A opinião do leitor

Exmo. Senhor Diretor

Arq. José António Saraiva,

Habituei-me a refletir sobre a política portuguesa, através da leitura atenta dos seus artigos, desde o tempo em que escrevia no Expresso. Tenho para mim, que é uma das maiores referências do jornalismo nacional, honesto, livre, despido dos condicionamentos camuflados que muitas vezes tolhem e distorcem o pensamento. Por isso, aprendi a respeitá-lo e a ler com muita atenção tudo o que escreve, mesmo quando não concordo com algumas das suas posições.

Como não podia deixar de ser, li o seu último artigo sobre o tema

“Legislativas e presidenciais”. Subscrevo a sua análise relativamente às vantagens que adviriam se a coligação tivesse escolhido um candidato presidencial antes das legislativas, dando total coerência a um projeto político global, na procura de um desígnio nacional. Todavia, discordo em relação à escolha do perfil para o candidato da direita. Para mim, esse candidato tem de ser uma personalidade respeitada e distante daqueles que ao longo da sua vida são o retrato do cata-vento, já que dizem tudo e o seu contrário na constante ânsia de agradarem a gregos e a troianos.

Salvaguardando as diferenças do período histórico, eu diria que Portugal precisa de um mestre de Avis dos tempos modernos que, afrontando os interesses instalados e uma corte alienada aos interesses estrangeiros, saiba liderar o povo para a “terra prometida” e que saiba dizer

NÃO, quando for necessário... Tal como naquele tempo, pela situação difícil em que se encontra Portugal, necessitamos de um líder forte, de um líder que nunca tenha pactuado com o status quo.

Perante o que acabo de dizer, o melhor candidato não poderá ser

Marcelo Rebelo de Sousa. O que está em causa não é um concurso de popularidades, uma vez que nesse domínio teríamos também o Toni

Carreira, o Cristiano Ronaldo e o Fernando Mendes do “Preço Certo”. O que está em causa não é a notoriedade, ou não pode ser essencialmente a notoriedade. O que está em causa é, por exemplo, saber que posições teve o Prof. Marcelo ao longo dos últimos anos, em relação aos grupos BES,

GES, PT… O que disse ele quando a SONAE quis concorrer à PT? Ficou calado ou defendeu Ricardo Salgado? Ficou calado ou deu a cara pelos protegidos do regime, aqueles que sempre podiam concorrer e ganhar os maiores negócios do país?

O que está em causa não é a figura encantadora do Prof. Marcelo

Rebelo de Sousa; a sua imensa capacidade para animar serões e a sua imensa aptidão para contar histórias. O que está em causa para aqueles como eu, que querem a vitória de Passos Coelho nas próximas legislativas,

é perceberem que precisamos na Presidência da República de alguém fiável, sereno, pessoa de uma só palavra, que não troca a solenidade da função pelo indisfarçável prazer de lançar a confusão entre os seus pares.

Termino, Senhor Diretor, citando Platão: "Não devemos de forma alguma preocupar-nos com o que diz a maioria, mas apenas com a opinião dos que têm conhecimento do justo e do injusto, e com a própria verdade."

Desculpe a minha ousadia, a ousadia de um economista e empresário de Trás-os-Montes que decidiu, nesta fase da sua vida, estudar Ciência

Política para, desde logo, melhor entender, ou tentar entender, o que tem motivado a progressiva degradação do regime político português.

Respeitosamente,

António Correia Dias

(Mestre e Doutorando em Ciência Política)

 António Correia Dias | 12/09/2015 12:17
SOL