Mania das férias

Um dos dados deste nosso tempo é aquilo que alguns chamam "a mania das férias". Para muitos as férias são pausa legítima, diversão permanente, distensão acrescida, repouso merecido. Para outras - e alguns, poucos, outros - é, por vezes, apenas "transportar o pó de um lado para o outro". E, aqui, troca-se, tão-só, o lugar da fadiga, o espaço do tédio, as rotinas quotidianas. E, depois, e para os católicos de verdade, há sempre aquela advertência que o Papa João Paulo I expressamente referenciou numa das suas lindas cartas como patriarca de Veneza - bem inundada de turistas nestas semanas! - ao proclamar que "se nós vamos para férias o Senhor não passa férias". A massificação turística contemporânea suscita, cada vez mais, novos problemas, estimulantes desafios, clivagens desconhecidas. E, neste aspeto, e bem, Portugal é cada vez mais atrativo e cada vez mais procurado. O certo é que há cada vez mais locais para descobrir. Em todo o mundo, e entre nós por excelência, há lugares singulares para explorar, paisagens de sonho a descobrir, espaços que nos fazem ultrapassar instantes de intolerância em razão das maravilhas que os marcam e os singularizam. Um livro bem interessante de Patricia Schultz já nos identifica os "1000 locais do mundo que temos de ver antes de morrer". Recordando-nos sempre, que "a vida não se mede apenas pelo número de vezes que respiramos, mas sim pelos lugares e instantes que nos tiram a respiração". E a este propósito esta "mania das férias" tem, para nós, outras descobertas. Ontem comemorou-se o Dia dos Avós. Estes tempos novos levam-nos à recordação de Santa Ana e de São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo e, logo, padroeiros dos avôs e das avós. Nestes dias partilhei momentos únicos com os meus netos mais velhos Alexandre e José Maria. Um tempo de férias em comum. E como aprendi! O Alexandre bem informado, nos seus 8 anos, acerca do mundo. E com vontade, cada manhã, de no seu iPad dar as principais notícias do dia ao avô. Com reflexões bem interessantes acerca do cuidado que, por exemplo, se deve ter ao andar de avião em razão do trágico desastre nos Alpes. O mais novo, o José Maria, nos seus 5 anos, obriga-me a refletir acerca da vida. E nós e das nossas circunstâncias. Nas suas reações - ou não reações - vejo-me "ao espelho". No seu feitio - ou feitio singular - relembro as palavras, sempre saudosas, de meus queridos pais. E recordando os bisavós, sei que tenho - temos - de combinar ternura com sabedoria, carinho com compreensão, educação com benevolência. Esta é, para mim, a nova realidade das férias. Em que as férias dos e com os netos são uma das minhas "manias". Ensinando-lhes, em cada momento, e na linha de Stendhal, que tentem não gastar "a vida a odiar e a ter medo"!

por FERNANDO SEARA
Diário de Notícias