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É um exagero mas continuamos assim
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É um exagero mas continuamos assim
"Mas só uma teimosia divertida pode levar-nos, ao fim de duzentos anos, a querer refazer a história "do desembarque do Mindelo" e a contar espingardas a propósito da Maria da Fonte".
Na semana passada, com a abundância de chuva, as paredes do casarão de granito precisaram de ser limpas – a minha sobrinha aproveitou para mandar limpar a cópia do velho óleo, levando-o mais uma vez para Braga, e entregando-o aos cuidados de um artesão respeitável (imagino o que deve sentir uma eleitora do Bloco de Esquerda transportando o retrato do príncipe).
Essa deposição do retrato, durante uma semana (já lá está de novo, entregue à penumbra do casarão e à frialdade de janeiro), não me levou a interrogar o destino mas, apenas, a querer saber por que razão os Homem não se adaptaram totalmente aos novos tempos. Creio que a razão é puramente emocional. Há, certamente, um fundo de razão nas escolhas políticas, no manuseamento da economia, ou em matéria de coisas mais terrenas; mas só uma teimosia divertida pode levar-nos, ao fim de duzentos anos, a querer refazer a história "do desembarque do Mindelo" e a contar espingardas a propósito da Maria da Fonte ou da campanha do senhor marquês de Chaves contra a República.
Tradição. Atribuo tudo isso à tradição e a um certo equilíbrio do espírito. Os meus sobrinhos raramente se interessam por minudências letais para qualquer alma deste século, mas sabem de que lado estão quando se fala no "episódio de Évora Monte", nos discursos de Acúrcio das Neves ou na demagogia de Afonso Costa – e sabem que "os liberais" desembarcaram na Praia dos Ladrões e não no Mindelo.
Quando, nos idos da década de cinquenta, parti para o Brasil (uma temporada de três meses e meio), a Tia Benedita ficou em cuidados. A pobre senhora não conhecia o deslumbramento de Copacabana. Mas sabia (para ela continuava a não existir Ipiranga) que D. Pedro passara por lá. E, na hora da despedida, em Ponte de Lima, antes de eu fechar a derradeira mala, murmurou qualquer coisa sobre "o usurpador", como se a minha inocência de fim de juventude pudesse ser contagiada pelo "perigo liberal" só de avistar os arvoredos de Petrópolis. Era um exagero, cento e tal anos depois. Mas continuamos assim.
24.01.2016 00:30
ANTÓNIO SOUSA HOMEM
Correio da Manhã
Na semana passada, com a abundância de chuva, as paredes do casarão de granito precisaram de ser limpas – a minha sobrinha aproveitou para mandar limpar a cópia do velho óleo, levando-o mais uma vez para Braga, e entregando-o aos cuidados de um artesão respeitável (imagino o que deve sentir uma eleitora do Bloco de Esquerda transportando o retrato do príncipe).
Essa deposição do retrato, durante uma semana (já lá está de novo, entregue à penumbra do casarão e à frialdade de janeiro), não me levou a interrogar o destino mas, apenas, a querer saber por que razão os Homem não se adaptaram totalmente aos novos tempos. Creio que a razão é puramente emocional. Há, certamente, um fundo de razão nas escolhas políticas, no manuseamento da economia, ou em matéria de coisas mais terrenas; mas só uma teimosia divertida pode levar-nos, ao fim de duzentos anos, a querer refazer a história "do desembarque do Mindelo" e a contar espingardas a propósito da Maria da Fonte ou da campanha do senhor marquês de Chaves contra a República.
Tradição. Atribuo tudo isso à tradição e a um certo equilíbrio do espírito. Os meus sobrinhos raramente se interessam por minudências letais para qualquer alma deste século, mas sabem de que lado estão quando se fala no "episódio de Évora Monte", nos discursos de Acúrcio das Neves ou na demagogia de Afonso Costa – e sabem que "os liberais" desembarcaram na Praia dos Ladrões e não no Mindelo.
Quando, nos idos da década de cinquenta, parti para o Brasil (uma temporada de três meses e meio), a Tia Benedita ficou em cuidados. A pobre senhora não conhecia o deslumbramento de Copacabana. Mas sabia (para ela continuava a não existir Ipiranga) que D. Pedro passara por lá. E, na hora da despedida, em Ponte de Lima, antes de eu fechar a derradeira mala, murmurou qualquer coisa sobre "o usurpador", como se a minha inocência de fim de juventude pudesse ser contagiada pelo "perigo liberal" só de avistar os arvoredos de Petrópolis. Era um exagero, cento e tal anos depois. Mas continuamos assim.
24.01.2016 00:30
ANTÓNIO SOUSA HOMEM
Correio da Manhã
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