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Vem aí o pós-capitalismo
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Vem aí o pós-capitalismo
REUTERS
Um jornalista britânico, Paul Mason, argumenta em quase 500 páginas que o capitalismo está enredado num choque com a revolução tecnológica em rede e a sociedade do conhecimento que abrem oportunidades para uma nova economia e política, cuja janela de oportunidade se abre até 2050. O livro de Mason “Pós-Capitalismo – Um guia para o nosso futuro” é lançado em português em março
O capitalismo já não consegue adaptar-se às alterações tecnológicas” dos últimos vinte e cinco anos desde que irrompeu o que batizámos de revolução das tecnologias de informação. A capacidade de adaptação e agilidade que o capitalismo sempre demonstrou desde as entranhas da Idade Média europeia, como se fosse uma espécie darwiniana, “pode ter atingido os seus limites”. Esta constatação coloca uma interrogação sobre o futuro do capitalismo e abre uma oportunidade de transição para algo diferente, que o jornalista britânico Paul Mason, que há pouco mais de um mês fez 56 anos, apelidou de “pós-capitalismo”.
Mason explica essa contradição entre o capitalismo e uma economia global assente na informação num volumoso livro de quase 500 páginas intitulado precisamente “Pós-Capitalismo – Um guia para o nosso futuro”, publicado em julho de 2015 no Reino Unido pela editora Allen Lane e cuja tradução em português será lançada pela Editora Objetiva agora em março. O jornalista e repórter em diversos media britânicos, e em diversas plataformas, da impressa, à televisão e ao digital, junta à argumentação teórica episódios que presenciou. Por isso, o livro não é só um passeio por doutrinas económicas e de economia política, mas também um eco de conhecimento empírico.
PAUL MASON Jornalista da BBC diz que o capitalismo vai dar lugar ao pós-capitalismo
REUTERS
O NEOLIBERALISMO FOI UMA EXPERIÊNCIA FALHADA
A crise financeira de 2008 evolui para “uma crise de ordem mundial” e revelou, diz o autor, que “o neoliberalismo foi uma experiência falhada”. Mason mergulha na história económica dos grandes ciclos longos do capitalismo para colocar a hipótese de que estamos, agora, perante “uma rutura significativa e aparentemente permanente dos padrões que o capitalismo industrial exibiu nos últimos duzentos anos”.
Para se entender o que ele quer dizer é preciso mergulhar nos capítulos do livro onde explica como faz uma “ponte” entre três áreas: os ciclos económicos longos descobertos por um economista russo de nome Nikolai Kondratief, executado por ordem de Estaline por ter revelado a capacidade adaptativa cíclica do capitalismo; a teoria da crise do modo de produção capitalista elaborada por Karl Marx apesar das “suas falhas” e abastardamentos pelos seus sucessores e as ideias percursoras do revolucionário comunista alemão sobre o papel do conhecimento numas notas sobre as máquinas e um “intelecto geral”; e a sociedade pós-capitalista e o trabalhador do conhecimento do pai da gestão austro-americano Peter Drucker.
Para o economista russo Constantin Gurdgiev, professor em Dublin, Mason relaciona diversos aspetos, expõe uma boa argumentação e tira duas conclusões fundamentais no plano económico: “Referindo as conexões entre a fragilidade do sistema financeiro global (a hipótese de financeirização), os desequilíbrios macroeconómicos persistentes, e os níveis elevados de endividamento público e privado, ele expõe duas conclusões chave para descrever o atual estado da economia mundial: um sistema económico baseado na alavancagem que não é mais sustentável e a necessidade de quebrar o sobreendividamento na economia real”.
UM “PLANO ZERO” ALTERNATIVO A DOIS MAUS CENÁRIOS
Num plano mais teórico, a hipótese de Mason é que o “quarto ciclo longo” do capitalismo foi “alongado” vinte anos mais do que o tempo médio dos anteriores ciclos e que essa “anomalia” aponta, pela sua dinâmica, para uma bifurcação, para dois cenários, em que o ponto crítico “pode ser atingido por volta dos anos 2050”.
Um cenário em que “a elite global se mantém” e salva a globalização impondo uma espécie de “capitalismo cognitivo” que sofrerá da tentação de se livrar da democracia (colocando-a quem sabe entre parêntesis ou no congelador) e torna real o risco de consolidação de uma oligarquia. Outro, de “quebra de consenso”, em que a globalização entra em rutura, numa espécie de variante do que ocorreu nos anos 30 do século passado, com a escalada de extremismos, um filme que se conhece, apesar de muita gente não ter memória histórica desse período.
Mason fala de um terceiro caminho, de uma alternativa, em que a janela de oportunidade até 2050 permitiria fazer uma transição para o tal pós-capitalismo e superar três “ruturas sistémicas – a financeira, a climática e a demográfica”. Ele diz que não é utopia: “as formas básicas de uma economia pós-capitalista já existem no interior do atual sistema”.
O que é necessário é criar condições para se expandirem rapidamente. Para isso existem dois “agentes”. Um agente social que é a massa global conectada em rede. O que essa massa pode fazer já o vimos, diz Mason, em ação mais localizada na Primavera Árabe, em Madrid com os Indignados, em Kiev, em Hong Kong. Movimentos que mostraram como é preciso “reconfigurar todo o projeto da esquerda”, o que exige provavelmente “arranjar novos rótulos”. O outro agente é o Estado, um estado que Mason quer que seja “Wiki”, inspirado na Wikipedia, que funcione na base de um projeto distribuído, e não político tradicional.
O autor fala de um “projeto zero” para essa ação política a que junta algumas medidas que assentam como uma luva em alguns temas polémicos atuais.
O “zero” vem de três zeros: um sistema energético com consumo zero de combustíveis de origem fóssil; produção com zero custos marginais; e redução do tempo de trabalho o mais possível a zero, com base na expansão de uma economia automatizada.
Este “projeto zero” passa por algumas medidas mais emblemáticas: socializar o sector energético e o sistema financeiro e em geral os complexos económicos de monopólio; nacionalizar os bancos centrais, com responsáveis eleitos e vigiados, e impondo uma meta explícita de crescimento sustentável e um objetivo de inflação “do lado mais elevado da média recente”; tornar gratuitos os produtos de primeira necessidade e os serviços públicos; instituir um rendimento básico universal garantido pelo Estado; impulsionar um sector privado “o mais extenso possível no mundo não financeiro”, aberto a uma geometria variável apoiada na inovação e admitindo a deslocalização de funções estatais para esse sector; combinar um perdão controlado de algumas dívidas soberanas com uma política global durante 10 a 15 anos de certos controlos de capital (impedindo que as pessoas transfiram dinheiro para investimento não financeiro ou para contas offshore) e de estímulo à inflação.
FRUSTRAÇÃO COM O CAPITALISMO
Para Peter Cohan, colunista da revista “Forbes”, o livro de Mason surge num período em que “há uma frustração crescente com o capitalismo, em que a economia não tem funcionado bem desde o final dos anos 1990”.
Eventos como a subida de um partido considerado radical de esquerda ao poder na Grécia, um país do euro, ou a nova liderança no Partido Trabalhista britânico com Jeremy Corbyn ou a projeção recente do candidato democrático Bernard Sanders nas primárias nos Estados Unidos são sinais dessa mudança de sentimento político.
“Mas creio que o livro falha numa importante fonte de valor – a propriedade intelectual. Já vivemos num capitalismo informacional que permite a cada pessoa explorar oportunidades que casem com a propriedade intelectual que detenham. Quando esse casamento desagua em oportunidades de mercado, os indivíduos podem ganhar”, diz-nos Cohan.
O AUTOR
Paul Mason andou nos anos 1980 por um grupo dissidente trotskista britânico intitulado Workers Power, tornou-se um jornalista independente desde 1991 muito diversificado. Foi editor adjunto da Computer Weekly, lançou a EBusinesse Review, foi editor de economia do programa Newsnight da BBC Two e desde maio de 2014 é o editor de economia do Channel 4 News. Colabora em diversos jornais, como o The Guardian. Publicou, desde 2007, cinco livros. Foi premiado com o Wincott Prize for Business Journalism em 2003, com o Workworld Broadcaster of the Year em 2004 e com o Diageo African Business Reporting Award em 2007.
JORGE NASCIMENTO RODRIGUES
28.02.2016 às 10h00
Expresso
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