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Um País, duas realidades
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Um País, duas realidades
O País do milagre económico das exportações é, afinal, o mesmo País que tem uma estrutura produtiva com dificuldades em afirmar-se na dinâmica da globalização, dito por dois ministros do mesmo Governo, curiosamente do mesmo partido da coligação.
Ou é a diferença entre o discurso para consumo interno e a necessidade de pedir mais dinheiro à Europa, como fica claro do trabalho da jornalista Margarida Peixoto na edição de hoje.
É claro que as empresas portuguesas resistiram melhor do que se esperava ao choque do programa de ajustamento, e seria uma injustiça - e um erro - reduzir o aumento do peso das exportações na riqueza criada no País à construção da refinaria da Galp em Sines, em primeiro lugar porque esse investimento permite limitar um dos problemas da nossa balança externa, que diz respeito à importação de combustíveis, em segundo lugar porque este investimento é estrutural e está cá para ficar.
E finalmente porque há mais empresas do que a Galp, daquelas que são pequenas e médias empresas e que ganham sucessivamente quotas de mercado pelo mundo. Mas é claro que há um pecado original no discurso do Governo, ao qual agora é difícil fugir.
Quando foi conhecido o programa de ajustamento assinado com a ‘troika', criou-se a ideia, um mito, como se percebe, de que o País seria outro ao cabo de três anos, as empresas obsoletas e ultrapassadas que produziam e vendiam no mercado interno, e bens não transaccionáveis, desapareceriam e em seu lugar nasceria uma nova economia, com capacidade e escala para concorrer no mercado internacional.
Estávamos condenados a sofrer o choque da realidade.
Ao fim de três anos, a nossa balança externa ajustou, passámos a viver dentro das nossas possibilidades, mas ‘graças' a um nível de desemprego historicamente elevado e a uma queda brutal da procura interna, leia-se consumo das famílias e o investimento.
A reestruturação da economia, a mudança de perfil económico das empresas, é outra conversa, e precisa de mais tempo.
É evidente que uma economia não muda da noite para o dia em três anos, e mesmo os resultados conseguidos pelas exportadores - excelentes, como se prova pelo crescimento das exportações em 2013, na casa dos 5% - não chegam para provar o que o Governo apregoa quando vende os benefícios do programa de ajustamento, a pensar, claro nas eleições.
Já quando é necessário justificar os fundos comunitários negociados com Bruxelas, é necessário carregar no negro, e no que ainda falta percorrer, para justificar uma opção política, correcta, de reforçar os apoios às pequenas e médias empresas.
Neste País que tem, no discurso oficial, duas realidades, sobra o que interessa, uma estrutura empresarial que tem uma oportunidade única, com o novo quadro comunitário, para dar razão em definitivo ao discurso interno e deitar para trás das costas o arrazoado do pedinte.
06/03/14 00:05 | António Costa
Ou é a diferença entre o discurso para consumo interno e a necessidade de pedir mais dinheiro à Europa, como fica claro do trabalho da jornalista Margarida Peixoto na edição de hoje.
É claro que as empresas portuguesas resistiram melhor do que se esperava ao choque do programa de ajustamento, e seria uma injustiça - e um erro - reduzir o aumento do peso das exportações na riqueza criada no País à construção da refinaria da Galp em Sines, em primeiro lugar porque esse investimento permite limitar um dos problemas da nossa balança externa, que diz respeito à importação de combustíveis, em segundo lugar porque este investimento é estrutural e está cá para ficar.
E finalmente porque há mais empresas do que a Galp, daquelas que são pequenas e médias empresas e que ganham sucessivamente quotas de mercado pelo mundo. Mas é claro que há um pecado original no discurso do Governo, ao qual agora é difícil fugir.
Quando foi conhecido o programa de ajustamento assinado com a ‘troika', criou-se a ideia, um mito, como se percebe, de que o País seria outro ao cabo de três anos, as empresas obsoletas e ultrapassadas que produziam e vendiam no mercado interno, e bens não transaccionáveis, desapareceriam e em seu lugar nasceria uma nova economia, com capacidade e escala para concorrer no mercado internacional.
Estávamos condenados a sofrer o choque da realidade.
Ao fim de três anos, a nossa balança externa ajustou, passámos a viver dentro das nossas possibilidades, mas ‘graças' a um nível de desemprego historicamente elevado e a uma queda brutal da procura interna, leia-se consumo das famílias e o investimento.
A reestruturação da economia, a mudança de perfil económico das empresas, é outra conversa, e precisa de mais tempo.
É evidente que uma economia não muda da noite para o dia em três anos, e mesmo os resultados conseguidos pelas exportadores - excelentes, como se prova pelo crescimento das exportações em 2013, na casa dos 5% - não chegam para provar o que o Governo apregoa quando vende os benefícios do programa de ajustamento, a pensar, claro nas eleições.
Já quando é necessário justificar os fundos comunitários negociados com Bruxelas, é necessário carregar no negro, e no que ainda falta percorrer, para justificar uma opção política, correcta, de reforçar os apoios às pequenas e médias empresas.
Neste País que tem, no discurso oficial, duas realidades, sobra o que interessa, uma estrutura empresarial que tem uma oportunidade única, com o novo quadro comunitário, para dar razão em definitivo ao discurso interno e deitar para trás das costas o arrazoado do pedinte.
06/03/14 00:05 | António Costa
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