O lago que mudou a paisagem do Alentejo

Com plano para arrancar no final da década dos anos 60, o projeto da barragem do Alqueva arrancou três décadas depois e a sua conclusão só terminaria em 2002. Nasceu assim o maior lago artificial da Europa que tem como objetivo alimentar a zona seca do Alentejo e produzir energia elétrica. A barragem abriu também as portas para vários projetos turísticos como vela, pesca recreativa e até a possibilidade de alugar uma casa-flutuante no meio do lago.

O projeto da construção da barragem de Alqueva começou a ser discutido em 1968 com a celebração do Convénio Luso-Espanhol para utilização dos rios internacionais. Mas foi só no ano de 1975 que se obteve a aprovação do Conselho de Ministros para avançar com a construção. Ao total, o projeto de Alqueva teve mais de trinta anos a ser discutido com toda a veemência que estes grandes investimentos, por norma, suscitam. Este longo período que decorreu entre os primeiros estudos e a construção da barragem, tornaram o “Alqueva” quase um mito entre a população. Recorde-se que o projeto inicial tinha como objetivo irrigar o Alentejo e desenvolver a agricultura, o que permitiria combater a desertificação e o subdesenvolvimento da região.

As obras realmente ditas só começaram em 1998 depois de uma série de peripécias que levaram ao atraso da obra. Quatro anos mais tarde a parede de betão ficou encerrada. A subida das águas do Guadiana alagou terrenos e alguns sítios históricos, previamente estudados, e as depressões foram engolidas pela água e as colinas transformaram-se em ilhas. Acabara de nascer o maior reservatório artificial de água da Europa. Tudo com o objetivo de criar uma vasta zona de regadio, de abastecimento público e, simultaneamente, para produção de energia elétrica. A paisagem modificou-se para sempre.


Um lugar novo para a Luz

Com a construção da barragem de Alqueva, a antiga aldeia da Luz ficaria submersa pelas águas. Foram necessários vários estudos e consultas populares para se optar pela construção de uma nova aldeia onde foram realojados os habitantes. Foi então construída uma nova aldeia, situada a cerca de três quilómetros da velha povoação, para onde se mudaram todos os 423 habitantes da Luz em 2002.

Após vários anos de avanços e recuos as obras ficam concluídas em janeiro de 2002. No dia 8 de fevereiro, do mesmo ano, fecharam-se as comportas e iniciou-se o enchimento da albufeira do Alqueva. Esta grandiosa obra, localizada no coração do Alentejo e inserida na bacia hidrográfica do Rio Guadiana, está desde então a formar o maior lago artificial da Europa.

Ao total a barragem tem uma albufeira com 250 km², mais de 1100kms de margens e abrange 5 concelhos do Alentejo: Portel, Moura, Reguengos de Monsaraz, Mourão e Alandroal, e ainda os municípios raianos de Olivença, Cheles, Alconchel e Villanueva del Fresno. Hoje em dia é a maior reserva de água do país. A capacidade de produção elétrica começou por ser de 260MW, o suficiente para fornecer o distrito de Beja, tendo a potência sido duplicada em 2012 para 520MW com dois grupos geradores reversíveis, que deverão produzir anualmente 381 gigawatts hora (GWh). Em outubro de 2012, entrou em serviço o reforço de potência da barragem de Alqueva, constituído por uma nova central com dois grupos geradores reversíveis, com 130 MW de potência cada um, duplicando a potência instalada da barragem. Também diversas infraestruturas do sistema global encontram-se já construídas (a barragem de Pedrógão, infraestrutura 12, Aldeia da Luz) e muitas outras em fase avançada de projeto.

No início do ano de 2015, repartidos entre investimentos públicos e privados, o projeto de regadio de Alqueva mobilizou já €4 mil milhões, a que se irão juntar mais €1000 milhões até 2020, nomeadamente potenciados pelos apoios da Comissão Europeia. Quanto ao impacto no mercado de trabalho, entre empregos criados de forma direta e induzidos indiretamente pelos projetos desenvolvidos em Alqueva, a empresa encarregue deste projeto estima que se possa estar no patamar dos 20 mil postos de trabalho.


Uma aposta no turismo

O projeto de Alqueva provocou ainda profundas alterações na paisagem e pretende criar na região novas oportunidades e potencialidades. Os grandes objetivos principais são o de constituir uma reserva estratégica de água, garantir o abastecimento de água ao público, produzir energia elétrica amiga do ambiente, promover o desenvolvimento agrícola e apostar no desenvolvimento do turismo de recreio e lazer. São estas as novas possibilidades de desenvolvimento turístico que se juntam agora ao Grande Lago, uma região que já conta com uma longa história, patente no seu rico património arquitetónico, arqueológico e cultural. As atividades ao ar livre como a pesca desportiva e utilização como zona balnear; ou os passeios na natureza, a observação de aves, a navegação recreativa a remo, à vela e a motor são atividades cada vez com maior expressão na região. 

Uma das grandes apostas do turismo foi a criação de um alojamento original e único em Portugal: uma casa que flutua, na barragem de Alqueva, em 2015, com o nome de casa FloatWing. Esta ideia partiu do consórcio entre três empresas portuguesas e pelo ITeCons, entidade do Sistema Científico e Tecnológico. A Constálica (empresa de pré-fabricação metálica com experiência em aproveitamento de energia solar), a Amorim Isolamentos (especialista em sistemas de isolamento com cortiça) e a Friday, um spin-off da Universidade de Coimbra que participou no desenvolvimento do conceito e elaboração do projeto técnico. 

17/02/16
Mundo Português.org