Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 163 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 163 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
O que custa mudar
Página 1 de 1
O que custa mudar
Atentado aos Jerónimos, mamarracho do cavaquistão, sorvedouro de dinheiro, obra faraónica, chamaram-lhe de tudo. Mas o Centro Cultural de Belém nasceu. Não foi só conversa de café; houve mesmo movimentos organizados contra a construção do "bunker" que acolheria a programação especial da presidência portuguesa da então CEE.
Muitas pessoas inteligentes arrasaram o projeto de Vittorio Gregotti e Manuel Salgado. Mas o governo liderado por Cavaco Silva não cedeu e o tempo encarregou-se de provar errados os novos velhos do Restelo, enquanto o CCB se tornava uma referência cultural inegável de Lisboa. Apesar da especial dureza das críticas, o CCB está longe de ser caso único. A construção da Casa da Música no Porto, a reabilitação da Doca de Santo em Lisboa, a revitalização das zonas ribeirinhas de norte a sul... nada disto se fez sem contestação. Se há coisa em que os portugueses são coerentes é na forma como preferem um mal conhecido a algo que desconhecem, independentemente dos benefícios que lhes possa trazer. É o que vemos uma vez mais, agora com a oposição de cidadãos, taxistas e pilotos de aviões (outros ainda hão de saltar de indignação) a que a 2.ª Circular seja transformada numa espécie de alameda civilizada. Ninguém disse que os carros deixariam de poder entrar em Lisboa ou que para fazê-lo teriam de viver um cenário de horror tipo Avenida Paulista - há caminhos alternativos. Mas a ideia de pôr árvores a filtrar os fumos dos escapes e o ruído dos motores dos mais de cem mil carros que todos os dias passam por ali é coisa que incomoda.
Faz lembrar o homem pré-histórico imaginado pelo jornalista Roy Lewis que conta a história em Porque Comi o Meu Pai. Atormentado pela ideia de extinção caso o homem não evoluísse rapidamente, o seu pai, Edward, foi desafiando os hábitos da tribo - trocou a casa na árvore por uma caverna, aqueceu-a com pedras vulcânicas até descobrir como fazer fogo, pôs cada homem da família a fazer o que sabia melhor, em vez de desempenharem todos as mesmas tarefas. Em cada descoberta encontrou a oposição do irmão e do filho Ernst, que acaba por encontrar uma forma definitiva de pôr fim aos impulsos do pai. Quanto a nós, que felizmente já não vivemos na Pré-História, ainda não conseguimos evitar esta resistência irracional à mudança. As obras na 2.ª Circular não vão ser um milagre capaz de acabar com todos os males da cidade. Mas são um passo no caminho certo - mesmo com os obstáculos que certamente ali surgirão.
Editorial
13 DE JANEIRO DE 2016
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias
Muitas pessoas inteligentes arrasaram o projeto de Vittorio Gregotti e Manuel Salgado. Mas o governo liderado por Cavaco Silva não cedeu e o tempo encarregou-se de provar errados os novos velhos do Restelo, enquanto o CCB se tornava uma referência cultural inegável de Lisboa. Apesar da especial dureza das críticas, o CCB está longe de ser caso único. A construção da Casa da Música no Porto, a reabilitação da Doca de Santo em Lisboa, a revitalização das zonas ribeirinhas de norte a sul... nada disto se fez sem contestação. Se há coisa em que os portugueses são coerentes é na forma como preferem um mal conhecido a algo que desconhecem, independentemente dos benefícios que lhes possa trazer. É o que vemos uma vez mais, agora com a oposição de cidadãos, taxistas e pilotos de aviões (outros ainda hão de saltar de indignação) a que a 2.ª Circular seja transformada numa espécie de alameda civilizada. Ninguém disse que os carros deixariam de poder entrar em Lisboa ou que para fazê-lo teriam de viver um cenário de horror tipo Avenida Paulista - há caminhos alternativos. Mas a ideia de pôr árvores a filtrar os fumos dos escapes e o ruído dos motores dos mais de cem mil carros que todos os dias passam por ali é coisa que incomoda.
Faz lembrar o homem pré-histórico imaginado pelo jornalista Roy Lewis que conta a história em Porque Comi o Meu Pai. Atormentado pela ideia de extinção caso o homem não evoluísse rapidamente, o seu pai, Edward, foi desafiando os hábitos da tribo - trocou a casa na árvore por uma caverna, aqueceu-a com pedras vulcânicas até descobrir como fazer fogo, pôs cada homem da família a fazer o que sabia melhor, em vez de desempenharem todos as mesmas tarefas. Em cada descoberta encontrou a oposição do irmão e do filho Ernst, que acaba por encontrar uma forma definitiva de pôr fim aos impulsos do pai. Quanto a nós, que felizmente já não vivemos na Pré-História, ainda não conseguimos evitar esta resistência irracional à mudança. As obras na 2.ª Circular não vão ser um milagre capaz de acabar com todos os males da cidade. Mas são um passo no caminho certo - mesmo com os obstáculos que certamente ali surgirão.
Editorial
13 DE JANEIRO DE 2016
00:00
Joana Petiz
Diário de Notícias
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin