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Os limites do sucursalismo
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Os limites do sucursalismo
Alguns têm dito que este último demencial ataque contra civis inocentes desprotegidos utilizando infraestruturas públicas de transporte colectivo anuncia novos tempos negros na Europa. Mas por, alguma razão, a minha própria sensação é que já estávamos há bastante tempo numa era de trevas. O 11 de Setembro foi há quase 15 anos.
Não. O que vamos tendo é uma evolução do grau dos problemas, os quais vão sendo intensificados por soluções que só têm contribuído para o agravamento do estado da doença. Ou seja, dir-se-ia estes tempos que são temos tratam-se sim de uma Alta Idade Média.
E o que quer isto dizer? Da própria experiência histórica portuguesa dessa época é possível colher lições. Vejamos o caso do período que viveu o Rei Dom Fernando (1345-1383). Este viu o seu reino vergastado por um conjunto de problemas. Internamente anos de más colheitas que significou uma economia de rastos. Mas externamente houve a peste negra e a Guerra dos 100 anos. A soma destes problemas (fome, peste, guerras) representaram, e não só para Portugal, várias crises políticas e de soberania.
E agora, nos dias que correm? Parece que a equação é a seguinte: Estagnação endividada + Terrorismo islamita + Vaga de refugiados = Crise ao nível continental e crises ao nível nacional.
Neste momento já se sabe que as autoridades belgas apuraram uma ligação entre os irmãos bombistas do aeroporto de Bruxelas e as operações suicidas de Novembro em Paris. A escolha da Páscoa como data bastante movimentada e a dificuldade de encontrar um alegado terceiro homem envolvido faz acreditar num possível aparelho maduro de agressão implantado no coração da Europa. Emerge, assim, evidência de uma extensa rede do Daesh dotada de recursos humanos, armas e motivação (pergunta: quando é que os media abandonam de ver essas expressões anglo-americanas e erróneas “ISIS” ou “ISIL”?).
A Europa está a pagar no curto por ter tido durante demasiado tempo uma política externa particularista, seguidista e sonâmbula que minou a sua vizinhança próxima. Quando os EUA abandonaram o foco no Afeganistão para ir, sob falsos pretextos, rebentar o regime iraquiano fizeram-no com a cumplicidade de europeus (embora a França fosse uma excepção). A Al-Quaeda começou a sua marcha para ocidente ocupando o espaço deixado por Estados que se foram desmoronando. E quando as “Primaveras Árabes” (que não começaram nem na Primavera nem na Península Arábica) começaram a fazer estalar os equilíbrios de vários países do Mediterrâneo sul também aí houve ingerência activa e passiva (embora, nestes casos, fosse a Alemanha uma excepção).
No 11 de Setembro 15 dos 19 operacionais eram sauditas. E o que se fez? Deixar em paz um certo “aliado” não-democrático mas petro-rico e hostilizar tudo o resto nessa região. Quando se pergunta “então e o que fazer agora?!” então é fácil ver o que ainda não se fez: quebrar a cadeia de abastecimento ideológico e financeiro extremista wahbita salafita apocalítico, cujos antepassados incentivaram o ocidente a minar os regimes arábicos socialistas e que actualmente tudo aponta constituir a fonte última de inspiração e apoio de super-células terroristas em globalização na Europa e em África.
As políticas de segurança e de defesa são responsabilidades de Estados e devem estar ao serviço dos seus cidadãos e das suas autoridades. Quando um país ou um continente inteiro confunde os seus interesses com os de uma potência estrangeira a coisa não vai acabar bem. Ser sucursal de outros não é “modelo de negócio” (como agora se costuma dizer).
Vai sendo hora, portanto, de haver mais consciência do verdadeiro interesse próprio na condução da política externa (e militar, e de informações, etc.). Isso é verdade para a Europa, que neste caso contém entidades políticas (países) que têm preocupações comuns.
Contudo, é preciso ainda adicionar dois pontos a este debate.
Primeiro ponto, as soluções duradouras não começam nem acabam com militares. Por exemplo, e como destacou ontem o Financial Times, o facto de a Bélgica ser (com a excepção da Grécia) o país na União Europeia em que a diferença entre nacionais e imigrantes quanto ao risco de cair na pobreza é maior constitui um alerta demasiado vermelho para ser ignorado. Como disse também ontem numa entrevista à RTP3 o Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, o combate ao terrorismo deve envolver todos os sectores, desde a justiça e a polícia até à intervenção social e cultural nas ruas e nos bairros.
Segundo ponto. Saber que o “sucursalismo” sai caro também tem implicações para Portugal. Por exemplo, Portugal ter um sector financeiro que se arrisca a ser uma sucursal do capital espanhol é um risco demasiado desiquilibrante e com consequências demasiado perenes para ser ignorado. Por isso mostra-se Passos Coelho alheado quando condena a “interferência” em negócios quem respeitam a privados. Pelo contrário, o que seguramente fez durante quatro anos foi deixar os privados, nacionais e estrangeiros, interferirem nos negócios do Estado. Tem razão o actual Presidente da República ao cortar com essa conversa oca e considerar “natural” a intervenção do governo na banca. É que o sistema financeiro não é um fim em si mesmo, também tem “externalidades” que podem ser muito negativas (como, aliás, se tem visto) para a estabilidade do Estado de Direito. E, tanto em Portugal como na Europa, ainda é o Estado de Direito que nos distingue da Idade Média.
SANDRO MENDONÇA
24.03.2016 às 8h45
Expresso
Não. O que vamos tendo é uma evolução do grau dos problemas, os quais vão sendo intensificados por soluções que só têm contribuído para o agravamento do estado da doença. Ou seja, dir-se-ia estes tempos que são temos tratam-se sim de uma Alta Idade Média.
E o que quer isto dizer? Da própria experiência histórica portuguesa dessa época é possível colher lições. Vejamos o caso do período que viveu o Rei Dom Fernando (1345-1383). Este viu o seu reino vergastado por um conjunto de problemas. Internamente anos de más colheitas que significou uma economia de rastos. Mas externamente houve a peste negra e a Guerra dos 100 anos. A soma destes problemas (fome, peste, guerras) representaram, e não só para Portugal, várias crises políticas e de soberania.
E agora, nos dias que correm? Parece que a equação é a seguinte: Estagnação endividada + Terrorismo islamita + Vaga de refugiados = Crise ao nível continental e crises ao nível nacional.
Neste momento já se sabe que as autoridades belgas apuraram uma ligação entre os irmãos bombistas do aeroporto de Bruxelas e as operações suicidas de Novembro em Paris. A escolha da Páscoa como data bastante movimentada e a dificuldade de encontrar um alegado terceiro homem envolvido faz acreditar num possível aparelho maduro de agressão implantado no coração da Europa. Emerge, assim, evidência de uma extensa rede do Daesh dotada de recursos humanos, armas e motivação (pergunta: quando é que os media abandonam de ver essas expressões anglo-americanas e erróneas “ISIS” ou “ISIL”?).
A Europa está a pagar no curto por ter tido durante demasiado tempo uma política externa particularista, seguidista e sonâmbula que minou a sua vizinhança próxima. Quando os EUA abandonaram o foco no Afeganistão para ir, sob falsos pretextos, rebentar o regime iraquiano fizeram-no com a cumplicidade de europeus (embora a França fosse uma excepção). A Al-Quaeda começou a sua marcha para ocidente ocupando o espaço deixado por Estados que se foram desmoronando. E quando as “Primaveras Árabes” (que não começaram nem na Primavera nem na Península Arábica) começaram a fazer estalar os equilíbrios de vários países do Mediterrâneo sul também aí houve ingerência activa e passiva (embora, nestes casos, fosse a Alemanha uma excepção).
No 11 de Setembro 15 dos 19 operacionais eram sauditas. E o que se fez? Deixar em paz um certo “aliado” não-democrático mas petro-rico e hostilizar tudo o resto nessa região. Quando se pergunta “então e o que fazer agora?!” então é fácil ver o que ainda não se fez: quebrar a cadeia de abastecimento ideológico e financeiro extremista wahbita salafita apocalítico, cujos antepassados incentivaram o ocidente a minar os regimes arábicos socialistas e que actualmente tudo aponta constituir a fonte última de inspiração e apoio de super-células terroristas em globalização na Europa e em África.
As políticas de segurança e de defesa são responsabilidades de Estados e devem estar ao serviço dos seus cidadãos e das suas autoridades. Quando um país ou um continente inteiro confunde os seus interesses com os de uma potência estrangeira a coisa não vai acabar bem. Ser sucursal de outros não é “modelo de negócio” (como agora se costuma dizer).
Vai sendo hora, portanto, de haver mais consciência do verdadeiro interesse próprio na condução da política externa (e militar, e de informações, etc.). Isso é verdade para a Europa, que neste caso contém entidades políticas (países) que têm preocupações comuns.
Contudo, é preciso ainda adicionar dois pontos a este debate.
Primeiro ponto, as soluções duradouras não começam nem acabam com militares. Por exemplo, e como destacou ontem o Financial Times, o facto de a Bélgica ser (com a excepção da Grécia) o país na União Europeia em que a diferença entre nacionais e imigrantes quanto ao risco de cair na pobreza é maior constitui um alerta demasiado vermelho para ser ignorado. Como disse também ontem numa entrevista à RTP3 o Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, o combate ao terrorismo deve envolver todos os sectores, desde a justiça e a polícia até à intervenção social e cultural nas ruas e nos bairros.
Segundo ponto. Saber que o “sucursalismo” sai caro também tem implicações para Portugal. Por exemplo, Portugal ter um sector financeiro que se arrisca a ser uma sucursal do capital espanhol é um risco demasiado desiquilibrante e com consequências demasiado perenes para ser ignorado. Por isso mostra-se Passos Coelho alheado quando condena a “interferência” em negócios quem respeitam a privados. Pelo contrário, o que seguramente fez durante quatro anos foi deixar os privados, nacionais e estrangeiros, interferirem nos negócios do Estado. Tem razão o actual Presidente da República ao cortar com essa conversa oca e considerar “natural” a intervenção do governo na banca. É que o sistema financeiro não é um fim em si mesmo, também tem “externalidades” que podem ser muito negativas (como, aliás, se tem visto) para a estabilidade do Estado de Direito. E, tanto em Portugal como na Europa, ainda é o Estado de Direito que nos distingue da Idade Média.
SANDRO MENDONÇA
24.03.2016 às 8h45
Expresso
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