Ainda a TAP: o exemplo acabado do centralismo

Muita tinta tem corrido nas últimas semanas a propósito do "assunto TAP". A decisão da transportadora de suprimir quatro rotas de e para o Porto será causadora de danos vários à economia do Porto e do Norte (e uma entorse ao desenvolvimento nacional), desde logo a nível económico-financeiro, já que muitas das empresas desta região do país utilizam a TAP quase como um comboio suburbano, ligando quotidianamente a periferia (Portugal) aos centros de decisão na Europa.

A deliberação da Autoridade Nacional de Aviação Civil, impondo "um conjunto de medidas cautelares" à TAP e à PGA, no âmbito do processo de privatização, "até que seja proferida uma decisão final no quadro do mesmo procedimento", vem dar razão à Associação Comercial do Porto. Em tempo oportuno, chamámos a atenção para o modo como foi decidida esta suspensão e para as dúvidas acerca do modelo organizativo da própria TAP. É necessário não deixar esmorecer este tema, quanto mais não seja por uma questão de clarificação de todo o processo e até que entidades independentes do poder político se pronunciem.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, tem sido uma das principais vozes a nível nacional a insurgir-se contra este cenário de deslocalização de voos para Lisboa. Mas, felizmente, não está só nesta empreitada. Também os agentes económicos e políticos da região, bem como as populações, têm levantado a voz e ajudado a manter este assunto na agenda. Compete-nos a todos, sem exceção, os que lutam por um país sem assimetrias regionais, mais competitivo e de cara virada para a Europa, fazer com que as decisões de âmbito nacional não sejam tomadas nos corredores de S. Bento, de costas para as pessoas.

Quando este Governo tomou posse, assumiu o compromisso (e bem) de gerir o país tendo em conta as especificidades de cada região, de tomar decisões tendo em conta os superiores interesses das populações locais. As expectativas geradas foram muitas e agora o primeiro-ministro, bem como o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, têm a responsabilidade de cumprir aquela que foi (é) a sua "cartilha" governativa.

A boa gestão da TAP é um desígnio nacional, não só por se tratar de uma companhia de bandeira, mas principalmente por deter capital público. Portugueses residentes, portugueses emigrantes, turistas e homens de negócios que fazem da Região Norte a sua plataforma esperam com natural ansiedade os desenvolvimentos deste tema. Porque as decisões dos políticos devem servir para aproximar as populações e não para dividi-las. Esta é uma causa comum a todos os nortenhos e a todos os portugueses. Por isso, não me cansarei de a defender. Tenho a certeza que esta região também não.

24.02.2016
NUNO BOTELHO
Jornal de Notícias