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Mensagem por Admin Seg Jun 13, 2016 11:39 am

A próxima vez que escrever aqui, o referendo britânico terá sido feito e teremos uma União Europeia nova. Se o Reino Unido ficar, teremos dado um salto no escuro e teremos, pela frente, um redesenho institucional, cujos contornos não são claros.

E provavelmente uma União a várias velocidades, sem que seja claro quais as consequências de estar numa ou noutra. Só a necessidade para o Reino Unido de haver mudanças vai provocar mudanças, no mínimo, sob a forma de uns quantos 'opt-outs'. Mas se o resultado do referendo for no sentido do Reino Unido sair, teremos para a União um salto para o ainda mais escuro, e de mais alto.

Admita-se que Cameron, a figura de proa do "ficar", ganha o referendo. Ora, se metade das regras europeias deixar de se aplicar aos ingleses, haverá de facto duas Uniões Europeias, para não dizer que cada país irá escolher as regras que segue e as que não segue. Há liberdade de circulação de pessoas no espaço europeu? Não na Inglaterra, talvez noutros também não. E a política de defesa será comum? Cada país preencherá uma espécie de boletim de totobola, em que o 1X2 é se está ou não sujeito àquela regra ou política.

Prever hoje o que vai ser a União daqui a cinco anos, nestas condições, é para os Nostradamus e Cagliostros. A Europa vai perder relevância no contexto internacional, porque mais dividida. E se os optimistas podem defender que se pode até fortalecer a coesão no futuro núcleo duro da Europa, resta saber por quem será composto esse núcleo.

Se este futuro parece complexo, a vitória do 'leave' tem mais incerteza e risco. Desde logo, no próprio Reino Unido, onde a campanha está fora de controlo e ficou quase impossível dissociar Brexit de fim do governo Cameron. Cameron apresenta os resultados de um estudo da Treasury, que associa à saída uma redução do PIB de 6%, uma queda da libra de 15% e um aumento do défice de 39 mil milhões de libras, para dias depois dizer que votar 'leave' é imoral, e ser acusado de desonestidade até por ter sido ele a abrir a porta ao anunciar o referendo em plena campanha eleitoral.

Boris Johnson, campeão do ‘leave’ apelidado por alguns de "Trump britânico", responde chamando ao 23 de Junho o dia da independência e dá o mote com "mandamos 350 milhões de libras por semana para a UE; usemo-los nos nossos hospitais", uma descarada meia verdade. Mesmo assim, 45% dos britânicos acreditam nele, o dobro dos que acreditam em Cameron. Instabilidade política que se alastra à Escócia, pró-europeia, que ameaçou deixar o Reino para permanecer na União. Uma caixa de Pandora, portanto.

Mas para a União o futuro fica também mais incerto. Por um lado, sai reforçado o peso da Alemanha, de consequências difíceis de adivinhar, sobretudo quando a França está também num momento de indefinição política. Neste cenário, como disse Klossa, presidente do 'think-tank' Europanova, uma Europa sem Grã-Bretanha, é uma Europa a reinventar. As soluções "velhas" não servem nem são consensuais. Mas até a gestão interna dos países corre o risco de se "referendizar": os candidatos às presidenciais francesas do próximo ano já estão todos a falar de referendos; que vai ser governar, depois disto?

Este referendo está, pois, a mudar muita coisa. O Der Spiegel pedir aos britânicos para não saírem é mais um sinal que o mundo está diferente. Mas é bom que, ao menos desta vez, não se improvise. Já basta de improvisos na construção europeia.

00:05 h
Fernando Pacheco, Economista
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