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Mensagem por Admin Sex Jul 01, 2016 9:47 am

Portugal esteve quatro dias a viver apenas à custa de energia renovável. Poucos serão, ou nenhum mesmo, os países que se podem orgulhar de tal feito.

Uma das áreas em que Portugal se destaca com frequência a nível mundial é nas energias renováveis. Fomos pioneiros na eólica, temos muita hídrica e ainda um enorme potencial para explorar.

Mas há pouco tempo houve uma notícia que superou todas as outras, Portugal esteve quatro dias a viver apenas à custa de energia renovável.

Este acontecimento notável, que surge num contexto em que há cada vez maior consenso sobre as alterações climáticas e a necessidade de transição para um modelo energético diferente, atingiu publicações nos 4 cantos do mundo, dos EUA à Nova Zelândia e publicações tão relevantes quanto o The Guardian ou o The Independent. Poucos serão, ou nenhum mesmo, os países que se podem orgulhar de tal feito. É frequente, acontece 2 ou 3 vezes por ano, vermos notícias sobre Portugal, Dinamarca ou Alemanha, num determinado dia ou momento produzirem mais eletricidade renovável do que o consumo total do país, mas quatro dias é de facto obra.

Os mais atentos saberão que não foi de facto assim (há sempre pelo meio algum carvão, gás natural ou importação de eletricidade), mas o que importa reter é que produzimos ao longo desses dias tanto (ou mais) que aquilo que consumimos em todo o país e, portanto, o que não foi até podia ter sido.

Por tudo isto devemos estar orgulhosos, mas há uma pergunta que assalta a mente de muita gente: “e eu, que é que ganhei com isso?”. Prefiro desde logo pensar em “nós”, os cidadãos, e o que é que ganhamos com isso.

Deixando de lado, para variar, o mais importante, os benefícios ambientais e sociais como o ar mais puro, menos recurso de combustíveis finitos ou menos emissões de carbono, podemos focar nos económicos como a redução da dependência energética nacional ou a criação de emprego no cluster das renováveis. E os lucros?

De acordo com as estatísticas da REN, naqueles quatro dias foram produzidos cerca de 560 gigawatts-hora de eletricidade renovável, que devem ter gerado aos produtores entre 25 e 35 milhões de euros. Portugal é um país com pouca tradição de democracia energética, ou energia comunitária (a Coopérnico é pioneira nesse campo) e portanto os lucros foram para os grandes grupos económicos ou energéticos que detêm a potência instalada renovável em Portugal, a quem não retiro o mérito do investimento pioneiro em projetos que foram altamente inovadores, ainda que de risco bastante controlado.

Mas não tem que ser assim. Apesar de contarmos já com um percurso notável nas renováveis, temos ainda um muito longo caminho a percorrer na inevitável descarbonização da economia. O futuro limpo que todos queremos, do ponto de vista energético, assenta em abundância de eletricidade (renovável, claro!) e, desta vez, os cidadãos tem uma palavra a dizer.

Começando pelas fontes de energia, de todas as renováveis, o sol é aquela que tem maior propensão para a democratização, e não é apenas pelo famoso slogan que diz que “o sol é de todos”. É uma tecnologia completamente escalável, aplicável nas mais diversas geografias nacionais, altamente previsível e com uma rentabilidade muito interessante, seja qual for o tamanho do projeto – desde apenas um painel em autoconsumo no Porto a grandes parques solares no interior do Alentejo.

Mas há outras tendências a marcar este caminho para um futuro mais limpo com participação cidadã. Por um lado somos cada vez mais informados e mais exigentes, com aquilo que consumimos e com o que acontece com os nossos impostos ou com o dinheiro que temos no banco, por outro, a internet veio dar, também nisto, um grande empurrão. Há diversos modelos de negócio a surgirem por meio de inovadoras plataformas que nos permitem ser agentes ativos no sistema energético.

Num mundo em que a tecnologia, desde o armazenamento à eficiência energética ou da redução dos custos dos equipamentos de produção à gestão inteligente dos consumos, evolui continuamente e torna o “futuro” cada vez mais próximo, tudo se alinha para cada vez mais sermos parte ativa do futuro que queremos viver.

Aqueles quatro dias foram espetaculares mas ainda melhor era se fossem 365 e para todos nós, em paridade.

Empreendedor na área das energias renováveis

Nuno Brito Jorge  
1/7/2016, 6:45
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