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Um novo muro de Berlim
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Um novo muro de Berlim
Em Portugal ainda há um centro da vida política, sociológica e económica a apurar. Sem radicalismos. Ainda há quem grite “deixem-nos evoluir”, sem a necessidade de invocar a requentada e balofa dicotomia entre a esquerda e a direita.
A seguir ao 25 de Abril de 1974, Portugal não só descobriu a democracia como os portugueses aprenderam repentinamente a lidar com as ideologias que lhes tinham escondido durante tanto tempo.
Foram momentos épicos em que todos discutiam política e filosofia política como já não se discutia pela Europa fora e como se não houvesse amanhã. Os românticos renasceram e os intelectuais viram florescer em Portugal a dialética esquecida dos anos 60. Era a Revolução de Abril e dos cravos. Foi o momento alto da preponderância da esquerda intelectual, militar e comunista.
O estabelecimento da democracia constitucional e a evolução do sistema político, que ainda haveria de demorar alguns anos a estabilizar, levou a que essa sensação fosse decrescendo. Ao longo dos últimos anos a dicotomia entre esquerda e direita esbateu-se. Não só em Portugal, mas pelo mundo fora. Não significa isto que se tivessem sobreposto ou que desparecessem as diferenças entre aqueles que se arrogam da esquerda e da direita.
Muito contribuiu para este esbatimento a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética – com a consequente glasnost (abertura) e perestroika (reestruturação) e o fim da guerra fria. O sentimento das grandes correntes ideológicas aprofundadas no século XIX e postas em prática durante boa parte do século XX deixaram de fazer sentido.
De igual modo, o facto de em muitos estados se formarem governos transversalmente reclamando-se de esquerda e de direita conduziu a este esboroar de diferenças. Recordo o governo da “Grande coligação” de Gerhard Schroeder na Alemanha dos anos 90 ou o atual governo da CDU/CSU e SPD liderado por Angela Merkel. Ou o entendimento existente entre PPE e PSE para o suporte da atual Comissão Europeia presidida por Jean Claude Juncker.
Apenas alguns regimes mais recentes da América Latina, e já neste século, retomaram muito desta invocação de esquerda, mas sem grande convicção ou aprofundamento real. Estranha-se, por isso, que Portugal se apresente agora como o novo laboratório das ideologias.
A dicotomia esquerda-direita reinstalou-se. Os bons contra os maus. A divisão absoluta como se existisse uma linha que corta a direito e divide inapelavelmente a sociedade portuguesa. Isso não é verdade. Não existe esta linha divisória que põe uns contra os outros. Não existe esta vontade de dividir, de separar, de virar costas ao passado e ilustrar a pretensa pureza e superioridade de uma parte da sociedade sobre a outra parte.
Em Portugal ainda se racionaliza. Pensa-se nos efeitos que esta falsa e nefasta bipolarização e crispação produzem sobre o país no seu todo. Todos têm o direito de pensar e de fazer da forma que entendem mais adequada. Mas aqueles que passeiam a sua superioridade moral e política apenas escondem a sua incapacidade de se definirem pela positiva. E isso nunca os poderá levar longe. Pode é levar o país para longe daquilo que deveria.
António Costa estabelece uma divisão entre os portugueses. Parte de um pressuposto errado que afasta em vez de unir. Dividindo entre esquerda e direita, entre bons e maus, entre puros e ímpios, António Costa arremessa uns contra os outros e desconstrói o futuro.
Em Portugal ainda há um centro da vida política, sociológica e económica a apurar. Sem radicalismos. Ainda há quem grite “deixem-nos evoluir”, sem a necessidade de invocar a requentada e balofa dicotomia entre a esquerda e a direita. Que é cinzenta e ultrapassada.
Recusamos um novo muro de Berlim. Nem cercas nem fortalezas promovem o desenvolvimento. O espírito de sobrevivência de uns e a emergência de poder de outros não traduz as necessidades do todo. Vinte e cinco anos de “glasnost” é experiência suficiente para não querermos novas aventuras que nos conduzam a outro resgate, a novas impossibilidades ou facilidades. Não precisamos de isolamento. Precisamos de respeito, confiança e solidariedade. Isso conquista-se, não se compra.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
António Rodrigues, Advogado
Económico
A seguir ao 25 de Abril de 1974, Portugal não só descobriu a democracia como os portugueses aprenderam repentinamente a lidar com as ideologias que lhes tinham escondido durante tanto tempo.
Foram momentos épicos em que todos discutiam política e filosofia política como já não se discutia pela Europa fora e como se não houvesse amanhã. Os românticos renasceram e os intelectuais viram florescer em Portugal a dialética esquecida dos anos 60. Era a Revolução de Abril e dos cravos. Foi o momento alto da preponderância da esquerda intelectual, militar e comunista.
O estabelecimento da democracia constitucional e a evolução do sistema político, que ainda haveria de demorar alguns anos a estabilizar, levou a que essa sensação fosse decrescendo. Ao longo dos últimos anos a dicotomia entre esquerda e direita esbateu-se. Não só em Portugal, mas pelo mundo fora. Não significa isto que se tivessem sobreposto ou que desparecessem as diferenças entre aqueles que se arrogam da esquerda e da direita.
Muito contribuiu para este esbatimento a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética – com a consequente glasnost (abertura) e perestroika (reestruturação) e o fim da guerra fria. O sentimento das grandes correntes ideológicas aprofundadas no século XIX e postas em prática durante boa parte do século XX deixaram de fazer sentido.
De igual modo, o facto de em muitos estados se formarem governos transversalmente reclamando-se de esquerda e de direita conduziu a este esboroar de diferenças. Recordo o governo da “Grande coligação” de Gerhard Schroeder na Alemanha dos anos 90 ou o atual governo da CDU/CSU e SPD liderado por Angela Merkel. Ou o entendimento existente entre PPE e PSE para o suporte da atual Comissão Europeia presidida por Jean Claude Juncker.
Apenas alguns regimes mais recentes da América Latina, e já neste século, retomaram muito desta invocação de esquerda, mas sem grande convicção ou aprofundamento real. Estranha-se, por isso, que Portugal se apresente agora como o novo laboratório das ideologias.
A dicotomia esquerda-direita reinstalou-se. Os bons contra os maus. A divisão absoluta como se existisse uma linha que corta a direito e divide inapelavelmente a sociedade portuguesa. Isso não é verdade. Não existe esta linha divisória que põe uns contra os outros. Não existe esta vontade de dividir, de separar, de virar costas ao passado e ilustrar a pretensa pureza e superioridade de uma parte da sociedade sobre a outra parte.
Em Portugal ainda se racionaliza. Pensa-se nos efeitos que esta falsa e nefasta bipolarização e crispação produzem sobre o país no seu todo. Todos têm o direito de pensar e de fazer da forma que entendem mais adequada. Mas aqueles que passeiam a sua superioridade moral e política apenas escondem a sua incapacidade de se definirem pela positiva. E isso nunca os poderá levar longe. Pode é levar o país para longe daquilo que deveria.
António Costa estabelece uma divisão entre os portugueses. Parte de um pressuposto errado que afasta em vez de unir. Dividindo entre esquerda e direita, entre bons e maus, entre puros e ímpios, António Costa arremessa uns contra os outros e desconstrói o futuro.
Em Portugal ainda há um centro da vida política, sociológica e económica a apurar. Sem radicalismos. Ainda há quem grite “deixem-nos evoluir”, sem a necessidade de invocar a requentada e balofa dicotomia entre a esquerda e a direita. Que é cinzenta e ultrapassada.
Recusamos um novo muro de Berlim. Nem cercas nem fortalezas promovem o desenvolvimento. O espírito de sobrevivência de uns e a emergência de poder de outros não traduz as necessidades do todo. Vinte e cinco anos de “glasnost” é experiência suficiente para não querermos novas aventuras que nos conduzam a outro resgate, a novas impossibilidades ou facilidades. Não precisamos de isolamento. Precisamos de respeito, confiança e solidariedade. Isso conquista-se, não se compra.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
António Rodrigues, Advogado
Económico
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