Para quem pode

O Ministro da Economia pediu aos portugueses para que não abasteçam os carros em Espanha. Manuel Caldeira Cabral está preocupado. "Espanha tem condições fiscais diferentes" e o ministro concluiu que "isso significa que muitos portugueses estão a pagar impostos em Espanha". "É algo que temos de pedir aos portugueses que não façam", apelou, num apaixonado arroubo patriótico fiscal que deixa embaraçado quem vive junto à fronteira. Pensavam eles que podiam encher o depósito em Espanha, muito mais barato, e dormir descansados? Julgam os portugueses que a União Europeia, a livre circulação de serviços, mercadorias e capitais podem sobrepor-se ao amor ao Fisco nacional?

Tenho de presumir que terá escapado ao ministro da Economia que o seu governo aumentou os impostos sobre os combustíveis. E com um argumento original. Se o preço do petróleo está em queda, então pode-se aumentar a carga fiscal, porque, ao que parece, beneficiar de uma baixa de preços da gasolina até nos podia fazer mal, de tão habituados que estamos a pagar muito. Quem está habituado a pagar poucos impostos em Portugal são as empresas do PSI-20 sediadas na Holanda. O ministro sabe certamente disso e talvez não fosse pior que alguém lhe recomendasse um outro apelo. Para nos fazer esquecer desta deprimente versão da economia moderna que acabou de enunciar: global para quem pode, local para quem deve.

12.03.2016
MIGUEL CONDE COUTINHO
Jornal de Notícias