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Mensagem por Admin Ter maio 24, 2016 3:59 pm

LÍNGUA E PROXIMIDADE Cronica-ivan-camoes

Aproveitar o nosso potecial - Língua e proximidade.

Uma das principais causas das nossas debilidades económicas enquanto país é a nossa aparente incapacidade de aproveitar as nossas vantagens. O antigo império português permitiu a difusão da nossa cultura e especialmente língua por praticamente todos os continentes. Tal facto, garante a Portugal uma clara vantagem nas relações com as nações e os mercados que outrora fizeram parte da nossa pátria. Por outro lado, a nossa adesão à União Europeia capacita-nos de ferramentas de influência em relação às nações europeias.

Portugal surge aos olhos de potências como a China ou os EUA como uma pequena economia, mas com uma grande capacidade de influência europeia e um papel insubstituível no mundo lusófono. A proximidade cultural permito-nos uma afinidade especial com potências emergentes como o Brasil ou Angola, mas também, com mercados cada vez mais interessantes como Moçambique e Timor-Leste.

Assim sendo, qual a razão para a crónica incapacidade portuguesa de aproveitar as oportunidades a nível dos negócios internacionais? Mais importante, o que impede o nosso país de aproveitar melhor as relações com os seus parceiros da lusofonia e de se tornar num pivot económico entre potências? Aparentemente, estes factores poderão significar a inexistência de um plano coordenado e uma estratégia bem definida daquilo que Portugal quer enquanto ator do palco internacional.

Portugal é de facto um país pequeno, mas é constituído por empresas de excelência, internacionalizadas, e com uma capacidade inovadora impressionante, desde o ramo tecnológico à agricultura. Adicionalmente, produz uma variedade de produtos de alta qualidade onde se inclui o vinho, o azeite, os azulejos, a cortiça e por ai adiante. Considerando estas circunstâncias, alguém um dia me disse que Portugal tinha dos melhores vinhos do mundo, ainda assim, num supermercado em Xangai ou em Pequim apenas se encontram vinhos chilenos ou franceses. A verdade é que possuímos uma série de agências governamentais de apoio à internacionalização, com associações empresariais à mistura, no entanto, a nossa cultura empresarial individualista faz com que haja uma redundância de iniciativas e uma total descoordenação entre estes atores, o que por sua vez cria simultaneamente, uma entropia de processos e um imenso desperdício de recursos. A nossa incapacidade de trabalhar em conjunto faz-nos perder rigor e fulgor no “ataque” aos mercados internacionais.

A falta de uma estratégia global para a internacionalização prejudica também o nosso relacionamento com a CPLP e os restantes parceiros. Não é apenas a cultura individualista neste tópico, é também a indefinição do nosso foco internacional: Afinal vamos focar-nos no interior, para União Europeia, ou apostamos no nosso ADN marítimo e partimos para os países lusófonos?

Os mercados internacionais são altamente competitivos, não havendo muita margem de manobra para falhar. Portanto, primeiramente é necessário foco, tanto nos mercados-alvo principais, como no apoio às empresas. É também imprescindível criar um espírito empresarial de entreajuda, aquilo que os anglo-saxónicos chamam de situações win-win. Por ultimo, um factor-chave, o investimento em estruturas de apoio à internacionalização. Por exemplo, Portugal tem das maiores ZEE a nível europeu, mas simultaneamente tem uma frota mercante com 10 barcos registados com a bandeira nacional.

Depois de termos a “casa arrumada” e os objetivos bem definidos podemos de facto nos tornar num player de valor no jogo económico entre potências, atuando com clareza na comunicação com os mercados externos e com os investidores. Atualmente, no caso do investimento chinês em Portugal, observamos um pouco daquilo que podemos fazer, e que está claramente subaproveitado: A gigante chinesa da China Three Gorges, acionista maioritária da EDP, aposta no mercado energético brasileiro; a State Grid e a REN criam joint-ventures em Angola e Moçambique; Depois da aquisição do BESI, Londres torna-se o centro de operações do Haitong Bank; a Fosun/Fidelidade entra no mercado dos seguros de Moçambique e da União Europeia.

Poderia continuar, mas é fácil de perceber aquilo que esta pequena economia pode fazer em relação ao jogo das grandes potências económicas. Portugal pode jogar este jogo, e pode fazê-lo ombro a ombro se quiser.

Imagem de capa da Revista Veja, S. Paulo.

Miguel Braz
Consultor
24 Maio 2016      14:34
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