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O engodo na caça ao voto
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O engodo na caça ao voto
Mil nomeações depois para gabinetes ministeriais e afins, em menos de cem dias, e aplicado zelosamente o programa de reversões, o Governo ‘unitário’ de António Costa fez aprovar no Parlamento o Orçamento do Estado para o que falta deste ano e arrecadou a proeza das esquerdas radicais terem aplaudido de pé nas bancadas. Foi bonito para a foto.
Resolvido o negócio - ou, como disse Costa, eufórico, “está feito” - e para evitar mal entendidos, logo foi posto a correr que se esperava de Belém uma leitura acelerada do diploma para que este não entrasse em vigor no primeiro de Abril, data, como se sabe, muito propícia ao chiste…
Como o novo inquilino do palácio cor-de-rosa costuma dormir pouco, talvez consiga ver à lupa, em escassos dias, o que os antecessores levavam mais tempo a escrutinar, utilizando os prazos que a Constituição confere.
Se o Presidente não quiser assinar de cruz - o que se espera dele -, terá muito que ponderar antes de selar a promulgação, perante o agravamento exponencial da despesa pública, que se observa, à vista desarmada, neste Orçamento.
Como lembrou aqui Francisco Sarsfield Cabral, contrariando a vaga de hossanas, o The Wall Street Journal - uma das bíblias do jornalismo financeiro - admitiu que Portugal pudesse estar a caminho de outro resgate, face ao irrealismo das previsões orçamentais e à possibilidade da agência de notação canadiana DBRS colocar a dívida pública portuguesa ao nível de ‘lixo’, o que ditaria o congelamento do apoio do BCE.
A hipótese será ainda mais sombria se pensarmos que as atenções da Europa estão hoje concentradas noutros desafios - desde o terrorismo, às vagas de refugiados e ao referendo britânico -, suficientemente sérios para não perder tempo a financiar outro resgate.
E desembocamos no chamado Plano B, que António Costa tem vindo a esconder dos portugueses, apesar dos avisos da Comissão Europeia. Mais para diante, chamar-se-á Orçamento retificativo, com agravamento de impostos, para não cortar na despesa, a verdadeira seiva que alimenta a sua estratégia eleitoralista.
Basta ouvir o que já disseram bloquistas e comunistas, ao ressuscitarem, como prioridades, a reestruturação da dívida (sinónimo do “não pagamos”), e a “preparação do país para a libertação do euro”, como defendeu, sem papas na língua, o líder parlamentar comunista João Oliveira.
O PCP tomou, ainda, a dianteira, pela voz de Jerónimo de Sousa, na recuperação do “controlo público da banca”, coerente com a doutrina aplicada durante o PREC, quando os comunistas lideraram a sua nacionalização. Não mudaram.
É a mesma ‘coerência’ bem documentada no chamado arquivo Mitrokhin, do KGB - que tem vindo a ser divulgado pelo Expresso -, onde se acumulam não poucas revelações comprometedoras acerca do papel desempenhado pelo PCP e pelos seus dirigentes de topo, ao aproveitarem-se da febre revolucionária pós 25 de Abril para prestarem bons serviços à antiga URSS, alinhados com os interesses de Moscovo à época .
E ainda hoje aturamos deputados comunistas, como Miguel Tiago, que tiveram a desvergonha de escrever, após os atentados sangrentos em Bruxelas, que é preciso “acabar com a política de direita” para travar o terrorismo. Assim, sem uma palavra de condenação. E o posterior pedido de desculpas, embora de louvar, não apagou por completo o pecado original.
São estes os aliados do PS de António Costa, juntamente com o Bloco, que, num dia dá o braço a Tsipras e ao Syriza e, no dia seguinte, nega-lhes apoio com a mesma cara.
Se em vez de um Governo de ilusionistas tivéssemos um Governo de gestão - que Cavaco não quis, receoso das escaramuças atiçadas na rua -, faziam-se não poucas poupanças, até Belém poder convocar novas eleições, sem cartas viciadas.
A começar pelas avultadas indemnizações que o contribuinte vai pagar. Desde concessionários desapossados dos contratos que celebraram de boa-fé com o Estado português, a administradores e quadros de organismos públicos e do setor empresarial do Estado afastados compulsivamente, para a geringonça plantar os seus fieis.
Sejamos claros: PS, PCP e Bloco estão empenhados numa campanha que visa captar o voto do funcionalismo público - cuja remuneração média é muito superior à dos trabalhadores do setor privado - bem como dos pensionistas, cuja Caixa é bem mais generosa do que a Segurança Social, quando se comparam as reformas pagas.
António Costa sabe que a impostura tem a perna curta e a bandeira anti-austeridade foi chão que deu uvas.
Por isso, se o controlo da banca vier a ser público - como reclamam comunistas e bloquistas (ou se for entregue a atores escolhidos a dedo pelo Governo) -, e se a comunicação social (em aflições) lhe cair no regaço, Costa bem poderá sonhar com a legitimação eleitoral que lhe falta. Sócrates não faria melhor…
Dinis de Abreu | 01/04/2016 10:48
SOL
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