Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 52 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 52 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
As férias ou os filhos – o dilema dos pais e do país
Página 1 de 1
As férias ou os filhos – o dilema dos pais e do país
Regressei de férias esta semana, com dois filhos pequenos, pelo que estou mesmo a precisar de descansar. Já me tinham falado no conceito de férias com filhos, mas eu nunca tinha percebido que se tratava de uma alternativa. Ou férias ou filhos.
Pela minha parte, sendo eu próprio um filho do Estado Social, onde sempre nos disseram que não tínhamos de fazer escolhas, pensei que podia ter férias e filhos e agora estou como o país no dia em que a ‘troika' saiu. Feliz mas arrasado.
Já que não me trouxe férias, o Algarve, este ano, só me deu lições. Foi lá que percebi o paradoxo de que é possível o país estar melhor e as pessoas estarem pior. O país está melhor e, por isso, as filas para chegar ao Algarve foram maiores. O país está melhor e, por isso, as amêijoas estavam mais caras. O país está melhor e, por isso, - cereja no topo do bolo - os toldos na praia estavam esgotados.
O Governo decide restituir uma parte dos cortes salariais e, subitamente, no dia 1 de Agosto, estão já esgotados os 200 toldos da praia. Nem queroimaginar a rutura de ‘stock' de bolas de Berlim, quando houver devolução da sobretaxa de IRS.
Ora, quem tem filhos pequenos e se recusa a ir para a praia mais carregado do que um Sherpa, com tendas e chapéus-de-sol anti-UV, acalentando a ilusão de que poderá beneficiar das espreguiçadeiras, nem que seja por uns minutos, precisa de ter um toldo na praia. Mas não este ano.
Já me tinham dito que, este ano, o que estava na moda era o ‘sunset' e, à falta de toldo, foi sempre assim que vi a praia estas férias, em que - como todos os anos - a água estava mais fria do que no ano anterior. Ou então talvez fosse pela combinação da brisa do final de dia, com a insistência do meu filho em saltar para o meu colo sempre que vinha uma pequena onda, com ele já molhado e gelado e eu ainda seco.
Assim se passaram tardes olímpicas, tendo-me especializado na modalidade de 100 metros de transporte de baldinhos cheios de água, e na modalidade de 1 km de transporte de 15 kg de gente ao colo. Durante as manhãs era diferente e, enquanto o Algarve dormia, eu gozava da sensação que Portugal tem nas reuniões do Eurogrupo: passava o tempo na piscina dos pequeninos a sonhar com a piscina dos grandes.
Sim, o sítio onde estávamos tinha uma super piscina de água salgada, ligeiramente aquecida e com ar apetitoso e eu bem a via ali ao lado, enquanto me concentrava a olhar para os meus filhos, com a mesma atenção com que os investidores olham para o que se passa na Grécia, pensando que se ela for ao fundo, eles vão atrás.
Foi então que, ao terceiro dia, como rezam escrituras, de tanto atirar o meu filho ao ar, em divertidas piruetas aquáticas (para ele), fiz uma distensão muscular nas costas, daquelas que não nos deixam falar, nem que seja para dizer que já não temos vinte anos. Claro que um pai com dois filhos com menos de três anos não se pode dar a esses luxos e, não só tive de continuar a falar (proibindo o meu filho de querer ir, pela primeira vez, para a piscina dos grandes), como tive de ser eu a ir à farmácia. Quando me arrastava para o carro, a minha mulher (enquanto dava um biberão e mudava uma fralda) ainda me pediu o pequeno favor de aproveitar a ida à farmácia para passar no supermercado e comprar dois garrafões de água, pois os meninos não bebem água da torneira, vá-se lá saber porquê.
Para fechar a quinzena com chave de ouro, no dia do regresso choveu e, no caminho, (apesar de o carro nãoser descapotável) constiparam-se os dois miúdos, não sei bem como.
Se gostamos assim tanto de férias, porque é que temos filhos? E se gostamos assim tanto de filhos, porque é que temos férias? Este é o meu dilema, mas - e isso serve-me de consolo - é também o dilema do país. As férias são boas e custam dinheiro, mas não são modo de vida. Os filhos dão trabalho, mas são investimento e dão futuro. O que é que nos faz realmente bem? São 15 dias de férias, sem preocupações ou uma vida inteira com filhos e preocupações? O Algarve mostrou-me que nem sempre o que parece bom é o que verdadeiramente queremos e desejamos.
Mas talvez eu tivesse aprendido a lição na mesma, à sombra de um toldo e sem uma lombalgia. Ou talvez não.
00:05 h
Tiago Duarte
Económico
Pela minha parte, sendo eu próprio um filho do Estado Social, onde sempre nos disseram que não tínhamos de fazer escolhas, pensei que podia ter férias e filhos e agora estou como o país no dia em que a ‘troika' saiu. Feliz mas arrasado.
Já que não me trouxe férias, o Algarve, este ano, só me deu lições. Foi lá que percebi o paradoxo de que é possível o país estar melhor e as pessoas estarem pior. O país está melhor e, por isso, as filas para chegar ao Algarve foram maiores. O país está melhor e, por isso, as amêijoas estavam mais caras. O país está melhor e, por isso, - cereja no topo do bolo - os toldos na praia estavam esgotados.
O Governo decide restituir uma parte dos cortes salariais e, subitamente, no dia 1 de Agosto, estão já esgotados os 200 toldos da praia. Nem queroimaginar a rutura de ‘stock' de bolas de Berlim, quando houver devolução da sobretaxa de IRS.
Ora, quem tem filhos pequenos e se recusa a ir para a praia mais carregado do que um Sherpa, com tendas e chapéus-de-sol anti-UV, acalentando a ilusão de que poderá beneficiar das espreguiçadeiras, nem que seja por uns minutos, precisa de ter um toldo na praia. Mas não este ano.
Já me tinham dito que, este ano, o que estava na moda era o ‘sunset' e, à falta de toldo, foi sempre assim que vi a praia estas férias, em que - como todos os anos - a água estava mais fria do que no ano anterior. Ou então talvez fosse pela combinação da brisa do final de dia, com a insistência do meu filho em saltar para o meu colo sempre que vinha uma pequena onda, com ele já molhado e gelado e eu ainda seco.
Assim se passaram tardes olímpicas, tendo-me especializado na modalidade de 100 metros de transporte de baldinhos cheios de água, e na modalidade de 1 km de transporte de 15 kg de gente ao colo. Durante as manhãs era diferente e, enquanto o Algarve dormia, eu gozava da sensação que Portugal tem nas reuniões do Eurogrupo: passava o tempo na piscina dos pequeninos a sonhar com a piscina dos grandes.
Sim, o sítio onde estávamos tinha uma super piscina de água salgada, ligeiramente aquecida e com ar apetitoso e eu bem a via ali ao lado, enquanto me concentrava a olhar para os meus filhos, com a mesma atenção com que os investidores olham para o que se passa na Grécia, pensando que se ela for ao fundo, eles vão atrás.
Foi então que, ao terceiro dia, como rezam escrituras, de tanto atirar o meu filho ao ar, em divertidas piruetas aquáticas (para ele), fiz uma distensão muscular nas costas, daquelas que não nos deixam falar, nem que seja para dizer que já não temos vinte anos. Claro que um pai com dois filhos com menos de três anos não se pode dar a esses luxos e, não só tive de continuar a falar (proibindo o meu filho de querer ir, pela primeira vez, para a piscina dos grandes), como tive de ser eu a ir à farmácia. Quando me arrastava para o carro, a minha mulher (enquanto dava um biberão e mudava uma fralda) ainda me pediu o pequeno favor de aproveitar a ida à farmácia para passar no supermercado e comprar dois garrafões de água, pois os meninos não bebem água da torneira, vá-se lá saber porquê.
Para fechar a quinzena com chave de ouro, no dia do regresso choveu e, no caminho, (apesar de o carro nãoser descapotável) constiparam-se os dois miúdos, não sei bem como.
Se gostamos assim tanto de férias, porque é que temos filhos? E se gostamos assim tanto de filhos, porque é que temos férias? Este é o meu dilema, mas - e isso serve-me de consolo - é também o dilema do país. As férias são boas e custam dinheiro, mas não são modo de vida. Os filhos dão trabalho, mas são investimento e dão futuro. O que é que nos faz realmente bem? São 15 dias de férias, sem preocupações ou uma vida inteira com filhos e preocupações? O Algarve mostrou-me que nem sempre o que parece bom é o que verdadeiramente queremos e desejamos.
Mas talvez eu tivesse aprendido a lição na mesma, à sombra de um toldo e sem uma lombalgia. Ou talvez não.
00:05 h
Tiago Duarte
Económico
Tópicos semelhantes
» Conhecer melhor o país… ou “fazer as férias cá dentro”
» Um país de faz-de-conta
» País de incompetentes
» Um país de faz-de-conta
» País de incompetentes
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin