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Há festa na autarquia
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Há festa na autarquia
Um pouco por todo o lado, este é o mês das festividades. No entanto, agosto é agora apenas mais um mês na cadeia ininterrupta de festas e festinhas em que se viciaram alguns dos novos autarcas, sem que isso corresponda à afirmação de uma marca distintiva ou à construção de um legado. Dir-se-ia que tal caudal de festas acresce à despesa, mas não representa qualquer investimento.
No pós-25 de Abril, Portugal fez perpetuar no Poder Local um conjunto de autarcas que se notabilizou através de uma aposta no cimento. Obras públicas, infraestruturas e equipamentos sociais eram o vetor estruturante de uma ação política que, satisfazendo necessidades inadiáveis, frequentemente carecia de planeamento de médio ou longo prazo. E, apesar de muitos bons exemplos, não são raras as cidades e vilas desordenadas, onde se alinham terríficas construções que sugerem um caos urbanístico agora difícil de remendar.
A lei de limitação de mandatos renovou a gestão de vários municípios, fazendo entrar nas câmaras uma geração algo obcecada com a imagem pública. Muitos autarcas ambicionam, acima de tudo, conquistar uma permanente popularidade e instituiu-se que isso se obteria com um alucinante carrossel de festas, sem qualquer ligação entre si. Olhando para certos municípios, ressalta a ideia de que os eventos são ininterruptos. A fórmula é conhecida. Escolhe-se uma temática, ergue-se um palco, convidam-se uns artistas populares e, se possível, alarga-se a promoção com uma transmissão em direto de um canal de TV. Num ano, um concelho pode exibir a festa do pão, dos santos populares, das colheitas, dos reis... sem que nenhuma reúna qualquer idiossincrasia da região e consiga sequer fixar um legado para o futuro. Olhando o país que se declina a partir do Poder Local, ressalta um mapa de festas de tal maneira uniforme que mais parece que somos uma nação vergada à música pimba. Há exceções nesta forma de gerir os municípios. Vejamos dois exemplos.
A norte, Arouca construiu os Passadiços do Paiva. São quase 10 quilómetros de uma estrutura em madeira de pinho tratado, ancorada num maciço rochoso que abre uma via deslumbrante para um paraíso natural. Na segunda-feira, o JN publicava uma reportagem que intitulava "passadiços são mina de ouro para o negócio". O texto reportava uma "invasão de visitantes" que enche restaurantes, casas de turismo, táxis e tuk-tuk. Eis como a Câmara Municipal soube criar no seu concelho uma marca distintiva. De sucesso. Arouca está no mapa do turismo graças a uma ideia aparentemente simples, mas de uma enorme eficácia. Projeta enormemente o concelho, incentiva a economia local e põe centenas de pessoas em contacto com a natureza. Foi investimento, não despesa.
A sul, o concelho de Vila do Bispo criou o Festival de Observação de Aves. Finda a época das praias, já em pleno outono, Sagres abre-se a outro público, o que gosta de estar em contacto com a natureza. Para essas pessoas, que chegam de diversos pontos do país e do estrangeiro, a autarquia prepara anualmente um diversificado programa cuja linha condutora é a passagem das aves que, nas suas rotas migratórias, rumam ao Norte de África. A observação diurna e noturna cruza-se com os cursos de formação, a paisagem, a gastronomia e a cultura, num programa que faz já parte do património imaterial de Sagres. Trata-se, indubitavelmente, de investimento e não de mera despesa.
Eis aqui duas apostas ganhas. Que tiram partido dos ativos endógenos do seu território e, com isso, criam uma outra economia em concelhos que ficam longe dos lugares centrais. Sem grandes campanhas nem necessidades de milhões, estes dois projetos impuseram-se pela sua originalidade e pela qualidade que reúnem. Os passadiços do Paiva e as aves de Sagres são um património local irrepetível. A experiência que esses projetos proporcionam ao visitante é algo de um valor colossal, muito apreciado por aqueles que procuram alternativas à oferta massificada. Deveriam servir de inspiração ao Portugal das festas pimba que alguns municípios ensaiam e que apenas desviam recursos que seriam mais bem empregues em investimentos geradores de um valor que perdura.
*PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO
FELISBELA LOPES*
Hoje às 00:06, atualizado às 00:07
Jornal de Notícias
No pós-25 de Abril, Portugal fez perpetuar no Poder Local um conjunto de autarcas que se notabilizou através de uma aposta no cimento. Obras públicas, infraestruturas e equipamentos sociais eram o vetor estruturante de uma ação política que, satisfazendo necessidades inadiáveis, frequentemente carecia de planeamento de médio ou longo prazo. E, apesar de muitos bons exemplos, não são raras as cidades e vilas desordenadas, onde se alinham terríficas construções que sugerem um caos urbanístico agora difícil de remendar.
A lei de limitação de mandatos renovou a gestão de vários municípios, fazendo entrar nas câmaras uma geração algo obcecada com a imagem pública. Muitos autarcas ambicionam, acima de tudo, conquistar uma permanente popularidade e instituiu-se que isso se obteria com um alucinante carrossel de festas, sem qualquer ligação entre si. Olhando para certos municípios, ressalta a ideia de que os eventos são ininterruptos. A fórmula é conhecida. Escolhe-se uma temática, ergue-se um palco, convidam-se uns artistas populares e, se possível, alarga-se a promoção com uma transmissão em direto de um canal de TV. Num ano, um concelho pode exibir a festa do pão, dos santos populares, das colheitas, dos reis... sem que nenhuma reúna qualquer idiossincrasia da região e consiga sequer fixar um legado para o futuro. Olhando o país que se declina a partir do Poder Local, ressalta um mapa de festas de tal maneira uniforme que mais parece que somos uma nação vergada à música pimba. Há exceções nesta forma de gerir os municípios. Vejamos dois exemplos.
A norte, Arouca construiu os Passadiços do Paiva. São quase 10 quilómetros de uma estrutura em madeira de pinho tratado, ancorada num maciço rochoso que abre uma via deslumbrante para um paraíso natural. Na segunda-feira, o JN publicava uma reportagem que intitulava "passadiços são mina de ouro para o negócio". O texto reportava uma "invasão de visitantes" que enche restaurantes, casas de turismo, táxis e tuk-tuk. Eis como a Câmara Municipal soube criar no seu concelho uma marca distintiva. De sucesso. Arouca está no mapa do turismo graças a uma ideia aparentemente simples, mas de uma enorme eficácia. Projeta enormemente o concelho, incentiva a economia local e põe centenas de pessoas em contacto com a natureza. Foi investimento, não despesa.
A sul, o concelho de Vila do Bispo criou o Festival de Observação de Aves. Finda a época das praias, já em pleno outono, Sagres abre-se a outro público, o que gosta de estar em contacto com a natureza. Para essas pessoas, que chegam de diversos pontos do país e do estrangeiro, a autarquia prepara anualmente um diversificado programa cuja linha condutora é a passagem das aves que, nas suas rotas migratórias, rumam ao Norte de África. A observação diurna e noturna cruza-se com os cursos de formação, a paisagem, a gastronomia e a cultura, num programa que faz já parte do património imaterial de Sagres. Trata-se, indubitavelmente, de investimento e não de mera despesa.
Eis aqui duas apostas ganhas. Que tiram partido dos ativos endógenos do seu território e, com isso, criam uma outra economia em concelhos que ficam longe dos lugares centrais. Sem grandes campanhas nem necessidades de milhões, estes dois projetos impuseram-se pela sua originalidade e pela qualidade que reúnem. Os passadiços do Paiva e as aves de Sagres são um património local irrepetível. A experiência que esses projetos proporcionam ao visitante é algo de um valor colossal, muito apreciado por aqueles que procuram alternativas à oferta massificada. Deveriam servir de inspiração ao Portugal das festas pimba que alguns municípios ensaiam e que apenas desviam recursos que seriam mais bem empregues em investimentos geradores de um valor que perdura.
*PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO
FELISBELA LOPES*
Hoje às 00:06, atualizado às 00:07
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