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Empreender por necessidade... e depois?
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Empreender por necessidade... e depois?
Sempre disseram que só os empreendedores criam riqueza e trabalho. Mas pouco fariam, suponho, sem os bons burocratas que mantêm a ‘casa arrumada’
A crise que nos afecta a partir de 2008 empurrou muitos a inventar uma ocupação por conta própria, numa actividade em que se julgava à vontade ou que via com interesse. De facto, a pressão das importações de produtos baratos, de países eficientes, seguida da retracção do consumo interno, criaram crescente desemprego por fecho de empresas, e uma baixa nas remunerações, que contribuiu, em parte, para recuperar a competitividade.
Podia-se pensar que trabalhar em actividades ditadas pela necessidade seria transitório, típico de países pobres onde floresceram os microcréditos. Pode ser assim... Contudo, em variadas situações evoluem para um empreender de oportunidade, com bom rendimento e estabilidade. Depende de quem empreende, da determinação de vencer e da colaboração criada entre pessoas no mesmo sector tentando refazer a sua fonte de receitas.
Entre nós, no sector primário, na agricultura, tem havido sucessos assinaláveis. Temos associações de produtores de certo tipo de fruta ou legumes, com contratos com entidades que investigam e que por um fee de royalty disponibilizam a sua investigação, para se cultivar cá produtos elaborados, assegurando bons mercados de exportação; determinadas variedades de fruta que se aguentam mais tempo na maturação, podem ser exportadas para locais remotos, para consumo em fresco. O Sol é determinante para dar bom sabor, colorido e potencial alimentar que países ricos apreciam.
As cooperativas de comercialização do leite, de flores e outros vegetais ou pecuária, fizeram que nalguns países as famílias recorressem a pequenos créditos para comprar mais vacas ou arrendar terra, vindo a transformar-se em ‘pequenas ou médias empresas’, com bons rendimentos e trabalho para mais pessoas.
Assim, uma ocupação que começa na necessidade, acaba sendo fonte estável, uma oportunidade de satisfazer necessidades duradoiras da sociedade. Tanto nas associações como nas cooperativas, o segredo é: pagar bem ao produtor, para ele produzir mais; pôr no mercado ao melhor preço, para que absorva tudo; e isso só se consegue se as operações próprias (logística, transformação, derivados) se fazem com a maior eficiência.
Será que a situação da procura e oferta de trabalho, no mundo global, virá a equilibrar-se, havendo trabalho para cada um para ganhar a vida e sustentar a família?
A humanidade sempre encontrou soluções imaginativas, com mais ou menos tempo de ansiosa procura. É importante captar as carências da sociedade e os produtos e serviços necessários. Depois, cada um pode definir uma actividade – com base nos conhecimentos e capacitações – criando uma pequena empresa, depois de reunir os dados para dominar o negócio, fazer um estudo e ver que dá os ganhos pretendidos.
Muitas tentativas da vida real ensinam que a primeira, embora aceitável, não é satisfatória: umas vezes, porque tinha um tecto baixo de receitas; outras, porque a previsão inicial era optimista; ou, ainda, porque não satisfazia ao desejo de criar os desejados postos de trabalho. Mas certamente deram confiança e prepararam para algo mais bem pensado, que acaba por ser um bom sucesso, na segunda vez.
Outras tentativas satisfazem plenamente logo à primeira: quase sempre por pura sorte; outras, por intuição apurada, na zona de conforto criada no trabalho anterior, por conta de outrem. Importa dar solidez, com inovações nos produtos, indo a novos mercados, e fazendo produtos afins ou complementares.
Sempre disseram que só os empreendedores criam riqueza e trabalho. Mas pouco fariam, suponho, sem os bons burocratas que mantêm a ‘casa arrumada’, respondendo com rapidez às solicitações que faz a própria burocracia, para lançar novas empresas e ampliar a sua capacidade e alcance.
Professor da AESE e Dirigente da AAPI
EUGÉNIO VIASSA MONTEIRO
03/05/2016 - 07:30
Público
A crise que nos afecta a partir de 2008 empurrou muitos a inventar uma ocupação por conta própria, numa actividade em que se julgava à vontade ou que via com interesse. De facto, a pressão das importações de produtos baratos, de países eficientes, seguida da retracção do consumo interno, criaram crescente desemprego por fecho de empresas, e uma baixa nas remunerações, que contribuiu, em parte, para recuperar a competitividade.
Podia-se pensar que trabalhar em actividades ditadas pela necessidade seria transitório, típico de países pobres onde floresceram os microcréditos. Pode ser assim... Contudo, em variadas situações evoluem para um empreender de oportunidade, com bom rendimento e estabilidade. Depende de quem empreende, da determinação de vencer e da colaboração criada entre pessoas no mesmo sector tentando refazer a sua fonte de receitas.
Entre nós, no sector primário, na agricultura, tem havido sucessos assinaláveis. Temos associações de produtores de certo tipo de fruta ou legumes, com contratos com entidades que investigam e que por um fee de royalty disponibilizam a sua investigação, para se cultivar cá produtos elaborados, assegurando bons mercados de exportação; determinadas variedades de fruta que se aguentam mais tempo na maturação, podem ser exportadas para locais remotos, para consumo em fresco. O Sol é determinante para dar bom sabor, colorido e potencial alimentar que países ricos apreciam.
As cooperativas de comercialização do leite, de flores e outros vegetais ou pecuária, fizeram que nalguns países as famílias recorressem a pequenos créditos para comprar mais vacas ou arrendar terra, vindo a transformar-se em ‘pequenas ou médias empresas’, com bons rendimentos e trabalho para mais pessoas.
Assim, uma ocupação que começa na necessidade, acaba sendo fonte estável, uma oportunidade de satisfazer necessidades duradoiras da sociedade. Tanto nas associações como nas cooperativas, o segredo é: pagar bem ao produtor, para ele produzir mais; pôr no mercado ao melhor preço, para que absorva tudo; e isso só se consegue se as operações próprias (logística, transformação, derivados) se fazem com a maior eficiência.
Será que a situação da procura e oferta de trabalho, no mundo global, virá a equilibrar-se, havendo trabalho para cada um para ganhar a vida e sustentar a família?
A humanidade sempre encontrou soluções imaginativas, com mais ou menos tempo de ansiosa procura. É importante captar as carências da sociedade e os produtos e serviços necessários. Depois, cada um pode definir uma actividade – com base nos conhecimentos e capacitações – criando uma pequena empresa, depois de reunir os dados para dominar o negócio, fazer um estudo e ver que dá os ganhos pretendidos.
Muitas tentativas da vida real ensinam que a primeira, embora aceitável, não é satisfatória: umas vezes, porque tinha um tecto baixo de receitas; outras, porque a previsão inicial era optimista; ou, ainda, porque não satisfazia ao desejo de criar os desejados postos de trabalho. Mas certamente deram confiança e prepararam para algo mais bem pensado, que acaba por ser um bom sucesso, na segunda vez.
Outras tentativas satisfazem plenamente logo à primeira: quase sempre por pura sorte; outras, por intuição apurada, na zona de conforto criada no trabalho anterior, por conta de outrem. Importa dar solidez, com inovações nos produtos, indo a novos mercados, e fazendo produtos afins ou complementares.
Sempre disseram que só os empreendedores criam riqueza e trabalho. Mas pouco fariam, suponho, sem os bons burocratas que mantêm a ‘casa arrumada’, respondendo com rapidez às solicitações que faz a própria burocracia, para lançar novas empresas e ampliar a sua capacidade e alcance.
Professor da AESE e Dirigente da AAPI
EUGÉNIO VIASSA MONTEIRO
03/05/2016 - 07:30
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