem alterar a despesa total. No mundo real, o acordo político que permite a formação de governo implica compromissos para aumentar a despesa. Por sua vez, a situação política não parece permitir que se encare de frente o desafio fundamental das finanças públicas: os gastos com os salários e sobretudo com as pensões públicas não são comportáveis com a nossa economia estagnada, e só uma reforma do Estado pode parar este “monstro”.
4. A Grexit. Pode já não estar nas notícias, mas a situação na Grécia não está muito melhor do que há 6 meses atrás.
A Grécia continua com um pé fora do euro, pois continua com controles de capital e limites nos levantamentos dos depósitos bancários. O cenário mais provável é ainda a saída da Grécia da zona euro, provavelmente já em 2016.
Nessa altura, serão postos à prova quer o apoio do BCE ao nosso país, quer o nosso compromisso com o projecto europeu.
5. A Brexit. Ao contrário da Grexit, a saída do Reino Unido da União Europeia não afectaria especialmente Portugal dentro da Europa, nem exigiria uma resposta difícil nossa. No entanto, para o futuro da União, seria um desastre.
Não só porque sem o bom senso e a tradição ingleses a moderar o dirigismo estatal da Europa central, arriscamo-nos a ter uma Europa com mais troikas, mais regras inflexíveis e custosas, e menos diversidade e tolerância.
Mas sobretudo porque a Brexit teria um grande efeito nas eleições presidenciais francesas de 2017 onde, por enquanto, a Frente Nacional é a favorita. Não devemos ter ilusões: se Marine Le Pen for eleita, a União Europeia acaba.
6. A morte lenta da economia angolana. Na última década, Portugal tem beneficiado da vontade dos capitalistas angolanos que querem investir parte do seu capital longe de África. Os recursos para este investimentos vinham de uma economia em expansão apoiada extensivamente no sector do petróleo. Com o preço do barril a mínimos históricos já há dois anos e sem sinal de subir, a economia angolana está a sofrer uma morte lenta.
A economia portuguesa provavelmente consegue lidar com a paragem do influxo de capital angolano, mas se este resvala para um refluxo, será um choque em muitos sectores.
7. O fim do dinheiro barato chinês. Não é fácil prever o que vai acontecer à economia chinesa. No entanto, parece claro que o seu sector financeiro passou por uma bolha de crédito barato e capital abundante nos últimos anos que, depois do crash dos últimos meses, não vai voltar. Perdendo-se esta fonte de capital juntamente com o capital angolano, e sem grandes substitutos à vista, Portugal terá de contar com as exportações para pagar a sua enorme dívida externa. Voltamos por isso ao meu primeiro ponto, provavelmente o mais importante de todos.
Faz parte da natureza dos riscos que os mais graves são os mais inesperados. Mas aconteça o que acontecer, o objectivo não pode falhar: 2016 tem de ser um ano de viragem para a nossa economia.
Ricardo Reis 02.01.2016 / 00:00
Dinheiro Vivo
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