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Estado de Graça
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Estado de Graça
Sem se saber bem porquê, o País está em estado de graça. É um pouco como aquelas imagens que vemos nos telejornais, ou no Youtube, sobre as horas que antecedem um tsunami: uma calma tremenda e esmagadora abate-se sobre todo o horizonte, o mar recolhe-se e leva a espuma das ondas lá para longe, há uma sensação de bem-estar respirada por todos os poros. É mais ou menos isso que se passa no País. Estado de graça profundo e contagiante. Antecipando a desgraça.
O Governo está em estado de graça. Costa e Catarina estão em estado de graça. Nem mesmo Jerónimo, ou até Passos ou Assunção, perderam a graça. O Presidente da República é ovacionado de cada vez que põe um pé fora de casa; o Benfica está em estado de graça. Rui Vitória está em estado de graça. Até o Sporting e Jorge Jesus estão em estado de graça. O Braga está em estado de graça. E Marcelo está num estado de graça tão grande que até foi Presidente imediatamente antes do Presidente entregar a Taça de Portugal ao vencedor da edição de 2016, e que teve de esperar 50 anos certinhos para receber a taça de um Presidente com as suas cores.
A Uber está em estado de graça. Mas os taxistas também estão em estado de graça. Assim como Ronaldo, Renato Sanches, Slimani, Jonas, João Mário, Adrien Silva ou Rafa. E todos os convocados para a seleção nacional, incluindo o selecionador Fernando Santos. Estão todos em estado de graça. Tem graça, este Estado e o estado a que chegou. Um Estado desgraçado em pleno, abundante e copioso estado de graça. Um Estado com muito pouca graça, sem motivos visíveis para rir ou gracejar, mas teimosa e persistentemente em estado de graça.
O País atravessa um momento como aqueles vividos por personagens complexos e ricos, dos bons livros e dos filmes pesados. Aquele personagem denso, desequilibrado e depressivo que explode numa gargalhada hiperbólica e extemporânea e ri tanto, mas tanto, que as lágrimas lhe brotam humedecendo as pestanas e molhando as bochechas, deixando os olhos raiados de tanto rir, e que num momento que nunca se consegue definir na sua exatidão, troca o riso pelo choro, as mãos agarradas à barriga pelas mãos agarradas à cara, as gargalhadas pelos soluços, sobrando apenas a matéria-prima comum a tudo isto: as lágrimas.
Este estado de graça plantou-se e tem vingado no País exatamente da mesma forma que o leitor já se terá sentido numa situação em que jamais seria suposto rir, como num velório, mas cujo agitado sistema nervoso lhe fecha todas as portas de escape e, tal como uma panela de pressão, lhe deixa apenas um caminho possível: a gargalhada.
É mais ou menos isto que se passa neste país em estado de graça. Quando vamos falhar as regras orçamentais, com o desemprego a aumentar, o setor bancário a asfixiar, com investimentos essenciais no interior do País que ficam irremediavelmente perdidos, como o designado triângulo estratégico do Baixo Alentejo, que unia três vértices desse mesmo distrito de Beja – o porto de Sines, o aeroporto de Beja e Alqueva – foi destorcido e desvirtuado e repuxado para Évora, dando início ao desmantelamento do Baixo Alentejo em nome de uma falsa regionalização que irá engolir investimentos como a A26, a autoestrada do Baixo Alentejo, o comboio, serviços públicos de importância para as populações do Distrito de Beja, ou privados, como a indústria aeronáutica, por exemplo, que em qualquer país coerente funcionaria como parte de um cluster de uma região, junto a um aeroporto e não colocada a 80 quilómetros de distância, criando apenas e tão só uma espécie de jogatana entre dois Alentejos em que o de Évora é o dono da bola obrigando o de Beja a ir à baliza. Que graça tem isto tudo, caro leitor? Pois não. Estou inteiramente de acordo.
Tem graça…
Bruno Ferreira Humorista
03-06-2016 9:32:36
Diário do Alentejo
O Governo está em estado de graça. Costa e Catarina estão em estado de graça. Nem mesmo Jerónimo, ou até Passos ou Assunção, perderam a graça. O Presidente da República é ovacionado de cada vez que põe um pé fora de casa; o Benfica está em estado de graça. Rui Vitória está em estado de graça. Até o Sporting e Jorge Jesus estão em estado de graça. O Braga está em estado de graça. E Marcelo está num estado de graça tão grande que até foi Presidente imediatamente antes do Presidente entregar a Taça de Portugal ao vencedor da edição de 2016, e que teve de esperar 50 anos certinhos para receber a taça de um Presidente com as suas cores.
A Uber está em estado de graça. Mas os taxistas também estão em estado de graça. Assim como Ronaldo, Renato Sanches, Slimani, Jonas, João Mário, Adrien Silva ou Rafa. E todos os convocados para a seleção nacional, incluindo o selecionador Fernando Santos. Estão todos em estado de graça. Tem graça, este Estado e o estado a que chegou. Um Estado desgraçado em pleno, abundante e copioso estado de graça. Um Estado com muito pouca graça, sem motivos visíveis para rir ou gracejar, mas teimosa e persistentemente em estado de graça.
O País atravessa um momento como aqueles vividos por personagens complexos e ricos, dos bons livros e dos filmes pesados. Aquele personagem denso, desequilibrado e depressivo que explode numa gargalhada hiperbólica e extemporânea e ri tanto, mas tanto, que as lágrimas lhe brotam humedecendo as pestanas e molhando as bochechas, deixando os olhos raiados de tanto rir, e que num momento que nunca se consegue definir na sua exatidão, troca o riso pelo choro, as mãos agarradas à barriga pelas mãos agarradas à cara, as gargalhadas pelos soluços, sobrando apenas a matéria-prima comum a tudo isto: as lágrimas.
Este estado de graça plantou-se e tem vingado no País exatamente da mesma forma que o leitor já se terá sentido numa situação em que jamais seria suposto rir, como num velório, mas cujo agitado sistema nervoso lhe fecha todas as portas de escape e, tal como uma panela de pressão, lhe deixa apenas um caminho possível: a gargalhada.
É mais ou menos isto que se passa neste país em estado de graça. Quando vamos falhar as regras orçamentais, com o desemprego a aumentar, o setor bancário a asfixiar, com investimentos essenciais no interior do País que ficam irremediavelmente perdidos, como o designado triângulo estratégico do Baixo Alentejo, que unia três vértices desse mesmo distrito de Beja – o porto de Sines, o aeroporto de Beja e Alqueva – foi destorcido e desvirtuado e repuxado para Évora, dando início ao desmantelamento do Baixo Alentejo em nome de uma falsa regionalização que irá engolir investimentos como a A26, a autoestrada do Baixo Alentejo, o comboio, serviços públicos de importância para as populações do Distrito de Beja, ou privados, como a indústria aeronáutica, por exemplo, que em qualquer país coerente funcionaria como parte de um cluster de uma região, junto a um aeroporto e não colocada a 80 quilómetros de distância, criando apenas e tão só uma espécie de jogatana entre dois Alentejos em que o de Évora é o dono da bola obrigando o de Beja a ir à baliza. Que graça tem isto tudo, caro leitor? Pois não. Estou inteiramente de acordo.
Tem graça…
Bruno Ferreira Humorista
03-06-2016 9:32:36
Diário do Alentejo
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