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O sonho dos EU da Europa
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O sonho dos EU da Europa
Europa, filha do rei fenício Agenor, era dotada de uma grande beleza. Zeus sentiu-se seduzido e, sob as formas de um touro, raptou-a e levou-a para a ilha de Creta onde iria florescer a mais esplendorosa civilização mediterrânica. Assim nos fala a mitologia da origem da civilização europeia.
Desde então, a Europa permanece cativa nas várias ilhas de si mesma, na letargia de sucessivos projetos que têm acalentado o ideário de recriar a unidade europeia, esboçada pelo Império Romano.
Ao abrigo do cristianismo dominante, várias foram as tentativas dos projetistas de uma Europa Unida. Alguns, como Napoleão e Hitler, tentaram-na através das armas. Outros sonharam-na de modo diverso. O jurista Pierre Dubois, conselheiro de Filipe o Belo, concebeu em 1304 o primeiro modelo que falava de Estados Unidos da Europa. No tratado movido pelo proselitismo da cruzada - "De recuperatione Terrae Sanctae" - o autor preconizava um concílio de reinos europeus, deputação de príncipes e prelados, sem Papa nem Imperador.
Em meados do século XVII, caberia a Henrique IV, de França, aconselhado por Maximilien de Béthune, duque de Sully, assumir o "grande desígnio": transformar a Europa numa "Cristianíssima República". O soberano, assassinado em 1610, não lograria prosseguir o ambicioso desenho de uma confederação de estados europeus, dividida em 15 estados igualitários sob a égide do catolicismo, calvinismo e luteranismo. Tal unidade política seria liderada por uma espécie de Conselho Geral da Europa, composto por 60 pessoas, quatro por cada uma das 15 unidades. Idealizava um precoce exército europeu e um fundo comum, no plano fiscal.
Já nas "Luzes", as reflexões sobre a ideia de Europa ecoam na doutrina da "paz perpétua", de Kant, em Hegel, juntos com Rousseau, Sant-Simon, entre outros que sonhavam com uma Europa unida. Em 1869, Vítor Hugo, o visionário francês, profetizava: "No século XX haverá uma nação extraordinária; terá por capital Paris, mas não se chamará França - chamar-se-á Europa". Num dos seus múltiplos "ímpetos azulados" - expressão de Sampaio Bruno - o grande vate sintetizou a sua quimera europeia: "Um dia, as sete nações que resumem toda a humanidade fundir-se-ão, como as sete cores do prisma, numa radiosa curvatura celeste: o prodígio da paz aparecerá, eterno e visível, sobre a civilização; e o Mundo contemplará, deslumbrado, o imenso arco-íris dos Povos-Unidos da Europa".
Entre os dois conflitos europeus animou-se o esforço de alguns estadistas. Aristide Briand é talvez o mais esquecido entre os "arquitetos da construção europeia", como Jean Monet, Robert Schuman ou Konrad Adenauer. Seis vezes primeiro-ministro da França, agraciado com o Nobel da Paz de 1926, Briand discursou a favor de uma União Europeia na Liga das Nações, em 5 de setembro de 1929. Morreu, em 1931, sem ver a concretização do seu plano de uma Federação Europeia, que uns idealizavam como União e outros como Paneuropa, esta última esboçada pelo austríaco Richard Coudenhove-Kalergi e debatida, desde 1926, nos congressos de Basileia.
À morte de Briand, o tentâmen europeu continha em si, todavia, o germe desagregador das diferenças "inter pares": a de uma "Europa a duas velocidades". Curiosamente, Portugal integraria, com Espanha, um bloco de médios e pequenos estados, divididos geograficamente em dois grupos. A estes contrapunha-se o pacto quadripartido da Inglaterra, França, Itália e Alemanha.
Em dezembro de 1946, sobre as cinzas ainda quentes de um continente devastado, Paris acolhia a ideia de uma União Europeia dos Federalistas: Sob o lema "Europa una num Mundo único", a moção política, então aprovada, apontava a solução utópica: a união dos povos em torno de um poder federal eficaz, culminando a ideia de uns Estados Gerais da Europa...
Sete décadas se esgotaram, entretanto. Um sonho inacabado, porventura interminável pelas fatais limitações egoísmos humanos do presente. Mas, não é o sonho que comanda a vida?
HISTORIADOR
JOAQUIM FERNANDES
05 Abril 2016 às 00:01
Jornal de Notícias
Desde então, a Europa permanece cativa nas várias ilhas de si mesma, na letargia de sucessivos projetos que têm acalentado o ideário de recriar a unidade europeia, esboçada pelo Império Romano.
Ao abrigo do cristianismo dominante, várias foram as tentativas dos projetistas de uma Europa Unida. Alguns, como Napoleão e Hitler, tentaram-na através das armas. Outros sonharam-na de modo diverso. O jurista Pierre Dubois, conselheiro de Filipe o Belo, concebeu em 1304 o primeiro modelo que falava de Estados Unidos da Europa. No tratado movido pelo proselitismo da cruzada - "De recuperatione Terrae Sanctae" - o autor preconizava um concílio de reinos europeus, deputação de príncipes e prelados, sem Papa nem Imperador.
Em meados do século XVII, caberia a Henrique IV, de França, aconselhado por Maximilien de Béthune, duque de Sully, assumir o "grande desígnio": transformar a Europa numa "Cristianíssima República". O soberano, assassinado em 1610, não lograria prosseguir o ambicioso desenho de uma confederação de estados europeus, dividida em 15 estados igualitários sob a égide do catolicismo, calvinismo e luteranismo. Tal unidade política seria liderada por uma espécie de Conselho Geral da Europa, composto por 60 pessoas, quatro por cada uma das 15 unidades. Idealizava um precoce exército europeu e um fundo comum, no plano fiscal.
Já nas "Luzes", as reflexões sobre a ideia de Europa ecoam na doutrina da "paz perpétua", de Kant, em Hegel, juntos com Rousseau, Sant-Simon, entre outros que sonhavam com uma Europa unida. Em 1869, Vítor Hugo, o visionário francês, profetizava: "No século XX haverá uma nação extraordinária; terá por capital Paris, mas não se chamará França - chamar-se-á Europa". Num dos seus múltiplos "ímpetos azulados" - expressão de Sampaio Bruno - o grande vate sintetizou a sua quimera europeia: "Um dia, as sete nações que resumem toda a humanidade fundir-se-ão, como as sete cores do prisma, numa radiosa curvatura celeste: o prodígio da paz aparecerá, eterno e visível, sobre a civilização; e o Mundo contemplará, deslumbrado, o imenso arco-íris dos Povos-Unidos da Europa".
Entre os dois conflitos europeus animou-se o esforço de alguns estadistas. Aristide Briand é talvez o mais esquecido entre os "arquitetos da construção europeia", como Jean Monet, Robert Schuman ou Konrad Adenauer. Seis vezes primeiro-ministro da França, agraciado com o Nobel da Paz de 1926, Briand discursou a favor de uma União Europeia na Liga das Nações, em 5 de setembro de 1929. Morreu, em 1931, sem ver a concretização do seu plano de uma Federação Europeia, que uns idealizavam como União e outros como Paneuropa, esta última esboçada pelo austríaco Richard Coudenhove-Kalergi e debatida, desde 1926, nos congressos de Basileia.
À morte de Briand, o tentâmen europeu continha em si, todavia, o germe desagregador das diferenças "inter pares": a de uma "Europa a duas velocidades". Curiosamente, Portugal integraria, com Espanha, um bloco de médios e pequenos estados, divididos geograficamente em dois grupos. A estes contrapunha-se o pacto quadripartido da Inglaterra, França, Itália e Alemanha.
Em dezembro de 1946, sobre as cinzas ainda quentes de um continente devastado, Paris acolhia a ideia de uma União Europeia dos Federalistas: Sob o lema "Europa una num Mundo único", a moção política, então aprovada, apontava a solução utópica: a união dos povos em torno de um poder federal eficaz, culminando a ideia de uns Estados Gerais da Europa...
Sete décadas se esgotaram, entretanto. Um sonho inacabado, porventura interminável pelas fatais limitações egoísmos humanos do presente. Mas, não é o sonho que comanda a vida?
HISTORIADOR
JOAQUIM FERNANDES
05 Abril 2016 às 00:01
Jornal de Notícias
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