Classe média expulsa da cidade de Lisboa

Oito anos de António Costa e Fernando Medina em Lisboa converteram a capital numa cidade de três eixos extremos: habitação social, turismo e habitação de luxo.

Todas as terças-feiras, às 15h00, na Assembleia Municipal presidida por Helena Roseta, no período antes da ordem do dia, muitas pessoas apresentam a sua história de vida pedindo um teto para viver.

O município de Lisboa tem milhares de casas de habitação social. Como a inscrição para falar é feita previamente, a atual presidente da Assembleia Municipal - que trabalha muito proximamente com a vereadora com o pelouro da habitação social, já que ambas eram do mesmo movimento de cidadãos que fez a coligação com o PS em Lisboa - faz uma análise de cada caso concreto. Ou seja, a presidente fala diretamente com as pessoas que fazem os pedidos, analisando o processo, o tipo de agregado, a casa pretendida. Chega a ser um espetáculo mórbido feito para a plateia, de histórias tristes que causam nós na garganta.

Há poucos dias - e perante uma história que comoveu particularmente a Assembleia Municipal -- a oposição questionou Helena Roseta, que se tornou entretanto o rosto da habitação social. Esta veio a assumir consternada que, apesar de todo o trabalho e colaboração com as juntas de freguesia e com a Santa Casa da Misericórdia, as soluções oferecidas eram sistematicamente rejeitadas. As pessoas querem ‘uma casa da Câmara’. Pudera.

Noutro extremo, Portugal está na moda. Só este ano vão abrir mais 29 hotéis, a esmagadora maioria de quatro e cinco estrelas. Para 2017, já estão prometidos mais 13 hotéis só para Lisboa.

Edifícios icónicos da cidade, como os do Diário de Notícias e da Rádio Renascença, vão ser transformados em hotéis ou habitação de luxo. Também as discotecas Jamaica, Tokyo e Europa, no Cais do Sodré, vão ter o mesmo destino. Na Baixa, é o fim do Braz & Braz: vai ser transformado num hotel de quatro estrelas.

Avenida da Liberdade, Bairro Alto, Baixa e Chiado foram os locais com maiores subidas de preços, os quais atingem os quatro mil euros por metro quadrado.

As freguesias estão preocupadas. Os presidentes das juntas de freguesia do centro histórico de Lisboa - Santo António, Misericórdia, São Vicente, Santa Maria Maior - decidiram fazer um conjunto de exigências à Câmara e ao Governo. Querem “uma maior regulamentação e legislação que limite a proliferação desmedida dos alojamentos locais e hostels”.

Lisboa foi convertida numa cidade de três anéis.

O centro e zonas nobres são para os hotéis e habitação de luxo.

A seguir, mas bem dentro da cidade, vastas zonas de habitação social.

Por fim, todas as localidades dormitório à volta da Grande Lisboa, onde a desgraçada classe média comprou a sua casa com sangue, suor e lágrimas, e que se vê obrigada a movimentos pendulares de, muitas vezes, duas horas por dia entre casa e trabalho.

Costa e Medina fizeram de Lisboa um caso extremo de engenharia social. A classe média foi expulsa definitivamente da cidade.

sofiavrocha@sol.pt

 Sofia Vala Rocha | 04/04/2016 16:17
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