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Feios, portos e maus
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Feios, portos e maus
Quem há já muitos anos que lida com os portos e o transporte marítimo no seu dia-a-dia, continua, por vezes, a ficar surpreendido com a forma como o “comum dos mortais” olha para os portos, para os navios e para a actividade do transporte marítimo, fazendo afirmações que por vezes chocam de tão absurdas, revelando, com toda a confiança e convicção, uma total ignorância e desconhecimento da importância que os portos têm para uma sociedade, região ou país, principalmente como o nosso, e como é que tudo funciona e se encaixa de um ponto de vista económico. Com a expressão usada de “comum dos mortais” não se pretende conotar os entendidos em portos como “incomuns dos imortais”, embora por vezes pareçam sê-lo quando fazem previsões e projectos para concessões a 50 e a 90 anos, esperando um dia ver o resultado do seu trabalho e visão.
Porém, esta surpresa não deveria ser algo novo, já que um dos nossos, ainda vivo, ex-Presidentes da República, numa célebre visita à zona que hoje é o actual Parque das Nações, eis Expo98, e que na época era um baldio onde proliferavam parques de contentores, ou pretensos parques de contentores, tendo em consideração as condições precárias dos mesmos, comentou que aquela actividade era algo horrível, com todas aquelas caixas de ferro, algumas com mau aspecto, cada uma da sua cor. “Ainda se fossem todas da mesma cor!” exclamou. Ali tivemos uma demonstração de um ostracismo ao mais alto nível, revelador de uma elevada ignorância, desconhecedor de que aquelas caixas de ferro já eram na altura, e são cada vez mais, o motor da economia Mundial e dos países costeiros em particular.
Exemplos mais recentes que envolveram o projecto de desenvolvimento e ampliação do terminal de Alcântara (Liscont) onde logo surgiu um movimento popular (ou populista) com elevada cobertura da comunicação social e apoio de putativos deputados, que queriam impedir que tal acontecesse, pretendendo que se devolvesse o rio à cidade, acabando com a tal barreira de caixas de ferro e um inerente aumento de circulação de veículos pesados naquela zona.
Noutra altura, quando se ventilou a possibilidade de desenvolvimento de um terminal de águas profundas na Trafaria, com o respectivo fecho da golada, logo se gerou mais um movimento popular contra o eventual projecto, com cordão humano e tudo, defendendo-se para aquela zona mais uma área de lazer, com os respectivos benefícios eleitorais que costumam trazer, mas sem nenhum benefício económico.
Depois surgiu o projecto do “Porto” do Barreiro, como alguns assim lhe chamaram. O qual não fazia sentido para ninguém entendido na matéria, principalmente devido ao excesso de capacidade ainda existente nos terminais de contentores da margem Norte, ou seja em Sta Apolónia (Sotagus e TSA) e em Alcântara (Liscont), o que certamente impediria a rentabilidade de um investimento daquela natureza, visto mais de 80% da origem e destino da carga se situar na margem Norte, ficando a margem Sul prejudicada por maiores custos de transporte rodoviário de e para o novo “porto”.
Eis quando o então Secretário de Estado da altura declara publicamente que os terminais da margem Norte, de Sta Apolónia para montante, isto é, rio acima, seriam para desactivar assim que chegassem ao fim as suas concessões, já não faltando muito tempo. Qual será a ideia? Provavelmente será estender a zona do Parque das Nações até ao Terreiro do Paço num mega projecto imobiliário, devolvendo o rio à cidade ou a alguns da cidade, e aumentar o comprimento do cais para receber mais navios de cruzeiro e ter mais deste tipo de turismo em Lisboa, sem se lembrarem do aumento de circulação de veículos pesados de passageiros que já hoje entopem a zona ribeirinha, estendendo-se até Belém, sem ninguém parecer se importar com isso. Onde estão os deputados de então que estavam tão preocupados com este tipo de aumento de circulação de pesados?
Nada contra. O que é preciso é que existam estratégias bem definidas sobre aquilo que se quer para o país. Se esta estratégia trás mais benefícios económicos do que os custos económicos causados por maiores trajectos das cargas quando estas forem deslocalizadas dos terminais actuais, estamos de acordo.
De facto os portos, ou alguns dos seus terminais, podem ser considerados feios. Temos de reconhecer que uma pilha de carvão, de estilha ou de petcoke1, não tem uma estética abonatória, mas já se utilizam barreiras para melhorar o impacto ambiental e visual negativo deste tipo de cargas, com recurso a… contentores. Que com as suas diferentes cores, ou numa só cor, impedem a proliferação de partículas da carga, de sons da operação portuária e do impacto visual negativo destas cargas.
Afinal parece que os contentores não são assim tão feios. Aliás a nossa saudosa Maluda representou-os por várias vezes nas suas obras de arte, tirando partido da sua policromia e geometria. O que definitivamente os portos e os seus terminais não são é maus.
Para além da viabilidade financeira que os concessionários dos seus espaços obtêm, os portos oferecem benefícios económicos ao país que não devem ser esquecidos e deveriam ser mais enaltecidos, mesmo quando os investimentos públicos, em molhes de protecção e outro tipo de infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento, apresentam resultados financeiros negativos para as administrações portuárias, os benefícios económicos que trazem para as regiões que servem e para o país, compensam largamente esses investimentos, sendo fundamentais para o seu desenvolvimento económico.
Há muito que se sugere que os portos deveriam ter uma acção mais pró-activa na aproximação aos cidadãos das cidades onde se inserem, abrindo os seus portões a visitas de forma a revelar o que ali se faz e qual o impacto que tem na nossa economia, tal como se faz em muitos portos por essa Europa fora, combatendo a ignorância e aversão existentes.
Sem entrar em extremismos como fazer “bunjee jumping” usando os pórticos de contentores quando estão inactivos aos Domingos, conforme surpreendentemente um responsável político e portuário em tempos sugeriu em Lisboa, na altura em que até peças de teatro se realizavam em armazéns portuários, pretendendo parar a operação de navios porque faziam muito barulho e prejudicavam o acto artístico…
Seria conveniente a utilização de uma elevada dose de bom senso e que se coloque o interesse económico do país, que somos todos nós, em primeiro lugar e não quaisquer interesses particulares, regionalistas ou eleitoralistas que possam levar ao subaproveitamento dos poucos recursos que temos, sob pena de estarmos a envenenar a nossa economia e a comprometer o nosso futuro, pelo menos nesta área.
por João Soares, Logimaris
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1 Tipo de carvão derivado da refinação do petróleo bruto
NOTA Por opção do articulista não foram utilizadas as regras do novo acordo ortográfico
07-10-2016
Transportes em Revista
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