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Uma certa cegueira
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Uma certa cegueira
É de olhos bem abertos que temos que votar sem medos, recusando as ameaças do caos, votando onde mais lhes dói. No nosso futuro
De todas as capacidades humanas, uma das mais misteriosas é negar a evidência, fechar os olhos ao irrefutável, ou mantê-los abertos sem aceitar. É mais simples caminhar guiados pela fé do que pelos nossos olhos.
Os que à esquerda procuram respostas e avaliam alternativas políticas esbarram na dificuldade de fazer uma reflexão serena e crítica sobre a prática política do Partido Socialista, o seu papel e responsabilidades no desastre social, económico e moral em que hoje nos encontramos.
É um fenómeno que assenta no preconceito e em referências que, por inquestionáveis, lhes garantem o sossego, diminuem a exigência e os põem a salvo de olhar para ver.
Isso obriga a um esforço de análise política que em último os questionaria a si próprios, levando-os a ter de agir para além do espaço de segurança que a crença oferece.
Retirava-os do seu quadrado claustrofóbico e do espaço de conforto onde tudo é preto ou branco, maus de um lado e bons do outro, e o resto é conspiração.
Recusar ver preserva-lhes a convencida superioridade moral. O esforço de observar de forma crítica o fenómeno político implica assumir a possibilidade do erro e, com ele, a possibilidade da manipulação e o risco do engano.
Não querer ajuizar da quota de responsabilidade do PS na desmoralização das instituições democráticas, nas práticas e comportamentos que favoreceram a cultura da corrupção, no colaboracionismo activo para a criação de um modelo económico e social que se mostrou mais injusto e desigual, é apostar numa selectiva amnésia colectiva.
O PS tem responsabilidades na actual situação do país. A forma como um partido se denomina não o define.
Nas últimas décadas o Partido Socialista foi-se “social-democratizando” e hoje em Portugal existem objectivamente dois partidos que reivindicam preencher o mesmo imaginário político e disputam o mesmo espaço eleitoral e sociológico, o PSD e o PS.
Neste processo, foi a direita que se aproximou do ideário socialista ou o PS que foi deslizando para a direita?
Para os cidadãos, as diferenças entre os dois partidos são de retórica; já os pontos de convergência encontraram espaço e aclamação no promíscuo bloco central de interesses.
Em 1978 o PS legitima o CDS no governo, e desde 1979 na apresentação do documento “Dez Anos para Mudar Portugal”, coordenado por Guterres, adopta o modelo da social-democracia europeia e arruma o socialismo na gaveta.
No VI Congresso em 1986, onde é eleito secretário-geral Vítor Constâncio, actual vice-presidente do BCE, o socialismo é definitivamente enterrado.
Passa-se para o conceito de “socialismo democrático”, desaparecem todas as alusões a nacionalizações, reforma agrária, autogestão dos trabalhadores, e surge a ideia de que “a regulação da economia deve ser assegurada pelos mecanismos de mercado”.
Depois foi o cortejo de governar sempre com a direita e ir restituindo o poder e as finanças às famílias do Ancien régime.
Hoje este é o PS que aplaude o Syriza ou o da agenda da década com Rui Rio? É a direita de Francisco Assis ou a esquerda de Manuel Alegre? Aclama Vitorino ou chora Barroso? É o que visitou Sócrates ou o que ficou em Lisboa? É o do reconvertido Basílio Horta ou anseia pelo CDS de Bagão Félix?
Alguns, parece que se não observarem as coisas conseguem que elas não existem, ou que se fecharem os olhos por uns momentos o que os perturba desaparecerá quando os voltarem a abrir.
A estratégia para ganhar eleições é muito diferente da tarefa de governar.
Por isso votar deve ser um acto de memória, uma afirmação de cidadania responsável em que se castigam os protagonistas e as políticas que nos prejudicaram uma e outra vez.
É de olhos bem abertos que devemos votar, sem medos, recusando as ameaças do caos e votando onde mais lhes dói. No nosso futuro.
Nada irrita os que não querem ver como os que lhes apontam a cegueira.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras
Por Artur Pereira
publicado em 26 Mar 2015 - 08:00
Jornal i
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