Os velhos sabem coisas muito antigas e os novos às vezes não querem concordar com isso

No interior do Alentejo, avistámos no beiral de uma casa uma estranha instalação de garrafões de água. Parámos para perguntar ao senhor Francisco a razão para tal - e descobrimos uma técnica afugenta-gatos. Dois repórteres do Expresso partiram numa viagem que os levará de norte a sul de Portugal. Estão a narrar diariamente o mais inesperado que se encontra pelo país fora.

Depois de umas horas a usufruirmos das bucólicas paisagens da planície dourada alentejana, salpicada de azinheiras, sobreiros e chaparros e pela beleza do Guadiana, saímos da auto-estrada para conhecermos algumas aldeias do sul interior. Ao passarmos pela pequena povoação do Freixo, terra do concelho do Redondo, deparámo-nos com uma instalação insólita no muro de uma vivenda que nos fez meter o pé a fundo no travão.

Aqui há gato. Onze garrafões de água separados entre si por um palmo brilhavam ao sol ao longo de todo o beiral de uma casa caiada de fresco. Para que é que serviam? Seria uma banca de estrada? Para afugentar moscas?

Junto aos garrafões estava um velho senhor de olhos colados na viaturas que subiam e desciam a sua rua. Quisemos matar a nossa curiosidade e abordámos o guarda daquela fortaleza de água, o senhor Francisco Quadrado, de 76 anos, carvoeiro reformado.

Para que servem estes garrafões? A explicação foi de tal forma deliciosa que o melhor é mesmo ver o vídeo que fizemos e ter o mistério deslindado pela voz do senhor Francisco. Só lhe deixamos uma dica proferida por ele: "É raro o tipo no Freixo que não tem isto. Isto é saber dos antigos. Os velhos sabem coisas muito antigas e os novos às vezes não querem concordar com isso. Não há nada como as coisas antigas dos velhos. Não se esqueça disso. Agora os doutores é só [aprender] pelo papel".

Também aprendemos que aquela via secundária é "boa para fugir ao posto da polícia". E que naquela noite ia haver festa rija na localidade. O senhor Francisco sabe muita coisa. Mas como vive mal da sua reforma [pouco mais de 200 euros], tem mais gosto em falar de negócios do que bater bola com dois rapazes curiosos. Não está para conversa fiada. "Prefiro conversa que me dê pilim". Despedimo-nos. E o senhor Francisco continuou na sua tarde a acenar aos carros.