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A pergunta decisiva
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A pergunta decisiva
Existe na economia portuguesa uma questão candente, central, decisiva, que subjaz a todas as outras: porque não cresce o investimento? É espantoso que ela esteja quase ausente do debate político e mediático, o que diz muito acerca do seu alheamento face ao interesse nacional.
Ninguém duvida que a falta de crescimento constitui o elemento central das nossas dificuldades económicas. Com a economia próspera, todos os apertos orçamentais e angústias bancárias esfumar-se--iam. Pelo contrário, na sua ausência, até actividades saudáveis dão sinais preocupantes. Por outro lado, é evidente que sem investimento a economia não cresce. Dado termos trabalhadores disponíveis, liberdade de iniciativa e mercados abertos, a falta de capital resume a origem do nosso bloqueio.
Ora os valores do investimento dão os sinais mais aterradores, nunca vistos na nossa economia. Depois da maior queda da história registada, que o reduziu quase a metade (contraiu 42% do terceiro trimestre de 2001 ao primeiro de 2013), seguiu-se uma recuperação medíocre e insuficiente. Apesar de a economia estar a crescer desde 2013 e a taxa de desemprego ter descido cinco pontos percentuais, de 17,5% para 12,4%, o investimento total caiu em cinco dos últimos treze trimestres e registou uma taxa homóloga -0,6% no princípio deste ano. Acumulado, só subiu 13% desde o início de 2013. O seu peso no produto, que andava acima de 30% nos anos 1970, era de 25% quando entrámos na CEE em 1986 e 28% quando entrámos no euro em 1999, anda agora pelos 15%. Valores assim são evidentemente inferiores aos mínimos que permitem manter o stock capital. Podemos pois dizer com segurança que Portugal está a desinvestir em termos líquidos desde 2011, deixando degradar a capacidade empresarial instalada.
Com todos os sinais de perigo no máximo, era de esperar que o problema dominasse as atenções de todos os responsáveis políticos ou económicos; mas, a julgar pelo que dizem, estão beatificamente alheios à questão. Os dramas que os angustiam são a reposição de ordenados e pensões, aumento de consumo, redução do horário de trabalho e do IVA da restauração, para não falar das barrigas de aluguer e afins. Parecem não entender que, na falta de investimento, muito disso e outras coisas a que estamos habituados serão perdidas no futuro próximo, junto com a solidez da banca, crescimento dos salários, criação de emprego, receitas fiscais e outros temas que, no fragoroso debate ideológico, ainda ocupam as suas piedosas intenções.
Mas afinal, se a questão decisiva da economia portuguesa é saber por que não cresce o investimento, qual a razão dessa terrível situação? A resposta está precisamente no enviesamento dos debates e temas que ocupam as autoridades. Quem é que, português ou sobretudo estrangeiro, quererá investir num país com esta governação? Os empresários não são estúpidos e sentem bem o clima político. Num mundo globalizado é difícil um país atrair empreendimentos de valor, mesmo quando se empenha nesse sentido. Quando se ignora a questão, dedicando-se a distribuir benesses que ainda não foram produzidas, os investimentos não só não vêm, mas até se perdem os que se tinham. Assim não é difícil explicar por que o investimento não cresce. Estranho é que ainda exista algum.
Esta foi a razão que, ao longo de 40 anos, fez o Partido Socialista sempre recusar alianças com partidos anticapitalistas e antieuropeus. Não era por razões ideológicas, mas por interesse nacional. Quando, por jogada táctica, se inverteu a opção, sofrem-se os custos correspondentes. Pode dizer-se que, tudo somado, o governo até nem é extremista, não envereda por loucuras radicais, não desmantela os pilares da economia, e até prometeu cumprir as odiadas imposições comunitárias. Mas se isso é uma agradável e preciosa surpresa, não chega para levar alguém a apostar milhões aqui. A qualquer momento, por negociação ocasional ou capricho eleitoralista, podem mudar os impostos ou regulamentos, impor interesses sindicais ou nacionalizar negócios. Mesmo que os responsáveis jurassem que nunca o fariam, e ninguém os ouviu dizer tal coisa, a genética aponta nesse sentido. E não apenas a genética, mas o ruído que, da plateia, os partidos que apoiam o governo continuam a fazer.
A decisão histórica de António Costa, que transformou brilhantemente uma derrota eleitoral em vitória parlamentar, congelou o crescimento e investimento. A economia ainda anda por impulso, até ao colapso próximo. E isso não é questão, porque não levanta dúvidas.
04 DE AGOSTO DE 2016
00:01
João César das Neves
Diário de Notícias
Ninguém duvida que a falta de crescimento constitui o elemento central das nossas dificuldades económicas. Com a economia próspera, todos os apertos orçamentais e angústias bancárias esfumar-se--iam. Pelo contrário, na sua ausência, até actividades saudáveis dão sinais preocupantes. Por outro lado, é evidente que sem investimento a economia não cresce. Dado termos trabalhadores disponíveis, liberdade de iniciativa e mercados abertos, a falta de capital resume a origem do nosso bloqueio.
Ora os valores do investimento dão os sinais mais aterradores, nunca vistos na nossa economia. Depois da maior queda da história registada, que o reduziu quase a metade (contraiu 42% do terceiro trimestre de 2001 ao primeiro de 2013), seguiu-se uma recuperação medíocre e insuficiente. Apesar de a economia estar a crescer desde 2013 e a taxa de desemprego ter descido cinco pontos percentuais, de 17,5% para 12,4%, o investimento total caiu em cinco dos últimos treze trimestres e registou uma taxa homóloga -0,6% no princípio deste ano. Acumulado, só subiu 13% desde o início de 2013. O seu peso no produto, que andava acima de 30% nos anos 1970, era de 25% quando entrámos na CEE em 1986 e 28% quando entrámos no euro em 1999, anda agora pelos 15%. Valores assim são evidentemente inferiores aos mínimos que permitem manter o stock capital. Podemos pois dizer com segurança que Portugal está a desinvestir em termos líquidos desde 2011, deixando degradar a capacidade empresarial instalada.
Com todos os sinais de perigo no máximo, era de esperar que o problema dominasse as atenções de todos os responsáveis políticos ou económicos; mas, a julgar pelo que dizem, estão beatificamente alheios à questão. Os dramas que os angustiam são a reposição de ordenados e pensões, aumento de consumo, redução do horário de trabalho e do IVA da restauração, para não falar das barrigas de aluguer e afins. Parecem não entender que, na falta de investimento, muito disso e outras coisas a que estamos habituados serão perdidas no futuro próximo, junto com a solidez da banca, crescimento dos salários, criação de emprego, receitas fiscais e outros temas que, no fragoroso debate ideológico, ainda ocupam as suas piedosas intenções.
Mas afinal, se a questão decisiva da economia portuguesa é saber por que não cresce o investimento, qual a razão dessa terrível situação? A resposta está precisamente no enviesamento dos debates e temas que ocupam as autoridades. Quem é que, português ou sobretudo estrangeiro, quererá investir num país com esta governação? Os empresários não são estúpidos e sentem bem o clima político. Num mundo globalizado é difícil um país atrair empreendimentos de valor, mesmo quando se empenha nesse sentido. Quando se ignora a questão, dedicando-se a distribuir benesses que ainda não foram produzidas, os investimentos não só não vêm, mas até se perdem os que se tinham. Assim não é difícil explicar por que o investimento não cresce. Estranho é que ainda exista algum.
Esta foi a razão que, ao longo de 40 anos, fez o Partido Socialista sempre recusar alianças com partidos anticapitalistas e antieuropeus. Não era por razões ideológicas, mas por interesse nacional. Quando, por jogada táctica, se inverteu a opção, sofrem-se os custos correspondentes. Pode dizer-se que, tudo somado, o governo até nem é extremista, não envereda por loucuras radicais, não desmantela os pilares da economia, e até prometeu cumprir as odiadas imposições comunitárias. Mas se isso é uma agradável e preciosa surpresa, não chega para levar alguém a apostar milhões aqui. A qualquer momento, por negociação ocasional ou capricho eleitoralista, podem mudar os impostos ou regulamentos, impor interesses sindicais ou nacionalizar negócios. Mesmo que os responsáveis jurassem que nunca o fariam, e ninguém os ouviu dizer tal coisa, a genética aponta nesse sentido. E não apenas a genética, mas o ruído que, da plateia, os partidos que apoiam o governo continuam a fazer.
A decisão histórica de António Costa, que transformou brilhantemente uma derrota eleitoral em vitória parlamentar, congelou o crescimento e investimento. A economia ainda anda por impulso, até ao colapso próximo. E isso não é questão, porque não levanta dúvidas.
04 DE AGOSTO DE 2016
00:01
João César das Neves
Diário de Notícias
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