Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 417 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 417 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
A multiplicidade de crises na Europa não é acidental
Página 1 de 1
A multiplicidade de crises na Europa não é acidental
Ao entrarmos na segunda metade da segunda década do século observamos a existência de três linhas divisórias dentro da UE. Uma divide o Norte próspero do Sul endividado. Uma segunda separa uma franja eurocética de um centro europeísta. Uma terceira situa-se entre um Ocidente socialmente liberal e um Leste cada vez mais autocrático. Este é um cenário de desintegração e de fratura.
É difícil fazer previsões específicas para 2016. Há, evidentemente, muitos riscos conhecidos. Um referendo britânico sobre a permanência na UE. O fluxo constante de refugiados. O agravamento dos desequilíbrios económicos. A crise na Grécia. O quase insolvente sistema bancário italiano e tensões iminentes entre a Alemanha e os países periféricos da zona euro sobre a política orçamental. Uma onda de terrorismo jihadista. A incerteza política em Espanha e em Portugal. A crise na Ucrânia, ainda longe de estar resolvida. O escândalo das emissões Volkswagen, que se desvaneceu nas consciências, mas corre o risco de minar um dos pilares remanescentes da força industrial do continente.
Com tantas crises a acontecer em simultâneo, acho que é mais útil olhar para o cenário no seu todo - para o risco sistémico que não surge de uma qualquer crise em particular, mas do enfrentar tantas delas ao mesmo tempo.
Depois de se recuar um pouco, a multiplicidade de crises começa a parecer menos acidental. Se se criar uma união monetária sem instituições económicas, políticas orçamentais e sistemas jurídicos comuns, é certo que se acaba com um desastre. Da mesma forma, uma zona de livre circulação sem uma guarda costeira e controlos de fronteiras comuns não pode durar.
Existe aqui um padrão. A UE tem uma tendência inata para entendimentos podres e construções que só funcionam em tempo de bonança. Nada de fundamental mudou no ano passado, exceto o facto de este problema se ter tornado evidente para muito mais gente.
A rutura, quando chegar, poderá ainda chocar-nos. Mas ela também oferece oportunidades. Eu penso que o maior erro que a UE poderia cometer seria continuar como até aqui. É mais provável que as grandes mudanças venham a ser forçadas diretamente pelos eleitorados - através de um referendo, como o que terá lugar em breve no Reino Unido - do que pelos políticos e diplomatas. O processo da UE tem a tendência para evitar deslocamentos bruscos. As coisas só se desmoronarão quando a pressão das capitais nacionais se tornar demasiado forte.
Existe o perigo de que isso possa provocar a desintegração descontrolada. Mas há boas hipóteses de os líderes políticos da Europa terem a sensatez suficiente para seguir em frente com um espírito construtivo. Uma votação no Reino Unido favorável à saída do país da UE pode, a longo prazo, provocar uma mais ampla transformação da UE num grupo interno de países que procuram uma integração mais profunda, e num grupo externo, em que a Grã-Bretanha e outros países se sintam perfeitamente confortáveis.
Uma rutura na zona euro, que eu ainda estou à espera de que aconteça a qualquer momento, também oferece a oportunidade de um realinhamento mais amplo. A partir do momento em que se pensar no euro como um sistema de taxa de câmbio fixa com uma moeda comum, em oposição a uma união monetária irreversível, o nevoeiro levantar-se-á.
Tal sistema só poderia funcionar entre um pequeno número de países com economias em grande parte convergentes. A Áustria e a Alemanha mantiveram uma taxa de câmbio quase fixa desde os anos 1970. Por que não poderiam continuar a fazê-lo por mais 50 anos? A França e a Alemanha mantiveram uma taxa de câmbio maioritariamente fixa, desde a década de 1980. Porque haveriam agora de acabar em lados diferentes de uma taxa de câmbio?
A argumentação em defesa de uma maior integração económica e política entre a Alemanha e a França continua a ser fundamentalmente forte - muito mais forte do que a questão da integração política e económica de uma União Europeia onde alguns países partilham uma moeda única e outros não têm qualquer intenção de se lhes juntar.
Nunca houve uma lógica convincente no argumento de que um mercado único implica uma moeda única. Mas a lógica inversa é bastante convincente. Os países com uma moeda única exigem uma integração muito mais profunda do mercado do que aqueles que mantêm a sua moeda própria. Se aceitarmos a UE como uma união que contém várias moedas, como deveríamos fazer agora, teremos de aceitar que ela não é um mercado único, mas um conjunto de mercados discretos.
Além da fragmentação económica, a Europa está ficar politicamente dividida entre o Leste e o Ocidente. Tanto a Hungria como a Polónia elegeram governos eurocéticos de direita. Ambos os países reduziram a independência do poder judicial e a liberdade de imprensa. Já há algum tempo que penso que o alargamento da União não foi a grande oportunidade histórica que foi anunciada, mas um erro histórico. O alargamento contribuiu para as divisões da Europa e tornou a UE disfuncional.
Por isso, eu vejo a fragmentação e a rutura não como ameaças a serem evitadas, mas como uma oportunidade para ser aprovei-tada. A minha expectativa para 2016 é a de que vamos assistir a mais ruturas. A minha esperança é que elas vão ser sabiamente geridas.
04 DE JANEIRO DE 2016
00:05
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
É difícil fazer previsões específicas para 2016. Há, evidentemente, muitos riscos conhecidos. Um referendo britânico sobre a permanência na UE. O fluxo constante de refugiados. O agravamento dos desequilíbrios económicos. A crise na Grécia. O quase insolvente sistema bancário italiano e tensões iminentes entre a Alemanha e os países periféricos da zona euro sobre a política orçamental. Uma onda de terrorismo jihadista. A incerteza política em Espanha e em Portugal. A crise na Ucrânia, ainda longe de estar resolvida. O escândalo das emissões Volkswagen, que se desvaneceu nas consciências, mas corre o risco de minar um dos pilares remanescentes da força industrial do continente.
Com tantas crises a acontecer em simultâneo, acho que é mais útil olhar para o cenário no seu todo - para o risco sistémico que não surge de uma qualquer crise em particular, mas do enfrentar tantas delas ao mesmo tempo.
Depois de se recuar um pouco, a multiplicidade de crises começa a parecer menos acidental. Se se criar uma união monetária sem instituições económicas, políticas orçamentais e sistemas jurídicos comuns, é certo que se acaba com um desastre. Da mesma forma, uma zona de livre circulação sem uma guarda costeira e controlos de fronteiras comuns não pode durar.
Existe aqui um padrão. A UE tem uma tendência inata para entendimentos podres e construções que só funcionam em tempo de bonança. Nada de fundamental mudou no ano passado, exceto o facto de este problema se ter tornado evidente para muito mais gente.
A rutura, quando chegar, poderá ainda chocar-nos. Mas ela também oferece oportunidades. Eu penso que o maior erro que a UE poderia cometer seria continuar como até aqui. É mais provável que as grandes mudanças venham a ser forçadas diretamente pelos eleitorados - através de um referendo, como o que terá lugar em breve no Reino Unido - do que pelos políticos e diplomatas. O processo da UE tem a tendência para evitar deslocamentos bruscos. As coisas só se desmoronarão quando a pressão das capitais nacionais se tornar demasiado forte.
Existe o perigo de que isso possa provocar a desintegração descontrolada. Mas há boas hipóteses de os líderes políticos da Europa terem a sensatez suficiente para seguir em frente com um espírito construtivo. Uma votação no Reino Unido favorável à saída do país da UE pode, a longo prazo, provocar uma mais ampla transformação da UE num grupo interno de países que procuram uma integração mais profunda, e num grupo externo, em que a Grã-Bretanha e outros países se sintam perfeitamente confortáveis.
Uma rutura na zona euro, que eu ainda estou à espera de que aconteça a qualquer momento, também oferece a oportunidade de um realinhamento mais amplo. A partir do momento em que se pensar no euro como um sistema de taxa de câmbio fixa com uma moeda comum, em oposição a uma união monetária irreversível, o nevoeiro levantar-se-á.
Tal sistema só poderia funcionar entre um pequeno número de países com economias em grande parte convergentes. A Áustria e a Alemanha mantiveram uma taxa de câmbio quase fixa desde os anos 1970. Por que não poderiam continuar a fazê-lo por mais 50 anos? A França e a Alemanha mantiveram uma taxa de câmbio maioritariamente fixa, desde a década de 1980. Porque haveriam agora de acabar em lados diferentes de uma taxa de câmbio?
A argumentação em defesa de uma maior integração económica e política entre a Alemanha e a França continua a ser fundamentalmente forte - muito mais forte do que a questão da integração política e económica de uma União Europeia onde alguns países partilham uma moeda única e outros não têm qualquer intenção de se lhes juntar.
Nunca houve uma lógica convincente no argumento de que um mercado único implica uma moeda única. Mas a lógica inversa é bastante convincente. Os países com uma moeda única exigem uma integração muito mais profunda do mercado do que aqueles que mantêm a sua moeda própria. Se aceitarmos a UE como uma união que contém várias moedas, como deveríamos fazer agora, teremos de aceitar que ela não é um mercado único, mas um conjunto de mercados discretos.
Além da fragmentação económica, a Europa está ficar politicamente dividida entre o Leste e o Ocidente. Tanto a Hungria como a Polónia elegeram governos eurocéticos de direita. Ambos os países reduziram a independência do poder judicial e a liberdade de imprensa. Já há algum tempo que penso que o alargamento da União não foi a grande oportunidade histórica que foi anunciada, mas um erro histórico. O alargamento contribuiu para as divisões da Europa e tornou a UE disfuncional.
Por isso, eu vejo a fragmentação e a rutura não como ameaças a serem evitadas, mas como uma oportunidade para ser aprovei-tada. A minha expectativa para 2016 é a de que vamos assistir a mais ruturas. A minha esperança é que elas vão ser sabiamente geridas.
04 DE JANEIRO DE 2016
00:05
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
Tópicos semelhantes
» Crises e tempestades na costa oeste da Europa
» Crises económicas e a crise da Economia
» A "catedral do consumo" que resistiu a todas as crises destes 30 anos
» Crises económicas e a crise da Economia
» A "catedral do consumo" que resistiu a todas as crises destes 30 anos
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin