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Dentro ou fora? E se este voto fosse seu?
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Dentro ou fora? E se este voto fosse seu?
Há um ano era a Grécia. Tsipras tentava negociar com a Europa, a Europa não cedeu. Tsipras convocou um referendo e o povo grego disse o que entendia: não dava para ceder mais. Nos bastidores, o ministro das Finanças já preparava a transição para outra moeda. E o que fez Alexis Tsipras? Voltou a negociar, levou para casa (muito) mais medidas restritivas, mudou de ministro das Finanças, reforçou a sua maioria e seguiu em frente. Dentro da Europa. Hoje já participa nas reuniões dos socialistas europeus.
Na próxima quinta-feira esta nossa União Europeia (UE) terá mais um dia decisivo, mais um daqueles que podem mudar as nossas vidas. Verdade que o Reino Unido não tem euro, verdade que aquele reino não sofreu como a Grécia. Mas nada disso explica que nas páginas dos jornais portugueses, no espaço público, não se ouça um só argumento dos que votarão "leave" - sim, sair. Foi por isso que me dediquei nos últimos dias a procurar na imprensa britânica os argumentos contra.
Foi nessa busca que encontrei um questionário preparado pelo Financial Times para o seu leitor. São 18 perguntas, cada uma com três opções de resposta. Mas a cada uma que respondia, tentando pôr-me na pele de um cidadão britânico, mais difícil se tornava a resposta. Ora veja:
- "É ineficiente para as empresas britânicas estarem abrangidas pela regulação europeia, quando a maioria delas exporta para fora da UE." Certo? Errado?
- "Vale a pena abdicar de soberania nacional para obter benefícios económicos." Certo? Errado?
- "A União Europeia está destinada ao colapso, minada pela sua união monetária sem união política e pelas suas políticas face a Espanha, Itália e Portugal." Certo? Errado?
- A União Europeia vai continuar a centralizar decisões, pondo em causa os interesses do país." Certo? Errado?
Ponto prévio: eu não sou apenas europeísta, sou mesmo um federalista. Mas isso não me dispensa de olhar para muitas destas perguntas como se elas me fossem indiferentes. Como se não me obrigassem a pensar antes de responder. Obrigam, mesmo.
Chegado aqui, tenho de lhe falar de um outro artigo que me fez parar. É de Ambrose Evans-Pritchard e foi por ele que acompanhei boa parte da crise da zona euro. O texto dele desta semana no Telegraph é um murro no estômago.
Custa a ler, obriga a pensar. A pensar que é duro viver numa Europa cujas opções têm resultados duvidosos, numa Europa que tem de gerir os interesses de 28 países muito diferentes, numa Europa que passou os últimos 8/9 anos numa dura luta contra várias crises.
Sim, a união da Europa parece já não garantir o extraordinário modo de vida que sentimos noutras décadas. Mas a saída é dura, reconhece o cronista. Custará dinheiro, provavelmente anos de retrocesso. Não travará a imigração (sem outros custos). Não dará necessariamente mais liberdade aos britânicos.
E, no fim de uns dez mil carateres, Ambrose Evans-Pritchard só consegue concluir assim:
"Esta é a minha decisão. Pode ir contra o meu próprio interesse, visto que conto viver parte dos anos que me restam em França. E não desafio ninguém a seguir o mesmo exemplo. Fica mal a qualquer pessoa com mais de 50 anos apelar a um resultado veementemente. Deixem os jovens decidir. É a eles que cabe viver com as consequências."
Tudo isto que vos escrevo serve para o seguinte "alerta amigo": todas as decisões desta União Europeia em que vivemos são difíceis, duras, muitas vezes ambíguas quanto ao nosso próprio destino. E devem obrigar-nos a pensar - nem que seja para sabermos colocar no devido lugar cada frase, eurocética ou euro-otimista, que ouvimos dos políticos portugueses.
A mim, a quem o questionário do FT deu 85% pró-UE, ajudou-me a relativizar muita coisa que ouvi. E reconfortou-me, no fim de tudo, ouvir Gordon Brown defender o "remain" com aquela aula de história que resta na memória a poucos políticos europeus: "A Grã-Bretanha liderou a luta contra o fascismo, criou a convenção dos direitos do homem, liderou a persuasão aos países do Leste para que viessem para a UE. A Grã-Bretanha sempre liderou o caminho quando as coisas estiveram difíceis na Europa - e eu acho que é tempo de ser líder outra vez."
Por mim, oxalá os britânicos liderem, porque nós precisamos deles - seremos europeus mais fortes se tivermos a ajuda deles para a ir mudando. Mas é bom que estejamos conscientes disto: o caminho juntos nem sempre é uma estrada para o paraíso. Nem um caminho de sentido único.
18 DE JUNHO DE 2016
00:04
David Dinis
Diário de Notícias
Na próxima quinta-feira esta nossa União Europeia (UE) terá mais um dia decisivo, mais um daqueles que podem mudar as nossas vidas. Verdade que o Reino Unido não tem euro, verdade que aquele reino não sofreu como a Grécia. Mas nada disso explica que nas páginas dos jornais portugueses, no espaço público, não se ouça um só argumento dos que votarão "leave" - sim, sair. Foi por isso que me dediquei nos últimos dias a procurar na imprensa britânica os argumentos contra.
Foi nessa busca que encontrei um questionário preparado pelo Financial Times para o seu leitor. São 18 perguntas, cada uma com três opções de resposta. Mas a cada uma que respondia, tentando pôr-me na pele de um cidadão britânico, mais difícil se tornava a resposta. Ora veja:
- "É ineficiente para as empresas britânicas estarem abrangidas pela regulação europeia, quando a maioria delas exporta para fora da UE." Certo? Errado?
- "Vale a pena abdicar de soberania nacional para obter benefícios económicos." Certo? Errado?
- "A União Europeia está destinada ao colapso, minada pela sua união monetária sem união política e pelas suas políticas face a Espanha, Itália e Portugal." Certo? Errado?
- A União Europeia vai continuar a centralizar decisões, pondo em causa os interesses do país." Certo? Errado?
Ponto prévio: eu não sou apenas europeísta, sou mesmo um federalista. Mas isso não me dispensa de olhar para muitas destas perguntas como se elas me fossem indiferentes. Como se não me obrigassem a pensar antes de responder. Obrigam, mesmo.
Chegado aqui, tenho de lhe falar de um outro artigo que me fez parar. É de Ambrose Evans-Pritchard e foi por ele que acompanhei boa parte da crise da zona euro. O texto dele desta semana no Telegraph é um murro no estômago.
Custa a ler, obriga a pensar. A pensar que é duro viver numa Europa cujas opções têm resultados duvidosos, numa Europa que tem de gerir os interesses de 28 países muito diferentes, numa Europa que passou os últimos 8/9 anos numa dura luta contra várias crises.
Sim, a união da Europa parece já não garantir o extraordinário modo de vida que sentimos noutras décadas. Mas a saída é dura, reconhece o cronista. Custará dinheiro, provavelmente anos de retrocesso. Não travará a imigração (sem outros custos). Não dará necessariamente mais liberdade aos britânicos.
E, no fim de uns dez mil carateres, Ambrose Evans-Pritchard só consegue concluir assim:
"Esta é a minha decisão. Pode ir contra o meu próprio interesse, visto que conto viver parte dos anos que me restam em França. E não desafio ninguém a seguir o mesmo exemplo. Fica mal a qualquer pessoa com mais de 50 anos apelar a um resultado veementemente. Deixem os jovens decidir. É a eles que cabe viver com as consequências."
Tudo isto que vos escrevo serve para o seguinte "alerta amigo": todas as decisões desta União Europeia em que vivemos são difíceis, duras, muitas vezes ambíguas quanto ao nosso próprio destino. E devem obrigar-nos a pensar - nem que seja para sabermos colocar no devido lugar cada frase, eurocética ou euro-otimista, que ouvimos dos políticos portugueses.
A mim, a quem o questionário do FT deu 85% pró-UE, ajudou-me a relativizar muita coisa que ouvi. E reconfortou-me, no fim de tudo, ouvir Gordon Brown defender o "remain" com aquela aula de história que resta na memória a poucos políticos europeus: "A Grã-Bretanha liderou a luta contra o fascismo, criou a convenção dos direitos do homem, liderou a persuasão aos países do Leste para que viessem para a UE. A Grã-Bretanha sempre liderou o caminho quando as coisas estiveram difíceis na Europa - e eu acho que é tempo de ser líder outra vez."
Por mim, oxalá os britânicos liderem, porque nós precisamos deles - seremos europeus mais fortes se tivermos a ajuda deles para a ir mudando. Mas é bom que estejamos conscientes disto: o caminho juntos nem sempre é uma estrada para o paraíso. Nem um caminho de sentido único.
18 DE JUNHO DE 2016
00:04
David Dinis
Diário de Notícias
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