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O peso da concorrência, em Espanha
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O peso da concorrência, em Espanha
Espanha é, todos o sabemos, um país enorme. É-o geograficamente mas também ferroviariamente: um estudo recente que voltou a ecoar esta semana colocou os nossos vizinhos no topo da lista das melhores redes ferroviárias da Europa. A ocupação de tão grande território é também uma evidente vantagem para os tráfegos de longo curso, sejam de passageiros ou de mercadorias, dado que existem muitos pólos de grande dimensão ao longo de todo o território e espaçados entre si de muitos quilómetros.
Não é por isso uma total surpresa que neste momento estejam autorizados em Espanha nada menos do que 14 operadores ferroviários de transporte de mercadorias, entre via larga e via estreita. Surpresa talvez apenas se considerarmos que a quota modal do caminho-de-ferro era, à data da liberalização deste mercado, inferior a 3%.
Dados de 2013 apontam para um crescimento dessa quota modal para 5,3%. É modesto, mas exibe pelo menos uma tendência num país de enormes empresas de camionagem. No mesmo ano, a Comissão Europeia apontava uma quota modal superior a 12% para Portugal, um país portanto muito mais pequeno e, olhando à ocupação do território, possivelmente mais difícil de ser servido por caminhos-de-ferro, no transporte de mercadorias.
Se Portugal tem apenas dois operadores (Takargo/Comsa e CP Carga), tem ainda outra desvantagem face a Espanha: a sua rede ferroviária. Sendo certo que Espanha tem diversos troços de maior dureza que Portugal (Brañuelas, Pajares, Orduña, Algeciras ou Almeria, só para citar alguns), tem no geral uma rede ferroviária não só mais amiga do transporte de mercadorias (menores rampas, traçados mais rectilíneos) como também muito mais capacidade disponível, fruto dos avultados investimentos em vias novas que libertaram os traçados convencionais para tráfego regional e de mercadorias.
É possivelmente um tema interessante o de estudar comparativamente os mercados de Portugal e Espanha para perceber as razões do que parece ser um paradoxo: o país maior, com mais capacidade disponível na sua rede e com uma concorrência mais feroz ainda não conseguiu ombrear com a performance do país mais pequeno, com constrangimentos de capacidade e com um mercado bipolarizado.
Especulando, porque não pretendo nesta crónica fazer mais do que isso, é interessante comparar desde logo o efeito que a concorrência teve sobre os operadores históricos. À data da liberalização, CP Carga e Renfe Mercancias reestruturaram-se mas escolheram caminhos completamente diferentes. A CP Carga reestruturou-se sobretudo na operação: alguns tráfegos caíram (entre falta de procura e remuneração insuficiente) e racionalizou o parque de material circulante – que é uma fonte de custos muito relevante. A Renfe Mercancias acabou por testar uma divisão em quatro sub-empresas, de acordo com o tipo de tráfego.
Qual foi o efeito? A Renfe Mercancias não conseguiu racionalizar a sua estrutura de produção e, pelo contrário, até abriu caminho a uma menor eficiência. Foi por isso num contexto altamente favorável que mais e mais competidores entraram no mercado Espanhol, fazendo mossa ao operador histórico. Com abordagens comerciais mais atuais e custos de produção mais baixos, os operadores privados espanhóis fizeram uma sangria na Renfe Mercancias que só encontra paralelo na SNCF Fret, em França. Ao mesmo tempo, conseguiram puxar para o caminho-de-ferro novos clientes, o que tem possibilitado aumentar a quota modal.
Se em Portugal a CP Carga desde o início olhou para a eficiência e mostrou os dentes ao mercado, em Espanha a Renfe Mercancias parece ter pensado que a sua posição dominante lhe bastaria para esmagar com alguma facilidade os novos entrantes.
Vem tudo isto a propósito das contas da Renfe, divulgadas por estes dias. A Renfe Mercancias continua a perder volume e faturação, mesmo tendo conseguido uma assinalável redução nos seus custos. A indecisão em torno da estrutura accionista da empresa promete continuar a dificultar o desenvolvimento da empresa e até nisso o caso português é diferente, onde a CP Carga encontrou já novo accionista e se prepara para novos desafios.
Portugal e Espanha são dois países com muito em comum mas onde os casos de estudo são radicalmente diferentes. Há mais concorrência em Espanha e um operador histórico apanhado desprevenido. É muito possível que uma coisa seja resultado da outra. E ainda não foi abordada a entrada da CP Carga no país vizinho…
João Cunha
18 Março, 2016
Portugal Ferroviário
A Comsa é um dos operadores mais importantes de Espanha. Aqui operando um carvoeiro Gijón – Ponferrada.
Não é por isso uma total surpresa que neste momento estejam autorizados em Espanha nada menos do que 14 operadores ferroviários de transporte de mercadorias, entre via larga e via estreita. Surpresa talvez apenas se considerarmos que a quota modal do caminho-de-ferro era, à data da liberalização deste mercado, inferior a 3%.
Dados de 2013 apontam para um crescimento dessa quota modal para 5,3%. É modesto, mas exibe pelo menos uma tendência num país de enormes empresas de camionagem. No mesmo ano, a Comissão Europeia apontava uma quota modal superior a 12% para Portugal, um país portanto muito mais pequeno e, olhando à ocupação do território, possivelmente mais difícil de ser servido por caminhos-de-ferro, no transporte de mercadorias.
Se Portugal tem apenas dois operadores (Takargo/Comsa e CP Carga), tem ainda outra desvantagem face a Espanha: a sua rede ferroviária. Sendo certo que Espanha tem diversos troços de maior dureza que Portugal (Brañuelas, Pajares, Orduña, Algeciras ou Almeria, só para citar alguns), tem no geral uma rede ferroviária não só mais amiga do transporte de mercadorias (menores rampas, traçados mais rectilíneos) como também muito mais capacidade disponível, fruto dos avultados investimentos em vias novas que libertaram os traçados convencionais para tráfego regional e de mercadorias.
É possivelmente um tema interessante o de estudar comparativamente os mercados de Portugal e Espanha para perceber as razões do que parece ser um paradoxo: o país maior, com mais capacidade disponível na sua rede e com uma concorrência mais feroz ainda não conseguiu ombrear com a performance do país mais pequeno, com constrangimentos de capacidade e com um mercado bipolarizado.
Especulando, porque não pretendo nesta crónica fazer mais do que isso, é interessante comparar desde logo o efeito que a concorrência teve sobre os operadores históricos. À data da liberalização, CP Carga e Renfe Mercancias reestruturaram-se mas escolheram caminhos completamente diferentes. A CP Carga reestruturou-se sobretudo na operação: alguns tráfegos caíram (entre falta de procura e remuneração insuficiente) e racionalizou o parque de material circulante – que é uma fonte de custos muito relevante. A Renfe Mercancias acabou por testar uma divisão em quatro sub-empresas, de acordo com o tipo de tráfego.
Na via estreita há dois operadores: Feve e Euskocargo.
Qual foi o efeito? A Renfe Mercancias não conseguiu racionalizar a sua estrutura de produção e, pelo contrário, até abriu caminho a uma menor eficiência. Foi por isso num contexto altamente favorável que mais e mais competidores entraram no mercado Espanhol, fazendo mossa ao operador histórico. Com abordagens comerciais mais atuais e custos de produção mais baixos, os operadores privados espanhóis fizeram uma sangria na Renfe Mercancias que só encontra paralelo na SNCF Fret, em França. Ao mesmo tempo, conseguiram puxar para o caminho-de-ferro novos clientes, o que tem possibilitado aumentar a quota modal.
Se em Portugal a CP Carga desde o início olhou para a eficiência e mostrou os dentes ao mercado, em Espanha a Renfe Mercancias parece ter pensado que a sua posição dominante lhe bastaria para esmagar com alguma facilidade os novos entrantes.
Vem tudo isto a propósito das contas da Renfe, divulgadas por estes dias. A Renfe Mercancias continua a perder volume e faturação, mesmo tendo conseguido uma assinalável redução nos seus custos. A indecisão em torno da estrutura accionista da empresa promete continuar a dificultar o desenvolvimento da empresa e até nisso o caso português é diferente, onde a CP Carga encontrou já novo accionista e se prepara para novos desafios.
Portugal e Espanha são dois países com muito em comum mas onde os casos de estudo são radicalmente diferentes. Há mais concorrência em Espanha e um operador histórico apanhado desprevenido. É muito possível que uma coisa seja resultado da outra. E ainda não foi abordada a entrada da CP Carga no país vizinho…
João Cunha
18 Março, 2016
Portugal Ferroviário
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