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Perdidos na aldeia global
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Perdidos na aldeia global
Tem muito de político, seguramente, mas também tem muito de global, digital e emocional a "pós-verdade", a palavra do ano para o dicionário Oxford da língua inglesa.
A palavra pós-verdade pretende indicar que em determinadas circunstâncias os factos são menos influentes a formar a opinião pública do que os apelos às emoções, às crenças e aos preconceitos. Segundo os editores do dicionário de Oxford, o uso da palavra pós-verdade aumentou 2000% em 2016. Mas hoje em dia é fácil escolher os dados que se quer para chegar às conclusões que nos interessem, comenta a revista Economist, que aliás há algumas semanas fez capa do "pós-verdade", contribuindo de forma relevante para o referido aumento do uso da palavra.
A pós-verdade refere-se a uma mistura emocional de insegurança, falsidade e manipulação e é também um efeito, importante, do ambiente percepcional, informacional e comunicacional intenso de hoje, onde muita gente se sente perdida. A falsidade, implícita na pós-verdade, é favorecida pela pós-materialidade da sociedade digital. A realidade, o que conta e é relevante para cada um, é cada vez mais informação e comunicação, a hiper-realidade das redes sociais e dos smartphones. É um ambiente instantâneo, em permanente mudança e profundamente emocional. Um dia-a-dia caracterizado pela brevidade das mensagens, pela perda da experiência do mundo natural e pelas surpresas, contradições e desmentidos constantes. Como comentou Baudrillard, o pensador francês falecido em 2007, inspirador da trilogia cinematográfica "Matrix", vivemos num deserto do real, uma realidade onde as imagens da internet, dos computadores, dos telemóveis e da televisão são mais reais do que a realidade física não mediada que nos rodeia.
O meio é a mensagem, como indicou McLuhan, o guru canadiano dos media, porque, essencialmente, os novos media, as novas tecnologias, são a mudança que trazem à coordenação da sociedade como um todo e ao dia-a-dia de cada um. E se é assim, o real conteúdo dos media, de cada nova tecnologia, somos nós, utilizadores. Os automóveis, ajudados pelos relógios, criaram as cidades, fizeram os vizinhos obsoletos e lançaram as bases para a carreira profissional. Os telemóveis e a internet globalizam o mundo, desvalorizam o planeamento e a racionalidade e acentuam o instantâneo e o emocional. Os media são também a "massagem", ainda conforme a McLuhan, por que modelam e embalam os sentidos humanos, materializando-se em equilíbrios específicos de percepção e emoção.
Numa aldeia global, mergulhados nas mesmas e infindáveis histórias, em telefonemas, SMS, e-mails, notícias, publicidade, etc., há pouco tempo para a ponderação e para a racionalidade. O instinto, a emoção e o instantâneo tendem a dominar e muitos medos e preconceitos, típicos de tempos que já lá vão, estão de volta. São os terrenos da dita pós-verdade.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Fernando Ilharco
01 de Dezembro de 2016 às 18:36
Negócios
A palavra pós-verdade pretende indicar que em determinadas circunstâncias os factos são menos influentes a formar a opinião pública do que os apelos às emoções, às crenças e aos preconceitos. Segundo os editores do dicionário de Oxford, o uso da palavra pós-verdade aumentou 2000% em 2016. Mas hoje em dia é fácil escolher os dados que se quer para chegar às conclusões que nos interessem, comenta a revista Economist, que aliás há algumas semanas fez capa do "pós-verdade", contribuindo de forma relevante para o referido aumento do uso da palavra.
A pós-verdade refere-se a uma mistura emocional de insegurança, falsidade e manipulação e é também um efeito, importante, do ambiente percepcional, informacional e comunicacional intenso de hoje, onde muita gente se sente perdida. A falsidade, implícita na pós-verdade, é favorecida pela pós-materialidade da sociedade digital. A realidade, o que conta e é relevante para cada um, é cada vez mais informação e comunicação, a hiper-realidade das redes sociais e dos smartphones. É um ambiente instantâneo, em permanente mudança e profundamente emocional. Um dia-a-dia caracterizado pela brevidade das mensagens, pela perda da experiência do mundo natural e pelas surpresas, contradições e desmentidos constantes. Como comentou Baudrillard, o pensador francês falecido em 2007, inspirador da trilogia cinematográfica "Matrix", vivemos num deserto do real, uma realidade onde as imagens da internet, dos computadores, dos telemóveis e da televisão são mais reais do que a realidade física não mediada que nos rodeia.
O meio é a mensagem, como indicou McLuhan, o guru canadiano dos media, porque, essencialmente, os novos media, as novas tecnologias, são a mudança que trazem à coordenação da sociedade como um todo e ao dia-a-dia de cada um. E se é assim, o real conteúdo dos media, de cada nova tecnologia, somos nós, utilizadores. Os automóveis, ajudados pelos relógios, criaram as cidades, fizeram os vizinhos obsoletos e lançaram as bases para a carreira profissional. Os telemóveis e a internet globalizam o mundo, desvalorizam o planeamento e a racionalidade e acentuam o instantâneo e o emocional. Os media são também a "massagem", ainda conforme a McLuhan, por que modelam e embalam os sentidos humanos, materializando-se em equilíbrios específicos de percepção e emoção.
Numa aldeia global, mergulhados nas mesmas e infindáveis histórias, em telefonemas, SMS, e-mails, notícias, publicidade, etc., há pouco tempo para a ponderação e para a racionalidade. O instinto, a emoção e o instantâneo tendem a dominar e muitos medos e preconceitos, típicos de tempos que já lá vão, estão de volta. São os terrenos da dita pós-verdade.
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01 de Dezembro de 2016 às 18:36
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