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O multiculturalismo sem política
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O multiculturalismo sem política
O multiculturalismo, que na tradição portuguesa tornou célebre o nome de Gilberto Freyre, mal entendido no seu próprio Brasil, foi traduzido na política europeia pela abertura das fronteiras à entrada de emigrantes vindos das áreas pobres do mundo em busca de trabalho e de futuro. De facto, e bastaria a exigência social do tempo, nem foram integrados nos países de acolhimento nem receberam sempre a real proteção das leis, designadamente as do trabalho. Assim, formaram-se multidões e não comunidades. A violência eclodiu em mais do que uma das cidades, onde os arrabaldes aglomeraram esses emigrantes, e a violência da multidão em cólera teve mais do que uma manifestação, como em Paris, em Madrid, em Setúbal.
Como notou Frédéric Charillon, a agitação, a provocação, a contestação, a estratégia do turbilhão tornou-se uma ameaça constante. Um clima de islamofobia instalou-se na Europa, onde em 2010 as estatísticas apontavam para 25 milhões de habitantes muçulmanos, sem se ter verificado o otimismo de autores como J. Cesar ("L"islam en Europe", Cahiers d"Etudes Sur la Mediterranée Orientale et le Monde Turco-Iranien, n.º 33, 2006) no sentido de que "o islão muda a Europa tanto quanto a Europa muda o islão". Certo é que o Mediterrâneo se transformou num cemitério e que o terrorismo, em vez de se manter como esporádica ação de um grupo em rede sem articulação, acabou por inspirar o regresso da memória, o ataque aos cristãos em particular e aos ocidentais em geral, com a forma de Estado em expansão, o autoproclamado Estado Islâmico, sem limites nem à crueldade nem à esperança de recompensa no céu das recompensas, e sem limites à ambição do regresso do poder político imperial.
É por isso que a questão do convívio pacífico, respeitoso, e cooperante das religiões institucionalizadas é uma exigência mundial para a paz nos nossos atribulados dias: um Conselho das Igrejas institucionalizadas, na ONU, ao lado do Conselho de Segurança, não deve ser adiado, ou o globalismo verá acentuar o seu carácter atual de anarquia mundial. As cenas de crueldade, que os meios de comunicação divulgam sem pensar se espalham a vontade de reagir ou o medo, envolvem sobretudo cristãos. O massacre dos cristãos coptas, ajoelhados em fila, não mostram no rosto de qualquer dos mártires um sinal de medo - nem sequer a pergunta - Pai, porque me abandonaste? Mas todos devemos tomar como exemplo e perguntar se não é necessário esclarecer se a comunidade internacional está a cumprir o dever de não esquecer a responsabilidade pela segurança, paz e desenvolvimento.
Entretanto, devemos tomar nota, seguindo Razmig Keucheyan, de que os militares, estudando a estratégia contra o terrorismo, colocam em evidência a relação entre a eficácia do método e o número crescente de "Estados falhados", um tema que ocupa os teorizadores do Pentágono. Tendo em conta que as mudanças climáticas têm a sua parte na falência dos Estados, cresce o número desses failed states, que não podem garantir "segurança, crescimento, justiça, igualdade perante a lei", o que tudo permitirá aos terroristas, mesmo na recente forma de Estado, que facilmente se instalem no terreno, aproveitando da situação sem esperança das populações. Mais uma razão para reanimar a intervenção da ONU, percebendo que é a paz global que vai enfraquecendo diariamente. E que a sonhada ordem global é substituída pela anarquia.
Por isso Kofi Annan, já em 2005 como secretário-geral da ONU, num relatório intitulado "Numa liberdade maior: desenvolvimento, segurança, e direitos do homem", afirmava que a guerra entre Estados não era senão uma das ameaças entre outras, e que originou uma linha de investigação sobre o "princípio para o empenhamento internacional em relação aos Estados frágeis e às situações precárias". A questão do terrorismo obriga a incluir na meditação, incluindo a União Europeia, se é possível e como evitar o crescimento dos Estados em situação precária frente à ofensiva em curso.
Numa Europa sem conceito estratégico já foi recomendado, pela responsável pela Política Externa e Segurança da União, a constituição de um exército europeu. A segurança exige mais do que isso. E um dos motivos de receio crescente das populações é que a definição global de segurança não parece ter constado das urgências da União, até que o perigo se transformou em guerra efetiva. E a questão da ideologia orçamentista encontra mais um desafio que é o da não previsão de recursos financeiros exigíveis por uma paz garantida pela segurança. Mas o perigo da querela da paz não pode adiar os esforços - que exigem tempo - para que a integração encontre uma política responsável. A expulsão e a retirada da nacionalidade, tendo por motivo apenas a religião e a etnia, aos que já adquiriram não é uma medida nem justa nem pacífica.
13 DE ABRIL DE 2016
00:02
Adriano Moreira
Diário de Notícias
Como notou Frédéric Charillon, a agitação, a provocação, a contestação, a estratégia do turbilhão tornou-se uma ameaça constante. Um clima de islamofobia instalou-se na Europa, onde em 2010 as estatísticas apontavam para 25 milhões de habitantes muçulmanos, sem se ter verificado o otimismo de autores como J. Cesar ("L"islam en Europe", Cahiers d"Etudes Sur la Mediterranée Orientale et le Monde Turco-Iranien, n.º 33, 2006) no sentido de que "o islão muda a Europa tanto quanto a Europa muda o islão". Certo é que o Mediterrâneo se transformou num cemitério e que o terrorismo, em vez de se manter como esporádica ação de um grupo em rede sem articulação, acabou por inspirar o regresso da memória, o ataque aos cristãos em particular e aos ocidentais em geral, com a forma de Estado em expansão, o autoproclamado Estado Islâmico, sem limites nem à crueldade nem à esperança de recompensa no céu das recompensas, e sem limites à ambição do regresso do poder político imperial.
É por isso que a questão do convívio pacífico, respeitoso, e cooperante das religiões institucionalizadas é uma exigência mundial para a paz nos nossos atribulados dias: um Conselho das Igrejas institucionalizadas, na ONU, ao lado do Conselho de Segurança, não deve ser adiado, ou o globalismo verá acentuar o seu carácter atual de anarquia mundial. As cenas de crueldade, que os meios de comunicação divulgam sem pensar se espalham a vontade de reagir ou o medo, envolvem sobretudo cristãos. O massacre dos cristãos coptas, ajoelhados em fila, não mostram no rosto de qualquer dos mártires um sinal de medo - nem sequer a pergunta - Pai, porque me abandonaste? Mas todos devemos tomar como exemplo e perguntar se não é necessário esclarecer se a comunidade internacional está a cumprir o dever de não esquecer a responsabilidade pela segurança, paz e desenvolvimento.
Entretanto, devemos tomar nota, seguindo Razmig Keucheyan, de que os militares, estudando a estratégia contra o terrorismo, colocam em evidência a relação entre a eficácia do método e o número crescente de "Estados falhados", um tema que ocupa os teorizadores do Pentágono. Tendo em conta que as mudanças climáticas têm a sua parte na falência dos Estados, cresce o número desses failed states, que não podem garantir "segurança, crescimento, justiça, igualdade perante a lei", o que tudo permitirá aos terroristas, mesmo na recente forma de Estado, que facilmente se instalem no terreno, aproveitando da situação sem esperança das populações. Mais uma razão para reanimar a intervenção da ONU, percebendo que é a paz global que vai enfraquecendo diariamente. E que a sonhada ordem global é substituída pela anarquia.
Por isso Kofi Annan, já em 2005 como secretário-geral da ONU, num relatório intitulado "Numa liberdade maior: desenvolvimento, segurança, e direitos do homem", afirmava que a guerra entre Estados não era senão uma das ameaças entre outras, e que originou uma linha de investigação sobre o "princípio para o empenhamento internacional em relação aos Estados frágeis e às situações precárias". A questão do terrorismo obriga a incluir na meditação, incluindo a União Europeia, se é possível e como evitar o crescimento dos Estados em situação precária frente à ofensiva em curso.
Numa Europa sem conceito estratégico já foi recomendado, pela responsável pela Política Externa e Segurança da União, a constituição de um exército europeu. A segurança exige mais do que isso. E um dos motivos de receio crescente das populações é que a definição global de segurança não parece ter constado das urgências da União, até que o perigo se transformou em guerra efetiva. E a questão da ideologia orçamentista encontra mais um desafio que é o da não previsão de recursos financeiros exigíveis por uma paz garantida pela segurança. Mas o perigo da querela da paz não pode adiar os esforços - que exigem tempo - para que a integração encontre uma política responsável. A expulsão e a retirada da nacionalidade, tendo por motivo apenas a religião e a etnia, aos que já adquiriram não é uma medida nem justa nem pacífica.
13 DE ABRIL DE 2016
00:02
Adriano Moreira
Diário de Notícias
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