25 de Abril: mês zero

Projeto de programa do MFA ultimado e entregue, em separado, a Spínola e Costa Gomes. Até à versão final de 21 de Abril, os dois generais vão propondo (ou impondo) alterações "moderadoras".

Mês de permanente troca de informações (com quem se pode contar? com que unidades? que armas e equipamentos?), de inúmeras reuniões, de preparação e organização da operação, finalmente (poucos dias antes) fixada para a madrugada de 25.

Decidida a emissão de dois sinais para confirmação do início das operações. Escolhida a "Grândola", a ser emitida na Renascença (em substituição de "Venham mais cinco", proibida nesta estação), e, por segurança, outra a emitir logo às 23h de 24 nos Emissores Associados: "E depois do adeus" (com que Paulo de Carvalho ficou em penúltimo no recente Festival da Canção, e que agora terá mais sorte).

Enfim, a 25, os chaimites na rua - e a malta também.

Padres missionários italianos e portugueses enviam, com cobertura do bispo de Nampula, uma exposição à Conferência Episcopal de Moçambique, que os colonos brancos locais consideram subversiva. Violentas manifestações no dia 10 forçam a expulsão dos autores, logo seguida da do próprio bispo, que chega a Lisboa a 15.

O ministro Daniel Barbosa assina os contratos para prospecção de petróleo na costa portuguesa com os grupos internacionais que irão operar em doze áreas offshore concessionadas pelo governo. "Promessa centenária" - o título de uma das muitas notícias e comentários que a imprensa dedica ao assunto. A promessa de liberdade tinha, essa, só 48 anos, e vai cumprir-se mais cedo. O eterno sonho do petróleo veio a ser substituído por subsídios da CEE (com "abastecimento" já garantido até 1998).

Na semana anterior ao 25 de Abril, é publicado um conjunto de diplomas visando a reestruturação das Bolsas de Lisboa e Porto (onde a especulação estava de novo a embalar).

O Ministro das Corporações, Silva Pinto, diz em Madrid que a solução federativa proposta para "o Ultramar" no livro de Spínola "não passa de uma tese meramente teórica, porventura suscitadora de discussões e debates, mas de qualquer modo sem apoio nas realidades e tradições historico-políticas".

Nota da DGS informa ter havido 15 prisões em Lisboa e outras tantas no Porto "em ligação com acções revolucionárias a desencadear no 1º de Maio", e terem sido apreendidos nas oficinas do "Notícias da Amadora" milhares de panfletos revolucionários [faltavam poucos dias para o 1º de Maio fosse instituído como feriado nacional, com a designação de "Dia do Trabalhador"].

Dirigentes políticos aproveitam as férias da Páscoa para descansar. Elmano Alves, presidente da Comissão Executiva da ANP, foi visto a "fazer animadas compras no Preciados da linda cidade de Badajoz".

Apresentado um terceiro pedido para uma fábrica de cloro em Sines, sendo agora candidatos a CUF, a UNITECA e a SODA PÓVOA. Rogério Martins é nomeado presente da ALFA Portuguesa, empresa que irá produzir em Sines 60 mil carros por ano do modelo Alfa-Sud (da Alfa-Romeu, parceira no investimento). Inspirado pelo triunfalismo habitual do Gabinete da área de Sines, comenta o "Expresso": "Continua a verificar-se o interesse de múltiplas empresas portuguesas e estrangeiras pela localização em Sines". Acabou por nenhum ir para lá, nem estas, nem outras que o "poder democrático" tem periodicamente vindo a anunciar, até hoje.

Champalimaud requer ao Ministério da Marinha autorização para estabelecer e explorar uma frota de navegação de longo-curso para "servir o comércio de Angola e Moçambique". Sorte teve ele em não ter chegado a comprar os barquinhos.

O governo enviou à Assembleia Nacional para votação, com pedido de urgência, a Lei sobre Defesa do Consumidor. Reflexão de um jornalista: "Eis que a Assembleia tem uma lei de grande alcance social para discutir e votar, e não se sabe como vai ter tempo, até 30 de Abril, data do seu encerramento, para ponderar". O tempo de discussão iria, afinal, ser bem mais curto ainda...

No top dos livros vendidos em Lisboa, o último romance de Namora passa à frente de Spínola (na verdade, este tinha-se esgotado em poucos dias). Em 5º lugar da lista surge uma "Enciclopédia Ilustrada do Sexo", cujos compradores mal sonhavam o que aí vinha e tanto iria preocupar o general Galvão de Melo (e, mais tarde, o general Vasco Gonçalves). Cavaco, com o seu "retorno aos valores morais", está na linha dos seus puritanos antecessores.

Da "Vida Mundial": "Iraque - Curdos em Armas", "Ulster - Um plano para a paz". Há vinte anos.

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25 de Abril, 2014 - 01:07h