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Com amigos destes...
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Com amigos destes...
José Sócrates voltou à política. Não que alguma vez tenha saído desse terreno que sente como poucos. Mas agora, em liberdade e sem quaisquer direitos de cidadania diminuídos, está de regresso à intervenção política. Pela terceira vez, no prazo de um mês, o ex-primeiro-ministro pronunciou-se sobre o momento de impasse que vivemos.
Os termos em que o faz denunciam aquela que é a sua agenda - era a mesma até 21 de novembro de 2014 - de ajuste de contas com o atual Presidente da República e com a direita que o apeou do poder em junho de 2011.
Ontem, num almoço com amigos em Lisboa, Sócrates disparou contra Cavaco, a quem acusou, com o atraso na tomada de uma decisão, de pretender apenas enfraquecer a solução política oferecida por António Costa e pelas esquerdas.
Ao mesmo tempo, imputou a Passos Coelho e Paulo Portas a responsabilidade de, em 2011, terem promovido aquilo que classificou como "golpe" com uma aliança com a extrema-esquerda, isto é, o PCP e o Bloco. Não sei se a intenção de José Sócrates era, com estas afirmações, dar uma mãozinha ao PS, mas, na verdade, desconfio que António Costa teria agradecido o silêncio do seu antigo líder. Na verdade, o ex-primeiro-ministro contribuiu apenas, voluntária ou involuntariamente, para que as hesitações de Cavaco Silva possam continuar a fazer caminho.
Expondo de forma crua as intermitências dos partidos à esquerda do PS, aquilo que Sócrates disse tem apenas uma interpretação e uma leitura: a de que PCP e Bloco de Esquerda não são de fiar e que tão depressa se aliam à direita para derrubar o PS - o tal "golpe" de 2011 - como se juntam aos socialistas com o propósito de impedir a direita de governar. Ou seja, como se não bastassem as fragilidades intrínsecas das "posições conjuntas", ainda é Sócrates quem se encarrega de vir a público enfatizar que, pela natureza de PCP e BE, a solução de governo apresentada pelo líder do PS não é sólida nem duradoura. É verdade que, a este respeito, só o tempo poderá demonstrar quem tem razão.
Mas o facto é que, de cada vez que Sócrates intervém politicamente, prejudica o PS e António Costa. E o ex-primeiro-ministro sabe-o melhor do que ninguém. Aliás, é conhecida a mágoa de Sócrates pelo facto de António Costa se ter demarcado tanto quanto podia do processo judicial que o atingiu. José Sócrates tem todo o direito de intervir política e judicialmente. Mas Costa também tem total legitimidade de pensar que com amigos destes não precisa de inimigos
Editorial
23 DE NOVEMBRO DE 2015
00:01
NUNO SARAIVA
Diário de Notícias
Os termos em que o faz denunciam aquela que é a sua agenda - era a mesma até 21 de novembro de 2014 - de ajuste de contas com o atual Presidente da República e com a direita que o apeou do poder em junho de 2011.
Ontem, num almoço com amigos em Lisboa, Sócrates disparou contra Cavaco, a quem acusou, com o atraso na tomada de uma decisão, de pretender apenas enfraquecer a solução política oferecida por António Costa e pelas esquerdas.
Ao mesmo tempo, imputou a Passos Coelho e Paulo Portas a responsabilidade de, em 2011, terem promovido aquilo que classificou como "golpe" com uma aliança com a extrema-esquerda, isto é, o PCP e o Bloco. Não sei se a intenção de José Sócrates era, com estas afirmações, dar uma mãozinha ao PS, mas, na verdade, desconfio que António Costa teria agradecido o silêncio do seu antigo líder. Na verdade, o ex-primeiro-ministro contribuiu apenas, voluntária ou involuntariamente, para que as hesitações de Cavaco Silva possam continuar a fazer caminho.
Expondo de forma crua as intermitências dos partidos à esquerda do PS, aquilo que Sócrates disse tem apenas uma interpretação e uma leitura: a de que PCP e Bloco de Esquerda não são de fiar e que tão depressa se aliam à direita para derrubar o PS - o tal "golpe" de 2011 - como se juntam aos socialistas com o propósito de impedir a direita de governar. Ou seja, como se não bastassem as fragilidades intrínsecas das "posições conjuntas", ainda é Sócrates quem se encarrega de vir a público enfatizar que, pela natureza de PCP e BE, a solução de governo apresentada pelo líder do PS não é sólida nem duradoura. É verdade que, a este respeito, só o tempo poderá demonstrar quem tem razão.
Mas o facto é que, de cada vez que Sócrates intervém politicamente, prejudica o PS e António Costa. E o ex-primeiro-ministro sabe-o melhor do que ninguém. Aliás, é conhecida a mágoa de Sócrates pelo facto de António Costa se ter demarcado tanto quanto podia do processo judicial que o atingiu. José Sócrates tem todo o direito de intervir política e judicialmente. Mas Costa também tem total legitimidade de pensar que com amigos destes não precisa de inimigos
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