Setúbal, Porto de Futuro na Região de Lisboa

Foi recentemente divulgado o resultado do Grupo de Trabalho criado pelo Governo para propor a listagem dos projetos de elevado valor acrescentado na vertente de transportes.

Este trabalho está a agora em discussão pública, com o objetivo de se encontrar um consenso geral na sociedade e partidos políticos sobre os investimentos a realizar na próxima década, conforme existe há muito noutros países.

Deste trabalho resultou a nomeação em quarto lugar do investimento estratégico na melhoria das acessibilidades do porto de Setúbal para facilitar as condições de recepção de navios shortsea, new-panamax.

Foi considerado pelo grupo o quarto projeto nacional mais importante no setor dos transportes, face aos critérios adoptados pelo grupo de trabalho, relacionados com a competitividade, eficiência, aproveitamento das infraestruturas existentes, não sobrecarregar o orçamento do Estado e viabilidade.

O que terá visto este grupo no desenvolvimento do porto de Setúbal que o distrito teima em não perceber e muito menos em tomar como bandeira regional e local, para afirmar o distrito no panorama nacional?

Que importância nacional terá afinal o porto de Setúbal para ter ficado em quarto lugar por ordem de importância no ranking de projetos de elevado valor acrescentado em transportes em Portugal, logo depois da expansão dos terminais de contentores de Leixões e de Sines e da melhoria da ferrovia Lisboa-Porto?

O que viram estas dezenas de organizações nacionais empresariais, que os setubalenses não vêem, não percebem, não defendem e pelo qual não lutam?

1. Potencial de crescimento, criação de emprego e riqueza para a região de Lisboa, o Sul de Portugal e Espanha. Porque não apostam os setubalenses?

2. "Follow the asset", ou seja, rentabilizar o que está feito, disponível, onde já se investiu e têm enorme potencial, em vez de investir em novas infraestruturas. Porque não defendem os setubalenses?

3. Importância crucial para as empresas portuguesas que exportam na região de Lisboa. Até os espanhóis da Extremadura o percebem. Porque os setubalenses não percebem?

4. Área de expansão livre fora da cidade de Setúbal com excelentes fundos naturais de acesso marítimo e acessos terrestres sem qualquer interferência na cidade. Porque os setubalenses não lutam por isto?

5.  O futuro da Setúbal está tão ligado ao porto e à logística e re-industrialização, como está ao turismo e à economia do Mar. Porque os setubalenses não exigem mais porto de cargas e emprego qualificado, como exigem mais náutica e turismo?

O Barreiro já percebeu e quer um terminal de contentores. Sines percebeu e defende com unhas e dentes o seu porto. A cidade do Porto não quer interferência no desenvolvimento que pretendem para o porto de Leixões. Barcelona orgulha-se do seu porto, tanto de cargas como de recreio e lazer e ficou rica.

Setúbal está à espera do quê para defender o mesmo? Para dizer o que quer, que quer mais emprego e riqueza. Mais empresas e indústrias. Assim como mais turismo e náutica. Mais economia do Mar, por onde passa o futuro de Portugal. Mais exportações. Ser o distrito logístico para servir a região entre Coimbra-Madrid-Andaluzia-Algarve no tráfego shortsea Atlântico, Africano e Europeu.

O distrito de Setúbal tem dois portos muito importantes. Sines, um grande porto intercontinental. Setúbal, um grande porto Europeu, Africano e Atlântico, que serve centenas de grandes empresas com milhares de postos de trabalho, e com potencial para crescer muito mais e criar muito, muito emprego bem remunerado.

O porto de Setúbal tem oferta disponível já. Sem necessidade de investimento relevante, com excepção de pequenos micro-investimentos considerados prioritários por este grupo de trabalho, pode servir a região de Lisboa, o Sul de Portugal e Extremadura espanhola e toda a sua expansão económica nos próximos 20 anos.

Basta aproveitar o que já existe. E tem crescido a olhos vistos. Importa deixá-lo crescer naturalmente e rentabilizar os grandes investimentos realizados em terminais nos últimos anos no porto de Setúbal.

Mas a região deveria perceber isso e Gritar em sua defesa, não deixando que sejam apenas os grupos de empresários nacionais a fazê-lo.

Faço esse apelo para que abram os olhos e aproveitem esta oportunidade e os recursos endógenos e construídos existentes.

Mar e Rio
por Vítor Caldeirinha
(Investigador Portuário)

Vítor Caldeirinha - 18-02-2014
Setúbal na Rede