O ‘boom’ turístico de Lisboa e Berlim: prós e contras

Se considerarmos o fluxo de turistas entre Portugal e a Alemanha, as relações dos dois países não podiam ser melhores. No ano passado 1,1 milhões de turistas alemães visitaram Portugal e, em 2016, espera-se um aumento de 20%.

O que nos encanta, respetivamente, no outro país? No caso português vêm-nos facilmente respostas à mente. A cultura do sul da Europa, o clima ameno, a arquitetura e ambiente de cidades antigas, iguarias e bons vinhos, mas a lista de argumentos está longe de completa.

Existem novas tendências no ramo do turismo que estão a ser introduzidas em Portugal muito ao agrado dos turistas alemães: ecoturismo e turismo de natureza, herdades com arquitetura típica e cozinha regional. As caminhadas por trilhos sinalizados em parques naturais ou pelas falésias escarpadas no sul de Portugal são atividades que todos os anos atraem mais amantes da natureza. Também os turistas alemães ficam facilmente encantados com essas modalidades. Surgiram novos ramos de turismo sustentável.

Outro dos motivos que explicam o recente ‘boom’ em Portugal prende-se certamente com a sensação de insegurança resultante de ataques terroristas noutros destinos de férias populares. O redirecionamento dos fluxos turísticos para a Península Ibérica surge como consequência direta disso.

Felizmente, em termos de fluxo turístico não se trata apenas de um movimento num único sentido. A Alemanha também se está a tornar cada vez mais atrativa para os turistas portugueses: 145 mil portugueses visitaram-na em 2015. Entre os destinos preferidos encontram-se Berlim, Munique e a Floresta Negra, destacando-se a capital alemã no primeiro lugar das preferências, com 65 mil dormidas por ano. Os jovens portugueses, em particular, sentem-se muito atraídos pela diversidade da oferta cultural e a intensa vida noturna da metrópole alemã.

E esta medalha reluzente também tem um reverso? As queixas em relação ao aumento do número de hotéis e apartamentos turísticos sobem de tom. Em Lisboa, particularmente, receia-se que isso possa alterar a estrutura urbana consolidada de certos bairros, levando à expulsão de quem lá vive há décadas. Os apartamentos de férias e hotéis já tiveram esse efeito em vários bairros tradicionais, nomeadamente em Lisboa.

Nas suas viagens, os turistas esperam desfrutar de um ambiente típico da cidade ou do país que visitam. Se isto deixar de ser o caso e surgir um “sobreaquecimento” do mercado, poderemos assistir à contração deste, daí resultando um excesso da capacidade de oferta. Na Alemanha, esse problema coloca-se especialmente em Berlim. O turismo na capital alemã funciona ao longo de todo o ano, o mercado e a procura de apartamentos de férias cresceu exponencialmente, e os serviços na Internet levaram ao surgimento de um “mercado cinzento” para quartos e apartamentos.

Recentemente entraram em vigor novos regulamentos, registos e tributações, também para arrendatários particulares: medidas necessárias numa cidade com um forte crescimento populacional e uma procura crescente de espaços de habitação. Estamos, assim, perante desafios semelhantes, pelo menos no que diz respeito à atratividade de ambas as capitais. Tenho a certeza de que saberemos responder a esses desafios, tirando também partido da troca mútua de experiências.

O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.

00:05 h
Ulrich Brandenburg, Embaixador da Alemanha em Lisboa
Económico