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A VIDA NO CAMPO - Geografia
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A VIDA NO CAMPO - Geografia
Recebi a minha primeira lição de açorianidade tinha uns 8 anos. Estávamos na cozinha da casa nova, ainda mal concluída a reconstrução pós-terramoto, quando o meu pai suspirou:
- O maior erro da minha vida foi ter ficado cá.
Haveria de ouvir várias teses ao longo da adolescência. O meu pai sempre foi dado a balanços. Mas, se às vezes o maior erro da sua vida fora não se ter candidatado às Operações Especiais, não ter ficado com a casa que um dia arrendou em São Mateus ou simplesmente não ter comprado as calças castanhas, que lhe ficavam bem melhor do que as pretas, só um maior-erro-da-sua-vida voltava frequentemente à baila: ter permanecido na ilha, terra da minha mãe, em vez de nos levar para o continente, onde nascera.
O meu pai não sabia, mas já estava a pensar como um açoriano. A tensão com a geografia inscreve-se no próprio código genético da vida na ilha. O que seria especial se não se verificasse o mesmo com quem quer que viva na província, nas planícies do Alentejo como nas montanhas de Trás-os-Montes ou nas praias do Algarve.
Aos açorianos, estudo-lhes a mímica há décadas. Durante o ano, é um ai, jesus: como foi maravilhoso quando viajaram para aqui, como será maravilhoso quando viajarem para ali, com seria definitivamente maravilhoso se um dia zarpassem de vez para acolá. Assim que aterram na Portela, já estão agarrados ao telemóvel, a reduzir expectativas. Uma semana depois, reencontro-os na sala de espera: vêm a morrer de saudades, e algo lhes diz que, se continuassem na cidade mais um dia, acabariam por soçobrar.
Esta semana, um vizinho continental descreveu-me assim os Açores: "Um lugar onde nunca se chega e de onde nunca se parte de vez."
Pensando bem, tenho de escrever sobre como o meu pai encontrou a minha mãe.
neto.joel@gmail.com
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
por JOEL NETO
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