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Uma pergunta novinha: a geringonça ganhou?
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Uma pergunta novinha: a geringonça ganhou?
1. Seis meses depois, vale a pena fazer a pergunta e, já agora, arriscar algumas respostas. À primeira vista, se olharmos para o lado institucional, temos de reconhecer que sim.
Tem dúvidas? Ora reveja o filme desta semana: três partidos à esquerda a celebrar Abril com elogios a um Presidente que se diz de centro-direita e pede consensos (imaginem isto há sete meses!); Catarina Martins a dizer que não é preciso votar um Programa de Estabilidade "para não criar problemas". Isso mesmo, "não criar problemas" - ao governo, ao PS, ao país. Breaking news: o Bloco chegou ao poder e já que sabe o que isso representa. Contradições com o que dizia antes, sim, mas também uma certa dose de realismo. Benevolamente, chamo-lhe dores de crescimento.
Mas vou mais longe - e sem ironia. Ouvi e aceito um argumento de Daniel Oliveira, no Fórum TSF de ontem: não faz sentido criticar a esquerda por "só" estar unida por oposição às políticas da direita, porque é isso que é suposto acontecer na política. Ora pergunte-se: o que mais juntou PSD e CDS nos últimos quinze anos? E porque é que havia de ser diferente à esquerda?
Sim, a geringonça funciona. Tem dado mais estabilidade do que todos imaginámos, tem ultrapassado obstáculos difíceis. E também porque Catarina Martins e Jerónimo de Sousa assumiram um risco grande: o de mudar os seus partidos, levando-os a assumir um ónus da governação. Gosto disso, genuinamente: estando dentro, Bloco e PCP terão mais informação, construirão melhores propostas, terão maior noção dos constrangimentos, têm também maior responsabilidade.
2. Mas dizer que a geringonça funciona não é responder a outra pergunta: a governação terá vingado?
A estratégia estará a dar frutos?
Não, não parto do pressuposto que se vai ouvindo à direita, de que tudo isto que a esquerda tem feito é só a pensar em eleições, que não há sequer nos documentos do governo uma estratégia. Há, claro que há. Desde logo mais investimento na Educação, mais investimento nas tecnologias, mais investimento na Ciência. Faz sentido, sim, mas nem é aí que conseguimos distinguir hoje a esquerda e a direita.
A questão é que tudo isso só tem efeitos lá longe, no médio prazo. E daí que me sobre a dúvida: em que estado é que chegamos lá?
Volto ao Fórum TSF de ontem, porque me retirei bons dados da discussão. Dizia lá Miguel Poiares Maduro que lhe parece que toda a gestão política desta "geringonça" é feita com olhos no curto prazo. Aumento do salário mínimo, devolução de rendimentos de uma só vez, reversões de privatizações e concessões, na política laboral, até nas políticas ativas de emprego (que eram, até há pouco tempo, uma bandeira da esquerda). É aqui que está a diferença: nas políticas de curto prazo. E aqui a esquerda tem o acento tónico não nas empresas mas nas famílias, no consumo e no curto prazo - esperando que isto tenha efeitos rápidos, para que os sinais apareçam e a "geringonça" aguente.
E chegamos aqui à encruzilhada: será difícil a Catarina e a Jerónimo aguentarem os seus partidos se os efeitos económicos não aparecerem rápido. Mas também é difícil aos empresários terem a confiança para investir enquanto os resultados não forem sólidos - e enquanto não perceberem se a esquerda aguenta. Sim, esta é a típica pergunta "o que aparece primeiro: o ovo ou a galinha?" Arrisca uma resposta?
3. É por tudo isto que é cedo, mesmo muito cedo, para sabermos se a geringonça ganhou. O que podemos é olhar para os sinais - e eles ainda são incipientes e difíceis de avaliar. Os indicadores de confiança estão no mesmo nível que estavam em outubro; o desemprego idem aspas; já o emprego regista menos 20 mil empregos do que tínhamos há seis meses; a balança comercial, essa, não se mostra em grande forma.
E pronto, eis a minha resposta à pergunta do título: sim, a geringonça funciona - não sabemos é se anda.
PS 1 - Andamos meio distraídos com tanta informação e nem temos olhado devidamente para o que se passa - outra vez - na Grécia. Há um ano que Tsipras e a troika não fecham a primeira avaliação do segundo resgate. Há semanas que o Estado voltou a não ter dinheiro. Agora há um novo deadline: 9 de maio, segunda-feira. E o estado de espírito não indicia nada de bom. Isto era só para lembrar que há geringonças piores do que a que temos cá.
PS 2 - Foi aqui, no DN, que conheci a Lília Bernardes. É aqui que me despeço dela, a jornalista que respeitei muito e de quem fiquei amigo. Sentimos a tua falta, Lília. Mesmo muito.
30 DE ABRIL DE 2016
00:03
David Dinis
Diário de Notícias
Tem dúvidas? Ora reveja o filme desta semana: três partidos à esquerda a celebrar Abril com elogios a um Presidente que se diz de centro-direita e pede consensos (imaginem isto há sete meses!); Catarina Martins a dizer que não é preciso votar um Programa de Estabilidade "para não criar problemas". Isso mesmo, "não criar problemas" - ao governo, ao PS, ao país. Breaking news: o Bloco chegou ao poder e já que sabe o que isso representa. Contradições com o que dizia antes, sim, mas também uma certa dose de realismo. Benevolamente, chamo-lhe dores de crescimento.
Mas vou mais longe - e sem ironia. Ouvi e aceito um argumento de Daniel Oliveira, no Fórum TSF de ontem: não faz sentido criticar a esquerda por "só" estar unida por oposição às políticas da direita, porque é isso que é suposto acontecer na política. Ora pergunte-se: o que mais juntou PSD e CDS nos últimos quinze anos? E porque é que havia de ser diferente à esquerda?
Sim, a geringonça funciona. Tem dado mais estabilidade do que todos imaginámos, tem ultrapassado obstáculos difíceis. E também porque Catarina Martins e Jerónimo de Sousa assumiram um risco grande: o de mudar os seus partidos, levando-os a assumir um ónus da governação. Gosto disso, genuinamente: estando dentro, Bloco e PCP terão mais informação, construirão melhores propostas, terão maior noção dos constrangimentos, têm também maior responsabilidade.
2. Mas dizer que a geringonça funciona não é responder a outra pergunta: a governação terá vingado?
A estratégia estará a dar frutos?
Não, não parto do pressuposto que se vai ouvindo à direita, de que tudo isto que a esquerda tem feito é só a pensar em eleições, que não há sequer nos documentos do governo uma estratégia. Há, claro que há. Desde logo mais investimento na Educação, mais investimento nas tecnologias, mais investimento na Ciência. Faz sentido, sim, mas nem é aí que conseguimos distinguir hoje a esquerda e a direita.
A questão é que tudo isso só tem efeitos lá longe, no médio prazo. E daí que me sobre a dúvida: em que estado é que chegamos lá?
Volto ao Fórum TSF de ontem, porque me retirei bons dados da discussão. Dizia lá Miguel Poiares Maduro que lhe parece que toda a gestão política desta "geringonça" é feita com olhos no curto prazo. Aumento do salário mínimo, devolução de rendimentos de uma só vez, reversões de privatizações e concessões, na política laboral, até nas políticas ativas de emprego (que eram, até há pouco tempo, uma bandeira da esquerda). É aqui que está a diferença: nas políticas de curto prazo. E aqui a esquerda tem o acento tónico não nas empresas mas nas famílias, no consumo e no curto prazo - esperando que isto tenha efeitos rápidos, para que os sinais apareçam e a "geringonça" aguente.
E chegamos aqui à encruzilhada: será difícil a Catarina e a Jerónimo aguentarem os seus partidos se os efeitos económicos não aparecerem rápido. Mas também é difícil aos empresários terem a confiança para investir enquanto os resultados não forem sólidos - e enquanto não perceberem se a esquerda aguenta. Sim, esta é a típica pergunta "o que aparece primeiro: o ovo ou a galinha?" Arrisca uma resposta?
3. É por tudo isto que é cedo, mesmo muito cedo, para sabermos se a geringonça ganhou. O que podemos é olhar para os sinais - e eles ainda são incipientes e difíceis de avaliar. Os indicadores de confiança estão no mesmo nível que estavam em outubro; o desemprego idem aspas; já o emprego regista menos 20 mil empregos do que tínhamos há seis meses; a balança comercial, essa, não se mostra em grande forma.
E pronto, eis a minha resposta à pergunta do título: sim, a geringonça funciona - não sabemos é se anda.
PS 1 - Andamos meio distraídos com tanta informação e nem temos olhado devidamente para o que se passa - outra vez - na Grécia. Há um ano que Tsipras e a troika não fecham a primeira avaliação do segundo resgate. Há semanas que o Estado voltou a não ter dinheiro. Agora há um novo deadline: 9 de maio, segunda-feira. E o estado de espírito não indicia nada de bom. Isto era só para lembrar que há geringonças piores do que a que temos cá.
PS 2 - Foi aqui, no DN, que conheci a Lília Bernardes. É aqui que me despeço dela, a jornalista que respeitei muito e de quem fiquei amigo. Sentimos a tua falta, Lília. Mesmo muito.
30 DE ABRIL DE 2016
00:03
David Dinis
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