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E depois do muro?
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E depois do muro?
Nos últimos dias, os episódios de desespero e violência dos migrantes em Calais têm interrompido a suave tranquilidade deste período de férias.
Nada de novo ou de diferente do que se passa, todos os dias, no Mediterrâneo.
Acontece que, ali, a história já foi contada, apesar de ser terrivelmente mortífera, e acabou por perder gás mediático, como se alguma coisa tivesse sido resolvida, como se algo tivesse mudado. Entre França e Inglaterra, dois dos Estados mais ricos da Europa, a coisa é diferente. Porque não pode ser tratada como uma questão da periferia do continente e porque assusta os franceses mas sobretudo os ingleses, em pânico por ter os pobres e desgraçados a querer entrar à força na sala do banquete.
A resposta dada à mais recente crise foi a do costume e a mais primária de todas: faça-se um muro, reforce-se a segurança, metam câmaras, cães-polícias, toda a Scotland Yard e o James Bond, já agora. Façam o que for preciso, mas não deixem esses maltrapilhos atravessar o canal. Não vai servir de nada. Se não forem estes serão outros, igualmente pobres, igualmente sem rosto, igualmente sem nada a perder.
O problema dos migrantes não tem, para já, solução. Não no curto prazo. O fenómeno existe há anos, mas piorou com a destabilização no norte de África, com a quebra da estrutura institucional de vários Estados e com o advento do Estado Islâmico. A Europa, que alegremente quis fazer o papel de "polícia bom" na Primavera Árabe, não teve a visão necessária para perceber o que isso acarretaria: um compromisso de longo prazo com os países vizinhos do sul. Nem visão nem vontade, diga-se.
Depois de meses e meses de discussão, ninguém se entendeu sobre quem ficaria com quantos migrantes ilegais, e de que tipo. Mais, a resposta europeia às imagens no Mediterrâneo foram de um pragmatismo tão básico que é difícil de acreditar: vamos destruir os barcos que os trazem para as nossas praias. Que morram, enfim, não é nosso assunto. Não venham é morrer para aqui.
A política europeia, nisto como noutros assuntos, é a negação de si própria. Ninguém consegue pensar a cinco, quanto mais a dez anos (veja-se a Grécia, veja-se a Ucrânia). Sem uma política coerente, unificada, solidária e digna dos valores europeus, pouco há a fazer. Infelizmente, não me parece que a Europa tenha capacidade para tal, nesta época de pedidos de mais integração mas em que cada um quer é salvar o próprio pelo e dizer que não é a Grécia.
Eu não tenho a pretensão de ter a solução para esta crise, que é tudo menos simples ou unidimensional. Não há uma única coisa que é preciso fazer, mesmo que soubéssemos que coisa é essa. Mas tenho a certeza que, apesar de ser necessário conter no imediato a torrente, nada disto se resolve com muros. Podemos passar os próximos 20 anos a fazer muros (como o cartoonesco e perigosíssimo Donald Trump defende), que haverá sempre outra forma de entrar, outra forma de fugir.
E quando construirmos o maior muro do mundo, e eles continuarem a chegar?
00:06 h
Tiago Freire
Económico
Nada de novo ou de diferente do que se passa, todos os dias, no Mediterrâneo.
Acontece que, ali, a história já foi contada, apesar de ser terrivelmente mortífera, e acabou por perder gás mediático, como se alguma coisa tivesse sido resolvida, como se algo tivesse mudado. Entre França e Inglaterra, dois dos Estados mais ricos da Europa, a coisa é diferente. Porque não pode ser tratada como uma questão da periferia do continente e porque assusta os franceses mas sobretudo os ingleses, em pânico por ter os pobres e desgraçados a querer entrar à força na sala do banquete.
A resposta dada à mais recente crise foi a do costume e a mais primária de todas: faça-se um muro, reforce-se a segurança, metam câmaras, cães-polícias, toda a Scotland Yard e o James Bond, já agora. Façam o que for preciso, mas não deixem esses maltrapilhos atravessar o canal. Não vai servir de nada. Se não forem estes serão outros, igualmente pobres, igualmente sem rosto, igualmente sem nada a perder.
O problema dos migrantes não tem, para já, solução. Não no curto prazo. O fenómeno existe há anos, mas piorou com a destabilização no norte de África, com a quebra da estrutura institucional de vários Estados e com o advento do Estado Islâmico. A Europa, que alegremente quis fazer o papel de "polícia bom" na Primavera Árabe, não teve a visão necessária para perceber o que isso acarretaria: um compromisso de longo prazo com os países vizinhos do sul. Nem visão nem vontade, diga-se.
Depois de meses e meses de discussão, ninguém se entendeu sobre quem ficaria com quantos migrantes ilegais, e de que tipo. Mais, a resposta europeia às imagens no Mediterrâneo foram de um pragmatismo tão básico que é difícil de acreditar: vamos destruir os barcos que os trazem para as nossas praias. Que morram, enfim, não é nosso assunto. Não venham é morrer para aqui.
A política europeia, nisto como noutros assuntos, é a negação de si própria. Ninguém consegue pensar a cinco, quanto mais a dez anos (veja-se a Grécia, veja-se a Ucrânia). Sem uma política coerente, unificada, solidária e digna dos valores europeus, pouco há a fazer. Infelizmente, não me parece que a Europa tenha capacidade para tal, nesta época de pedidos de mais integração mas em que cada um quer é salvar o próprio pelo e dizer que não é a Grécia.
Eu não tenho a pretensão de ter a solução para esta crise, que é tudo menos simples ou unidimensional. Não há uma única coisa que é preciso fazer, mesmo que soubéssemos que coisa é essa. Mas tenho a certeza que, apesar de ser necessário conter no imediato a torrente, nada disto se resolve com muros. Podemos passar os próximos 20 anos a fazer muros (como o cartoonesco e perigosíssimo Donald Trump defende), que haverá sempre outra forma de entrar, outra forma de fugir.
E quando construirmos o maior muro do mundo, e eles continuarem a chegar?
00:06 h
Tiago Freire
Económico
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