Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 163 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 163 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Precisamos de falar sobre o Brasil
Página 1 de 1
Precisamos de falar sobre o Brasil
Não conheço o Brasil. Existe em fragmentos, extremos isolados sem comunicação: na Cidade de Deus de Meirelles e nas fotografias glamorosas do Instagram, na novela da Globo e na Porta dos Fundos, nas Farpas de Eça ao Imperador D. Pedro e nos revólveres e reviravoltas de Rubem Fonseca, nas conquistas e fatalidades do futebol alegria, na Tropicália, na Bossa Nova, e na artística expressão dos Mamonas Assassinas. O País perpetuamente novo, exótico nos nomes e na palavra, casa do português mais preciso e arrojado do globo.
Só uma coisa me consola por não conhecer o Brasil – é que talvez mais ninguém conheça. O Brasil tem outra dimensão e é de outra dimensão: é gigante para além da redução, e rico para além da compreensão.
Não o reduzindo nem o compreendendo, sei que um político se tornou ministro para fugir à Justiça, e que um Juiz divulgou escutas para fazer Política. Em qualquer lugar no Mundo, isso não acontece antes de o Poder ir para a rua, acontece quando o Poder está na rua.
No Hemisfério Norte, as reacções variam. A Esquerda mais comprometida arranja justificações: luta de classes, governo de juízes. Golpe, contragolpe, o rico que não pode ver o pobre subir na vida, o juiz que não é eleito, a mão do grande capital. Desta perspectiva, a história de Lula cai na abstracção, no grande esquema das coisas: não há instituições nem lei, respeito pelas regras ou hierarquia de valores; não há factos, apenas interpretações de factos; o alvo não é a corrupção, mas a política de Lula e do PT. Construído este contexto, a luta passa a ser legítima, fogo contra fogo, a nossa política contra a política deles. E, entre Lula e a lei, vencerá o melhor, precisamente porque vence. É uma lógica verdadeiramente impressionante para quem nunca leu um livro ou saiu de casa.
Por cada grande ideólogo que se mete nisso, há pelo menos uma pessoa comum a encolher os ombros. É bonito abstrair, mas é ainda mais bonito desconfiar de quem evita o óbvio. Falar do caso Lula para discutir processo penal é como dedicar umas linhas (passe o trocadilho) às festas “bunga bunga” para discutir o direito de Berlusconi à privacidade da sua casa.
O tema não será a luta de classes nem o governo de juízes. É a corrupção, não apenas como esquema de enriquecimento, mas como método de chegada e permanência no poder, passando pela degradação da lei e a impotência dos magistrados. E é o socialismo. Não porque só existe corrupção no socialismo, mas porque o socialismo promove a concentração do poder económico no Estado. E, se não é verdade que os socialistas são mais corruptos, parece ser verdade que a política socialista cria mais oportunidades de corrupção.
Devemos falar sobre o Brasil. Sobre se uma sociedade enriquece logo que distribui peixe, ou só quando ensina a pescar. Sobre se o amanhã que canta compensa o depois de amanhã que berra. Sobre os vícios de uma ideologia propensa à sedução orçamental de corporações, que depende do capital estrangeiro na medida em que o insulta.
E precisamos de admitir que a “ética republicana” não passa de idealismo estéril, e tomar decisões quanto aos conflitos de interesse que vão degradando a democracia – ainda que isso implique pagar melhor aos políticos, e compensá-los pelas limitações no regresso ao mercado.
No Brasil há um conflito orgânico, de base, pelo poder, mas há também um teste à resistência da lei, da lógica e da lucidez, contra a engrenagem que traz o ser humano para o seu pior. No subtexto, entre “queridas” e outras cumplicidades, há um alerta para a paz corrosiva dos “afectos”.
Eça dizia que um brasileiro é um português dilatado pelo calor. Precisamos de falar do Brasil. O Verão vem a caminho. E Portugal dilata.
Pedro Fontes
Diário de Notícias da Madeira
Domingo, 20 de Março de 2016
Tópicos semelhantes
» FILOSOFIA: “Sobre falar merda”
» De la Cruz e Ramos falar sobre o transporte de passageiros em Talavera
» Precisamos mesmo de tantas atualizações?
» De la Cruz e Ramos falar sobre o transporte de passageiros em Talavera
» Precisamos mesmo de tantas atualizações?
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin