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Feios, porcos e maus
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Feios, porcos e maus
É de uma tremenda injustiça - para não dizer de uma deselegância sem nome - concluir que as "pessoas de Trás-os-Montes" são "medonhas, feias e desdentadas", como sentenciou, num acesso público de palermice, José Cid. Mas partir daqui - e o "daqui" são 50 segundos de uma entrevista num programa de humor emitido originalmente em 2010 - para um patamar de raiva e insanidade como aquele a que chegamos revela mais sobre a ausência de civismo de quem reagiu de forma medieval aos disparates do que sobre o infeliz autor dos ditos.
Não restam dúvidas de que José Cid se excedeu. Por muitas razões, mas sobretudo porque propagou uma mentira. Conheço pessoas medonhas em Lisboa, em Braga, no Porto e no Algarve. E feias também. E já convivi com muita gente do "Portugal profundo" (como lhe chama com soberba o autor de "como o macaco gosta de banana") a quem faltam dentes, mas abundam dignidade, sabedoria e amor-próprio de sobra para distribuir pelos concidadãos do Portugal superficial.
Uma opinião atoleimada como esta, reconhecida inclusive pelo próprio, não diz nada sobre os transmontanos. Não os caracteriza. Como não caracteriza os alentejanos afirmar que têm tendências suicidas; como não define os lisboetas insinuar que gostam pouco de trabalhar; como não é justo atribuir aos portuenses tiques de má-criação apenas porque falam com o coração junto à boca.
Mas o mal-amanhado snobismo de José Cid bateu com tanta força no coração desse Portugal que só se mobiliza e indigna nas redes sociais que nem três pedidos de desculpa públicos bastaram. A Internet não condescende perante arrependidos. É um monstro insaciável. Resultado: as ameaças de morte atingiram não só o músico, como foram extensíveis à família e até a Nuno Markl, o entrevistador que, imagine-se, teve o descaramento de se rir de uma piada infeliz. Mas ainda assim uma piada. No caso do humorista, o chorrilho de insultos foi ainda mais avassalador. E nem o pequeno filho escapou à ira coletiva.
Que o Facebook é uma mescla moderna entre os tribunais populares e a nobreza semântica projetada nas portas dos urinóis públicos, já sabia. Que alimenta polémicas viscerais que se esvaziam mais depressa do que um balão de hélio, também. Do que eu não estava à espera era de ver autarcas a alinhar com esta turba justiceira apenas para não ficarem desfocados na fotografia - cancelando concertos e batendo no peito pelo eleitorado - e rádios regionais a censurar, em pleno século XXI, um artista, não pela qualidade duvidosa da sua música (de resto comprovada), mas pelo crime capital de ter proferido, há seis anos, uma graçola desdentada. Quem serão os feios, porcos e maus da próxima semana?
PEDRO IVO CARVALHO, EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO
01 Junho 2016 às 00:05
Jornal de Notícias
Não restam dúvidas de que José Cid se excedeu. Por muitas razões, mas sobretudo porque propagou uma mentira. Conheço pessoas medonhas em Lisboa, em Braga, no Porto e no Algarve. E feias também. E já convivi com muita gente do "Portugal profundo" (como lhe chama com soberba o autor de "como o macaco gosta de banana") a quem faltam dentes, mas abundam dignidade, sabedoria e amor-próprio de sobra para distribuir pelos concidadãos do Portugal superficial.
Uma opinião atoleimada como esta, reconhecida inclusive pelo próprio, não diz nada sobre os transmontanos. Não os caracteriza. Como não caracteriza os alentejanos afirmar que têm tendências suicidas; como não define os lisboetas insinuar que gostam pouco de trabalhar; como não é justo atribuir aos portuenses tiques de má-criação apenas porque falam com o coração junto à boca.
Mas o mal-amanhado snobismo de José Cid bateu com tanta força no coração desse Portugal que só se mobiliza e indigna nas redes sociais que nem três pedidos de desculpa públicos bastaram. A Internet não condescende perante arrependidos. É um monstro insaciável. Resultado: as ameaças de morte atingiram não só o músico, como foram extensíveis à família e até a Nuno Markl, o entrevistador que, imagine-se, teve o descaramento de se rir de uma piada infeliz. Mas ainda assim uma piada. No caso do humorista, o chorrilho de insultos foi ainda mais avassalador. E nem o pequeno filho escapou à ira coletiva.
Que o Facebook é uma mescla moderna entre os tribunais populares e a nobreza semântica projetada nas portas dos urinóis públicos, já sabia. Que alimenta polémicas viscerais que se esvaziam mais depressa do que um balão de hélio, também. Do que eu não estava à espera era de ver autarcas a alinhar com esta turba justiceira apenas para não ficarem desfocados na fotografia - cancelando concertos e batendo no peito pelo eleitorado - e rádios regionais a censurar, em pleno século XXI, um artista, não pela qualidade duvidosa da sua música (de resto comprovada), mas pelo crime capital de ter proferido, há seis anos, uma graçola desdentada. Quem serão os feios, porcos e maus da próxima semana?
PEDRO IVO CARVALHO, EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO
01 Junho 2016 às 00:05
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