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O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
O maravilhoso mercado livre
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O maravilhoso mercado livre
Não devemos abrir a porta a estranhos. Se nos deixarmos comover por um par de estudantes a tentarem ganhar a vida no novo e fantástico mercado livre da luz elétrica, podemos acabar sem luz em casa durante um período longo.
No meu caso, à hora a que escrevo, já lá vão dois dias e meio, e nenhum dos múltiplos vítores e joanas da Goldenergy ou da EDP sabem dizer-me quando deixarei de estar às escuras e sem frigorífico.
Tudo porque, numa tarde de domingo, abri a porta a duas simpáticas jovens que me informaram que a EDP Universal ia acabar, que eu teria de mudar de operadora de eletricidade, e que isso era ótimo porque, no inaugural mercado livre, eu ia poupar muito mais.
Confesso que sou vulnerável à expressão «mais barato». Nos últimos anos, à medida que fui sendo solicitada para um volume cada vez maior de trabalho gratuito e cada vez menor de trabalho pago, tornei-me ainda mais sensível à beleza de palavras como «desconto» ou «redução», quando se trata de pagamentos. Assinei um contrato com a Goldenergy, e não voltei a pensar no assunto, pois nunca recebi uma fatura da dita empresa.
Até que acordei numa casa sem luz. Contactei a empresa. As meninas não tinham apontado a conta bancária, enganaram-se a anotar o meu telefone, e a minha morada estava incompleta – mas isso, só o descobri mais tarde, ao vivo, no balcão da Goldenergy.
Fui pagar aos correios, mandei por email o comprovativo do pagamento, telefonei a saber se o tinham recebido, e um Vítor da Goldenergy garantiu-me que, num máximo de 12 horas úteis, teria a eletricidade reposta, sendo que essas 12 horas só terminavam à meia-noite. Decidi então voltar à velha – pensava eu – EDP.
Tive o cuidado de perguntar à Joana que me atendeu, na EDP-Comercial, se não seria melhor ativar a mudança de contrato apenas após a reativação da eletricidade: garantiu-me que não, que a Goldenergy teria obrigatoriamente de me ligar a luz e que a mudança de contrato não teria qualquer interferência, até porque o novo contrato com a EDP demoraria uns 4 a 5 dias a efetivar-se.
Na manhã seguinte, continuava sem luz. A primeira resposta que tive da Goldenergy foi que a reativação ocorreria ainda durante o dia, não sabiam quando, o pedido estava feito à EDP. E as ‘12 horas úteis’ não eram aquelas todas, eram mesmo as do costume.
Telefonei para o serviço de cortes da EDP-Distribuição, que me informou não ter qualquer pedido da Goldenergy para me repor a eletricidade. Confrontei a Goldenergy com esta informação e o discurso mudou: a Goldenergy não fizera o pedido porque o contrato se encontrava «em trânsito» para outra operadora. A EDP-Comercial, por seu lado, alegava que cabia à Goldenergy tratar da reativação.
Pedi à EDP-Comercial que me cancelasse o projeto de contrato: chamo-lhe ‘projeto’ porque apenas fora tratado telefonicamente – ainda não havia recebido os papéis para assinar.
A EDP, que fora velocíssima a ativar a intenção de contrato, declarou-me que o cancelamento (de um contrato ainda não assinado, sublinho) demoraria muito.
Fui telefonando de hora a hora a uma e outra operadora para saber se o cancelamento do tal esboço de novo contrato já fora comunicado à Goldenergy, para que esta me fizesse a caridade de pedir à EDP- Distribuição a ligação do serviço.
Acabei na sucursal lisboeta da Goldenergy (cuja sede é em Vila Real), onde finalmente encontrei uma funcionária compassiva que me informou da existência de uma «plataforma virtual» e humanamente incontrolável, onde ficam a marinar os contratos em trânsito.
Telefonando dali à EDP, perguntando serenamente onde estava o código de identificação n.º tantos, foi-me confirmado que, de facto, estava «em trânsito», pelo que não sabiam quando nem por quem seria reativado. No limbo. No inferno da escuridão sem perspetivas. É onde continuo.
Ainda caminhei até à esquadra de Polícia, para apresentar queixa. Mas ninguém quis tomar nota: os agentes recambiaram-me para um centro de arbitragem de conflitos de consumo, onde uma senhora me respondeu que, dado o adiantado da hora – 18h30 – mandasse um email para que a situação fosse analisada. Ou passasse por lá no dia seguinte.
Fui comprar velas. Acendi uma à Nossa Senhora da Eletricidade, para me proteger da cobiça e do calvário destinado aos consumidores, simples carne para canhão, na maravilha liberal do Deus do Mercado.
inespedrosa.sol@gmail.com
Inês Pedrosa | 18/05/2016 15:25
SOL
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