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O contributo de um político sem qualidades
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O contributo de um político sem qualidades
Ironia da história: a demissão de João Soares foi o seu melhor contributo à coisa pública.
“À mulher de César não basta ser virtuosa, é preciso que o pareça”. Dos ministros, e titulares de órgãos de soberania num regime democrático, espera-se não só a capacidade de exercício dos seus cargos mas também a consciência dos critérios éticos por que se têm de reger e a noção clara de que estão sujeitos ao escrutínio público.
São requisitos que manifestamente faltaram ao ministro sem qualidades que foi João Soares. A sua demissão é duplamente saudável, porque não tinha competências na área que tutelava e porque nunca compreendeu os padrões de comportamento e expressão pública que se exigem a um ministro.
O primeiro-ministro teve ocasião de afirmar que tinha recordado “aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”. Mas, na continuidade de velhas práticas suas, João Soares a essa indicação disse nada e preferiu manter costumes anteriores, o que já em si é uma falta de lealdade para com o primeiro-ministro e o Governo que integrava.
Atingido por essa verdadeira síndrome das redes sociais, que aliás internacionalmente já fez cair diversos ministros e responsáveis públicos, João Soares, numa frenética actividade no Facebook, o pessoal e o político, a gabarolice e a bajulação com a grosseria insultuosa, culminando em ataques a dois colunistas do PÚBLICO, inqualificáveis porque atentatórios da liberdade de expressão e tanto mais quando provindos de um ministro.
Azar dele, não teve a noção de que as redes sociais, com as partilhas e as caixas de comentários, são um instrumento de dois gumes, em que também o feitiço se pode voltar contra o feiticeiro, gerando fortíssimas reacções. Foi o caso dos seus insultos, deixando-o numa posição insustentável.
Não sendo inédita (recordem-se os anteriores casos, por muito diferentes razões, dos ministros Carlos Borrego, Pedro Lynce, Martins da Cruz, Manuel Pinho, Miguel Relvas e Miguel Macedo), esta demissão é também tanto mais saudável quanto vem recordar os padrões de conduta que se exigem aos governantes, bem como o papel da opinião pública.
Ironia da história: a demissão de João Soares, o mais clamoroso momento de uma desastrada carreira de político sem qualidades, foi o seu melhor contributo à coisa pública, precisamente por vir recordar a exigência desses padrões éticos e do escrutínio público.
Crítico
AUGUSTO M. SEABRA
08/04/2016 - 18:21
Público
“À mulher de César não basta ser virtuosa, é preciso que o pareça”. Dos ministros, e titulares de órgãos de soberania num regime democrático, espera-se não só a capacidade de exercício dos seus cargos mas também a consciência dos critérios éticos por que se têm de reger e a noção clara de que estão sujeitos ao escrutínio público.
São requisitos que manifestamente faltaram ao ministro sem qualidades que foi João Soares. A sua demissão é duplamente saudável, porque não tinha competências na área que tutelava e porque nunca compreendeu os padrões de comportamento e expressão pública que se exigem a um ministro.
O primeiro-ministro teve ocasião de afirmar que tinha recordado “aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”. Mas, na continuidade de velhas práticas suas, João Soares a essa indicação disse nada e preferiu manter costumes anteriores, o que já em si é uma falta de lealdade para com o primeiro-ministro e o Governo que integrava.
Atingido por essa verdadeira síndrome das redes sociais, que aliás internacionalmente já fez cair diversos ministros e responsáveis públicos, João Soares, numa frenética actividade no Facebook, o pessoal e o político, a gabarolice e a bajulação com a grosseria insultuosa, culminando em ataques a dois colunistas do PÚBLICO, inqualificáveis porque atentatórios da liberdade de expressão e tanto mais quando provindos de um ministro.
Azar dele, não teve a noção de que as redes sociais, com as partilhas e as caixas de comentários, são um instrumento de dois gumes, em que também o feitiço se pode voltar contra o feiticeiro, gerando fortíssimas reacções. Foi o caso dos seus insultos, deixando-o numa posição insustentável.
Não sendo inédita (recordem-se os anteriores casos, por muito diferentes razões, dos ministros Carlos Borrego, Pedro Lynce, Martins da Cruz, Manuel Pinho, Miguel Relvas e Miguel Macedo), esta demissão é também tanto mais saudável quanto vem recordar os padrões de conduta que se exigem aos governantes, bem como o papel da opinião pública.
Ironia da história: a demissão de João Soares, o mais clamoroso momento de uma desastrada carreira de político sem qualidades, foi o seu melhor contributo à coisa pública, precisamente por vir recordar a exigência desses padrões éticos e do escrutínio público.
Crítico
AUGUSTO M. SEABRA
08/04/2016 - 18:21
Público
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