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Fruta portuguesa obrigada a usar rótulos espanhóis para entrar na América Latina
Olhar Sines no Futuro :: Categoria :: Portugal :: Alentejo
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Fruta portuguesa obrigada a usar rótulos espanhóis para entrar na América Latina
O administrador executivo do Grupo Luís Vicente, Manuel Évora, sublinha que o país não deu a devida atenção a exportação e que há grandes constrangimentos à venda dos produtos para fora da Europa.
JOÃO HENRIQUES
Portugal descurou, durante anos, as questões da promoção da sua agricultura e da exportação das suas produções. Como consequência as empresas portuguesas sentem, agora, dificuldades acrescidas na maior parte dos mercados externos.
Esta foi a principal ideia manifestada por Manuel Évora, administrador executivo do Grupo Luís Vicente, no painel de abertura do Supply Chain Meeting (encontro de operadores de transportes e logística), que se realizou em Vila Franca de Xira. O responsável daquele que é um dos maiores grupos portugueses no ramo da comercialização de produtos frutícolas disse mesmo que para exportar para o Brasil e para a maioria dos países da América-Latina a fruta “tem que ter rótulos espanhóis”.
Na sequência de questões colocadas pela representante do Mercado Abastecedor de Évora, Maria José Tropa, que quis saber quais são os maiores constrangimentos à exportação de produtos alimentares portugueses e até que ponto o Alqueva e o Porto de Sines podem ajudar a dinamizar este sector, o administrador do Grupo Luís Vicente defendeu uma grande aposta na qualidade e desafiou os investigadores universitários portugueses a dedicarem tempo às questões do bom acondicionamento das exportações alimentares nacionais. “Entre os constrangimentos à exportação de fruta nacional há, desde logo, uma história de terras abandonadas. Portugal achou que podia viver só de serviços, matando a agricultura e as pescas. Foi um erro histórico que, hoje, se paga caro”, vincou Manuel Évora, frisando que a agricultura portuguesa tem produtos de qualidade e produtos inovadores, mas debate-se com muitos problemas de “barreiras alfandegárias”.
É que, explicou, para países situados fora da União Europeia a exportação de fruta exige reuniões prévias entre o Ministério da Agricultura português e o ministério congénere dos países de destino. “A maior parte desse trabalho não foi feito. Para exportar para o Brasil temos que exportar fruta com rótulos espanhóis. Para qualquer país da América Latina nada está feito. E, mais uma vez, vamos por Espanha, porque Espanha fez o trabalho de casa e nunca abandonou as suas produções. Nós nunca fizemos este trabalho de casa. Estamos, agora, a tentar fazê-lo, mas esse é um dos grandes constrangimentos à exportação para esses países, porque ultrapassar uma barreira alfandegária destas pode demorar um, dois, três anos”, salientou.
Manuel Évora lembrou que a produção portuguesa de fruta é, essencialmente, sazonal, desenvolvendo-se no período de Verão. Na fase de Inverno, Portugal importa bastante fruta e nesse campo do abastecimento à Europa afirmaram-se países da América Latina como a Argentina e o Chile. O “Grupo Luís Vicente tem aprendido a exportar fruta pelo Mundo e também somos o maior importador de fruta. A nossa produção é sazonal e exportamos no nosso Verão. No período de Verão do Chile e da Argentina, vamos importar esses produtos.
O responsável acrescenta que Portugal tem aprendido muito com os países com que se relaciona. "Foi estrutural para o Chile que as universidades se debruçassem sobre a forma como os seus produtos podiam ser colocados no Mundo inteiro. O que temos de saber é de que forma se deve colocar a fruta dentro dos contentores, de que forma é que devemos utilizar os transportes”, acrescentou o administrador do Grupo Luís Vicente, desafiando as universidades portuguesas a interessarem-se por este tema e a investigarem práticas de qualidade que as empresas possam, depois, aproveitar.
Mais exportações
Em 2013, as exportações de fruta cresceram apenas 0,7% em comparação com 2012, para perto de 329 milhões de euros, mas o sector tem vindo a conquistar terreno no mercado internacional desde 2009. Nesse ano, as vendas de fruta para o estrangeiro somavam cerca de 209 milhões de euros.
O ano de 2013 ficou marcado por uma subida expressiva das importações, que estavam em queda desde 2010. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), compilados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), mostram que as compras de fruta ao estrangeiro dispararam mais de 18% num ano (para quase 531 milhões de euros), tornando a balança comercial deficitária.
As importações continuam, aliás, a superar as exportações do total do sector agro-alimentar. As compras ao estrangeiro cifraram-se em mais de 8,9 mil milhões de euros o ano passado, um crescimento de 4,6% face a 2012. Ao mesmo tempo, as vendas de produtos nacionais para o exterior - que estão a crescer desde, pelo menos, 2009 – subiram de 4,8 mil milhões de euros para mais de 5,1 mil milhões de euros, ou seja, 6,6%.
No total do comércio internacional de Portugal, os bens agrícolas e alimentares pesam apenas 10,82%, valor que em 2009 era superior (11,38%). Com Ana Rute Silva
JORGE TALIXA
06/04/2014 - 09:07
PÚBLICO
JOÃO HENRIQUES
Portugal descurou, durante anos, as questões da promoção da sua agricultura e da exportação das suas produções. Como consequência as empresas portuguesas sentem, agora, dificuldades acrescidas na maior parte dos mercados externos.
Esta foi a principal ideia manifestada por Manuel Évora, administrador executivo do Grupo Luís Vicente, no painel de abertura do Supply Chain Meeting (encontro de operadores de transportes e logística), que se realizou em Vila Franca de Xira. O responsável daquele que é um dos maiores grupos portugueses no ramo da comercialização de produtos frutícolas disse mesmo que para exportar para o Brasil e para a maioria dos países da América-Latina a fruta “tem que ter rótulos espanhóis”.
Na sequência de questões colocadas pela representante do Mercado Abastecedor de Évora, Maria José Tropa, que quis saber quais são os maiores constrangimentos à exportação de produtos alimentares portugueses e até que ponto o Alqueva e o Porto de Sines podem ajudar a dinamizar este sector, o administrador do Grupo Luís Vicente defendeu uma grande aposta na qualidade e desafiou os investigadores universitários portugueses a dedicarem tempo às questões do bom acondicionamento das exportações alimentares nacionais. “Entre os constrangimentos à exportação de fruta nacional há, desde logo, uma história de terras abandonadas. Portugal achou que podia viver só de serviços, matando a agricultura e as pescas. Foi um erro histórico que, hoje, se paga caro”, vincou Manuel Évora, frisando que a agricultura portuguesa tem produtos de qualidade e produtos inovadores, mas debate-se com muitos problemas de “barreiras alfandegárias”.
É que, explicou, para países situados fora da União Europeia a exportação de fruta exige reuniões prévias entre o Ministério da Agricultura português e o ministério congénere dos países de destino. “A maior parte desse trabalho não foi feito. Para exportar para o Brasil temos que exportar fruta com rótulos espanhóis. Para qualquer país da América Latina nada está feito. E, mais uma vez, vamos por Espanha, porque Espanha fez o trabalho de casa e nunca abandonou as suas produções. Nós nunca fizemos este trabalho de casa. Estamos, agora, a tentar fazê-lo, mas esse é um dos grandes constrangimentos à exportação para esses países, porque ultrapassar uma barreira alfandegária destas pode demorar um, dois, três anos”, salientou.
Manuel Évora lembrou que a produção portuguesa de fruta é, essencialmente, sazonal, desenvolvendo-se no período de Verão. Na fase de Inverno, Portugal importa bastante fruta e nesse campo do abastecimento à Europa afirmaram-se países da América Latina como a Argentina e o Chile. O “Grupo Luís Vicente tem aprendido a exportar fruta pelo Mundo e também somos o maior importador de fruta. A nossa produção é sazonal e exportamos no nosso Verão. No período de Verão do Chile e da Argentina, vamos importar esses produtos.
O responsável acrescenta que Portugal tem aprendido muito com os países com que se relaciona. "Foi estrutural para o Chile que as universidades se debruçassem sobre a forma como os seus produtos podiam ser colocados no Mundo inteiro. O que temos de saber é de que forma se deve colocar a fruta dentro dos contentores, de que forma é que devemos utilizar os transportes”, acrescentou o administrador do Grupo Luís Vicente, desafiando as universidades portuguesas a interessarem-se por este tema e a investigarem práticas de qualidade que as empresas possam, depois, aproveitar.
Mais exportações
Em 2013, as exportações de fruta cresceram apenas 0,7% em comparação com 2012, para perto de 329 milhões de euros, mas o sector tem vindo a conquistar terreno no mercado internacional desde 2009. Nesse ano, as vendas de fruta para o estrangeiro somavam cerca de 209 milhões de euros.
O ano de 2013 ficou marcado por uma subida expressiva das importações, que estavam em queda desde 2010. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), compilados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), mostram que as compras de fruta ao estrangeiro dispararam mais de 18% num ano (para quase 531 milhões de euros), tornando a balança comercial deficitária.
As importações continuam, aliás, a superar as exportações do total do sector agro-alimentar. As compras ao estrangeiro cifraram-se em mais de 8,9 mil milhões de euros o ano passado, um crescimento de 4,6% face a 2012. Ao mesmo tempo, as vendas de produtos nacionais para o exterior - que estão a crescer desde, pelo menos, 2009 – subiram de 4,8 mil milhões de euros para mais de 5,1 mil milhões de euros, ou seja, 6,6%.
No total do comércio internacional de Portugal, os bens agrícolas e alimentares pesam apenas 10,82%, valor que em 2009 era superior (11,38%). Com Ana Rute Silva
JORGE TALIXA
06/04/2014 - 09:07
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